Um amigo olhou desaprovadoramente para a comida de Andrew Pessin, autor de Filosofia em 60 segundos. “O que foi?”, perguntou-lhe. “Está deliciosa!” “Não está, não”, ele respondeu. Pessin não continuou essa discussão porque não havia nada a argumentar quanto a isso…
Por que não? Porque o gosto das coisas, como diz a sabedoria popular, é relativo.
Tudo varia entre os observadores:
- se dois objetos têm a mesma cor;
- se um ambiente está frio ou quente;
- se alguém é lindo ou não; etc.
Simplesmente, não podemos dizer que a percepção de alguém esteja correta e que a do outro não está. As características percebidas aqui são subjetivas: não no objeto, mas na mente do observador. Beleza, como se diz, está no olho do observador.
Considere a forma e o tamanho de um objeto, por exemplo, uma moeda:
- a moeda na sua mão parece redonda, mas, de outro ângulo, parecerá oval;
- de longe, você a verá como pequena, ao passo que, de perto, parecerá grande.
Em todos esses casos, certa qualidade varia entre os atos de percepção, ao passo que o objeto em si não mudará: é a mesma moeda seja parecendo redonda ou oval, pequena ou grande.
Mas se a qualidade percebida varia enquanto o objeto em si fica igual, então,
a qualidade percebida não pode ser o objeto!
Assim, o que você percebe com respeito ao tamanho e forma também é subjetivo, quer dizer, uma sensação dentro da sua mente.
Mas o argumento de Pessin não para aqui.
O que percebemos são cores, gostos, tamanhos, formas, e objetos não são nada mais do que coleções de cores, gostos, tamanhos e formas.
Se esses últimos são apenas sensações nos observadores, então os objetos são apenas isso.
Ou, para colocar de uma maneira mais direta: não só as coisas que percebemos são sensações na nossa mente.
É que as sensações mentais estão todas ali.
Assim, não existe nenhum objeto físico realmente, existem apenas mentes e suas sensações.
Não é só que a beleza está nos olhos de quem observa, pois até o globo ocular do observador está no olho do observador.
Dessa argumentação de Pessin, pode-se entender a racionalidade da Filosofia Idealista.
Na história da Filosofia Ocidental, a contenda ocorre sempre entre dois polos:
- o dos materialistas, e
- o dos idealistas.
Usando termos de origem inglesa, respectivamente, entre:
- os empiristas, e
- os racionalistas.
O materialismo, isto é, a crença de que não há nada fora da natureza que possa ser apreendido pelos sentidos, logo, de que não há Deus nem ideais, entrou em moda pela primeira vez no século XVIII com o Iluminismo francês.
Reapareceu como reflexo do sucesso da Biologia e da Teoria da Evolução de Darwin na segunda metade do século XIX.
Hoje, na virada do século XX para o XXI, volta pela terceira vez ao auge com os conhecimentos da moderna Neurociência.
Entre essas predominâncias, houve fases nas quais o idealismo reinava absoluto.
Ao contrário do materialismo, ele confia pouco no conhecimento sensorial do mundo e se apoia na força basicamente independente da razão e de suas ideias.
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“De vez em quando Deus me tira a poesia. Eu olho pedra e vejo pedra mesmo.” (Adélia Prado).
“De vez em quando Deus me tira a poesia. Eu olho pedra e vejo pedra mesmo.” (Adélia Prado);
“Uma idéia não tem mais valor que uma metáfora; em geral tem menos.” (Antonio Machado);
E Descartes, que não era essencialmente cartesiano:
“Poderia surpreender que os pensamentos profundos sejam encontrados nos escritos dos poetas e não nos dos filósofos . O motivo é que os poetas se servem do entusiasmo e exploram a força da imagem.” (Descartes, Cogitationes privatae) – A CABEÇA BEM-FEITA, Capítulo 8 pág. 108 – Reforma do Pensamento, Edgar Morin.
Prezado Oswaldo,
a nossa sede em descobrir a verdade é tão grande que estamos extraindo água de pedra, ou melhor dizendo, trocando Deus pelo Nada. Mas por que isso? A verdadeira razão é: como afirmava Sartre, estamos entre o Ser e o Nada!
No passado era: Deus no céu e o homem na terra.
Hoje o cosmos é o céu, o homem está no planeta terra e o Nada envolve tudo.
Abs.