Programa Ciência Sem Fronteiras: Eu Era Feliz… E Sabia!

Mulçumanas no Ocidente

As faculdades americanas atraíram uma onda de estudantes estrangeiros nos últimos anos para ampliar a receita com mensalidades e compensar o corte das contribuições do governo. O influxo de estudantes pagando de duas a três vezes mais o que os alunos locais pagam criou controvérsias com alguns americanos, que se queixaram de que as vagas para estudantes dos EUA diminuíram. Ao mesmo tempo, alguns alunos estrangeiros, principalmente de países muçulmanos, podem enfrentar uma recepção hostil.

Mas essas “galinhas dos ovos de ouro” estão expondo as faculdades a uma série de novos desafios do mundo dos negócios, como flutuações cambiais, os altos e baixos de economias remotas e até a concorrência de sistemas universitários em expansão nos países de origem dos estudantes.

Dos 974.926 estudantes universitários estrangeiros que estavam nos EUA durante o ano acadêmico 2014/15, 86.370 eram da América Latina e do Caribe, 19,4% a mais que no ano anterior, segundo o Instituto de Educação Internacional. Entre eles, 23.675 brasileiros, 2,4% do total de estrangeiros.

A China respondeu por 304.040 alunos, 31% do número total de estrangeiros, mas o país vem construindo uma infraestrutura educacional para manter os estudantes em casa. Já os estudantes da Índia, outra grande fonte de candidatos, permanecem vulneráveis à volatilidade cambial, que pode inviabilizar o plano de estudar nos EUA.

As faculdades americanas se voltaram, então, para o que parecia ser duas outras apostas seguras, a Arábia Saudita e o Brasil, que possuíam programas internacionais para estudantes patrocinados pelo governo.

Rapidamente, a Arábia Saudita tornou-se o quarto principal país de origem de estudantes estrangeiros nos EUA. Mas hoje, devido à queda na receita com o petróleo — os preços da commodity recuaram mais de 50% desde o pico registrado há cerca de dois anos —, o governo saudita reduziu drasticamente seu programa de educação internacional.

E o Brasil, que vive uma crise econômica e política, ainda não decidiu se renovará o programa Ciência Sem Fronteiras.

As mudanças relativamente abruptas expuseram “as estratégias ingênuas das escolas”, diz Rahul Choudaha, diretor-presidente da DrEducation, uma empresa de pesquisa e consultoria na área de educação superior.

“Isto não só vai afetar [as escolas] imediatamente, como vai afetar por um período mais longo”, diz. Segundo ele, as faculdades que dependiam apenas de alguns países devem começar do zero a recrutar estudantes de países alternativos e já competitivos, como Vietnã, México e Jordânia.

O programa de bolsas de estudo do governo saudita, criado há 11 anos, enviou mais de 140 mil estudantes de graduação e pós-graduação para o exterior. A maioria foi para os EUA e muitos frequentaram, antes, cursos de língua inglesa de até 18 meses em escolas americanas.

Após um avanço contínuo de dois dígitos, o crescimento do número de estudantes sauditas nas faculdades e universidades americanas desacelerou dramaticamente, sendo que em algumas escolas o número chegou a cair. Havia 51.723 estudantes sauditas matriculados e=m abril, ante 50.737 no mesmo mês do ano passado, segundo o Programa de Intercâmbio de Estudantes do Departamento de Segurança Nacional dos EUA. Em fevereiro, os gestores das bolsas sauditas tornaram a seleção mais rigorosa.

A Universidade de Cleveland viu as matrículas dos estudantes sauditas saltarem para 577 em 2015, cerca de 3,3% das inscrições totais, ante 79 em 2010. Este ano, eles contribuíram com US$ 7,43 milhões em mensalidades e matrículas, ante o orçamento total de US$ 289,1 milhões da universidade. “Crescemos astronomicamente”, diz Cindy Skaruppa, diretora de serviços de inscrição. Mas as inscrições sauditas para o próximo ano representam 27% do registrado no mesmo período de 2015, diz.

Os brasileiros também foram aos montes para as faculdades americanas, graças a um programa que financiou intercâmbios de um ano para estudantes de ciências e algumas outras disciplinas. O programa Ciência Sem Fronteiras — também conhecido como Programa de Mobilidade Científica do Brasil — levou cerca de 28 mil brasileiros para os EUA entre 2011 e 2015. No site do programa, os últimos aprovados foram para o ano de 2014.

O programa atingiu seu objetivo original de enviar 101 mil estudantes ao exterior, mas, devido à crise que afeta o país, o governo golpista está cogitando uma “reconfiguração” do programa, segundo um porta-voz, “quando e se uma nova fase ocorrer”. O país concedeu apenas 34 novas bolsas para estudantes brasileiros nos EUA este ano, ante 5.745 em 2015.

A Universidade de Nevada, Reno registrou um salto de matrículas de brasileiros. Foram 188 em 2015, ante dez no período acadêmico de 2013-14. Mas, em 2017, esse número deve cair para 15. “Tivemos uma bolha”, diz Susie Askew, diretora de estudantes e acadêmicos internacionais. Os estudantes internacionais pagam cerca de US$ 10.400 por semestre, mais que o triplo do pago pelos americanos.

Chassi

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