Mapa do Ensino Superior no Brasil 2017: UNICAMP no Topo

A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) aparece como a melhor da América Latina em 2017 segundo um dos principais rankings internacionais de universidades, o THE (Times Higher Education).

A instituição superou a USP (Universidade de São Paulo), líder no ano passado –é a primeira vez que ela é ultrapassada por outra entidade brasileira em uma classificação internacional.

A pontuação das duas foi bastante parecida, mas a Universidade Estadual de Campinas se saiu melhor em dois dos cinco indicadores: citações de artigos científicos e transferência de tecnologia.

Além destes dois critérios, são avaliados ainda ensino, pesquisa e perfil internacional. Essas cinco dimensões são compostas pela junção, ao todo, de 13 índices (veja o ranking das 50 melhores ao final).

Em que pese essas colocações nos dois primeiros postos, o teto salarial de R$ 21 mil das universidades estaduais paulistas é um “risco seríssimo” à capacidade das instituições de atrair os melhores profissionais.Quem chega a ser professor já está no topo da pirâmide social.

O teto salarial nas universidades paulistas é o do governador, candidato a fake de “caçador de marajás”, tal como na campanha eleitoral do Collor. Ele o congelou há cinco anos em R$ 21 mil. Líquido, esse teto fica em cerca de R$ 14 mil, abaixo não só do que acontece no setor privado, mas também da perspectiva de carreira das federais [que têm como teto o salário do ministro do STF, de R$ 33 mil] e muito abaixo do que acontece no mundo. Por que um jovem talento escolherá qualquer uma das três universidades paulistas? 

A edição 2017 do THE com foco na América Latina foi divulgado no dia 20 de agosto. Essa é a segunda vez que a publicação, que é britânica, faz o levantamento apenas com instituições de ensino e pesquisa da região.

“Considero fantástico ver duas universidades de qualidade internacional competirem pelo prestígio de ser a principal instituição brasileira no ranking”, afirma Phil Baty, editor dos rankings Times Higher Education, no material de divulgação da publicação. “Estas duas universidades tão diferentes representam a diversidade e a excelência no setor do ensino superior do Brasil.”

Para o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, o reconhecimento é resultado de esforços acumulados. “É resultado de um trabalho que a universidade vem fazendo com relação à pesquisa, internacionalização e inovação. Ficamos contentes”, diz.

“A colocação das três universidades paulistas [incluindo a Unesp, que perdeu uma posição e ficou em 12º] mostram o sucesso do modelo paulista de ensino superior. É importante que a sociedade saiba da importância que a universidade pública e gratuita tem para o desenvolvimento da sociedade.”

As três estaduais contam com autonomia financeira e são financiadas por parcela fixa do ICMS (Impostos sobre Circulação de Mercadoria e Serviços). Desde 2014, enfrentam dificuldades nas contas, com a folha de pagamento consumindo praticamente a totalidade dos repasses.

Knobel afirma que há risco de a crise afetar o desempenho das universidades no futuro, mas a solidez dos projetos trazem segurança. “Temos que lidar com anos de recuperação, mas temos capital humano consolidado que vai permitir passar por esses momentos.” Fundada em 1966, a Unicamp soma 26,9 mil alunos.

Além das duas estaduais, há outras três brasileiras no “top 10”. A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) ficou em 7º lugar, a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em 8º, e a PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), em 9º.

O Brasil figura com 18 instituições entre as 50 mais bem colocadas, o maior grupo entre os países da região. Porém perdeu espaço na lista: em 2016, eram 23 brasileiras. Ao todo, 20 caíram no ranking –muitas até melhoraram suas pontuações, mas ficaram para trás considerando-se o avanço das instituições estrangeiras. Entre as 81 listadas, 32 são brasileiras.

“O Brasil gasta mais em pesquisa e desenvolvimento do que os outros países da região, mas seu investimento é baixo para os padrões internacionais. Apesar do nível alto da produtividade das suas pesquisas, a proporção gasta especificamente com o ensino superior é menor do que a da Argentina, Chile, Colômbia, México e Uruguai. Os salários dos pesquisadores também são muito baixos para os padrões internacionais e estão entre os mais baixos da região”, afirma Phil Baty, do THE.

O Chile desafia a liderança do Brasil com 15 universidades entre as 50 melhores, 11 a mais do que no ano passado. A terceira melhor instituição da América Latina neste ano é a PUC-Chile (Pontifícia Universidade Católica do Chile), seguida da Universidade do Chile.

A Colômbia possui cinco entre as 50 melhores. A Universidade dos Andes subiu cinco posições e aparece agora em 5º lugar.

Questionada na noite de quarta-feira (19), a reitoria da USP não se posicionou sobre a lista até a publicação desta reportagem. Na última edição principal do THE, que leva em conta universidades de todo mundo, a USP ficou em primeiro na América Latina.

A liderança da USP também aparece em outras publicações internacionais, como um outro levantamento da THE sobre reputação acadêmica e nos rankings QS.

A lista completa pode ser vista aqui.

O Semesp lançou o Mapa do Ensino Superior no Brasil 2017. O estudo, elaborado anualmente pela Assessoria Econômica do Semesp com base nos dados divulgados pelo Censo do Ensino Superior no Brasil de 2015, apresenta um panorama completo do setor no país ao longo dos últimos 15 anos, abrangendo todos os estados brasileiros e detalhado por mesorregião.

A taxa de escolarização líquida em 2015, no qual apenas 18,1% dos jovens de 18 a 24 anos estão cursando alguma graduação. Ainda existem muitos jovens fora do ensino superior e as instituições devem ver isso como uma oportunidade de crescimento. Para esse público, há a necessidade de se pensar políticas públicas para induzir o crescimento.

O mapa ainda revelou que das instituições de ensino superior do Brasil 89% são faculdades, 7% Centro Universitários e 4% Universidades.

Ligia Guimarães (Valor, 29/08/17) informa que a crise que começava a se aprofundar em 2015 — ano da voltada Velha Matriz Neoliberal em que a economia encolheu 3,8% –, se refletiu também na queda das matrículas e no aumento da evasão de alunos no ensino superior, indicam dados divulgados ontem pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp). A queda na entrada de novos estudantes ocorreu em todas as modalidades de ensino: público e privado, a distância e presencial.

Dados do Mapa do Ensino Superior no Brasil 2017, calculado anualmente pelo sindicato, apontam que o número de alunos que iniciaram um curso presencial de formação superior nas redes pública e privada caiu 6,7% em 2015 sobre 2014, para 2,2 milhões. De acordo com a série histórica da pesquisa, é a primeira vez que esse número cai, pelo menos, desde 2009. No total, havia 8 milhões de alunos matriculados no ensino superior em 2015: 6,08 milhões na rede privada e 1,95 milhão em instituições públicas.

“A queda no número de novos alunos é reflexo da crise”, afirma Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp. Para ele, o medo do desemprego afasta os jovens da faculdade antes mesmo da demissão. “Ele adia o plano porque alguém ficou desempregado, ou porque tem medo, dado o ambiente que se vislumbra”, diz.

Na rede privada, a entrada de novos alunos caiu 8,4% (eram 1,9 milhão em 2014); na rede pública, o número caiu só 0,1%, para 504 mil. Houve queda expressiva até mesmo nas novas matrículas de cursos a distância, segmento de mensalidades bem mais baratas e que vinha acumulando crescimento significativo nas últimas décadas. Em 2015, o número de ingressantes nos cursos a distância caiu 4,6%. “É o primeiro ano de queda”, destaca Capelato.

Outro sinal de como a crise influenciou o comportamento dos alunos, na visão do executivo, é o aumento no número de jovens que se interessaram pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas não chegaram a realizar as provas. Em 2017, 7,6 milhões de alunos se inscreveram para o Enem, mas apenas 6,1 milhões pagaram a taxa e fizeram o exame. No ano anterior, houve 9,2 milhões inscritos, e 8,6 milhões fizeram o exame. “Historicamente, os percentuais sempre andam colados. Este ano a diferença foi maior”, diz.

O ano de 2015 é o primeiro em que a pesquisa do Semesp reflete as mudanças nas regras do Financiamento Estudantil do Governo Federal (Fies), que foi reformulado em 2014. De 2010 a 2014, o número de contratos firmados no programa cresceu 862%, para quase 733 mil em 2014. Após as mudanças houve queda de 61% nos contratos, chegando a 287 mil em 2015. Em 2017, a estimativa do Semesp é que haja 193 mil contratos do Fies.

Apesar da queda na oferta, a proporção de beneficiários que tinham Fies, ou Programa Universidade para Todos (ProUni), continuou a crescer em 2015. Os beneficiados pelas duas políticas públicas representavam 37%, ou 1,7 milhão, do total de matrículas presenciais da rede privada em 2015. Em 2012, eram 19%, calcula o Semesp.

“Naquele ano não havia ninguém se formando no Fies. Então, mesmo a oferta caindo muito, as redes só acumularam contratos até 2015”, explica Capelato. O maior percentual de alunos do Fies matriculados no país em 2015 estava na região Nordeste (30,2%), seguida de Centro-Oeste (28,5%) e Sudeste (20,5%).

A evasão escolar no ensino superior, calculada com base nos alunos desistentes em relação ao total de alunos matriculados, também cresceu em 2015. A taxa de alunos que desistiram do curso antes da formatura subiu para 28,6% na rede privada, ante 27,9% em 2014. Em 2010, era de 23,9%. Na rede pública, o índice de abandono teve leve alta, de 18,3% para 18,4%.

A evasão aumentou também nos cursos a distância, para 34,2% na rede privada (ante 32,5% em 2014 e 29,2% em 2011) e 28,7% na pública (ante 26,8% em 2014 e 18,9% em 2011).

O Semesp prevê que os números de acesso ao ensino superior continuarão a piorar nos próximos anos. Capelato destaca o aumento da inadimplência nas mensalidades: o indicador da inadimplência com mais de 90 dias de atraso, que era de 10% em 2009, caiu ano a ano até 7,8% em 2014, e deve chegar a 9,2% em 2017, prevê.

Enquanto isso, o Editorial da Folha de S.Paulo critica as Universidades Estaduais Paulistas, os centros de excelência no Ensino Superior!

“A situação financeira das universidades estaduais paulistas se mostra dramática. Mas qual instituição pública não se encontra em tal condição num Brasil atolado na crise que se seguiu à irresponsabilidade orçamentária e à profunda recessão dela decorrente?

Não a Unicamp, decerto. Com 101,5% de R$ 1,9 bilhão recebido pela universidade em 2016 (a parcela a que faz jus da arrecadação do ICMS) comprometidos com a folha de pagamento, nenhuma organização pode considerar sustentáveis as próprias contas.

Tampouco a USP (com 105% de comprometimento) ou a Unesp (101%). E é manifesto que tamanho descompasso entre receita e despesa se deve em parte à queda da arrecadação motivada pela crise econômica —mas não só a ela.

No entanto, o reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, parece entender que a única solução para o aperto que escolheu administrar está no aumento dos recursos repassados pelo Tesouro estadual às instituições de ensino superior.

Em entrevista publicada pela Folha nesta segunda (29), o físico defendeu elevar o teto salarial das três universidades, fixado pelos proventos do governador (R$ 21 mil mensais). Obviamente, isso implica aumentar ainda mais o dispêndio com pessoal.

A própria reitoria projeta um deficit de R$ 200 milhões neste ano.

O reitor alega que USP, Unicamp e Unesp aumentaram muito a oferta de vagas nos anos 2000, com a promessa de recursos adicionais —que nunca vieram. Diz que o hospital da universidade consome R$ 308 milhões do orçamento sem contrapartida equivalente do SUS.

Tais argumentos nada mudam na realidade insofismável: não há espaço para expandir o gasto com as universidades, que afinal já contam com um percentual fixo da arrecadação para se manter. Aumentar-lhes a dotação equivaleria a cortar recursos de outras áreas.

Knobel afirma que não planeja demitir ninguém, provável alusão ao programa da USP de incentivo a demissões voluntárias, lançado ainda em 2014. Declara-se contrário a cobrar mensalidades de estudantes que possam pagar por elas.

Não se questiona a importância nem o serviço prestado pelas três universidades estaduais a São Paulo e ao país. Mas elas só sairão do drama atual se demonstrarem um pouco mais de realismo e criatividade para buscar soluções.”

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