Rolf Dobelli, no livro “A arte de pensar claramente”, diz que um dos mais frequentes erros de pensamento ocorre quando a pretensão e o resultado de sua ação não se ajustam. Você pode mitigar essa discrepância (dissonância) desagradável de três maneiras:
- continuar tentando alcançar a meta de alguma forma;
- admitir que não tem capacidade suficiente para isso;
- reinterpretar posteriormente alguma coisa.
Neste último caso, fala-se de dissonância cognitiva ou de sua solução.
Um exemplo simples. Você comprou um novo automóvel. Em pouco tempo, arrepende-se da escolha. O motor é barulhento e os assentos são desconfortáveis. O que fazer? Você não devolve o carro — não, isso seria confessar que cometeu um erro, e provavelmente o vendedor não o aceitaria sem a redução de preço. Então, você se convence de que, afinal de contas, um motor barulhento e assentos desconfortáveis são bem apropriados para impedir que você adormeça ao volante — ou seja, de que você comprou um carro bastante seguro. Até que não foi mau negócio, você comete o autoengano, e volta a ficar satisfeito com sua escolha.
Suponhamos que você tenha se candidatado a um cargo, mas foi preterido em prol de outro candidato. Em vez de admitir que não tem qualificação suficiente, se convence de que, no fundo, nunca quis o cargo. Só queria testar de novo seu “valor de mercado”, ver se ainda o convocariam para entrevistas de trabalho.
Reage de maneira bastante semelhante o investidor quando tem de escolher entre duas ações. Aquela que acaba comprando perde claramente valor logo em seguida, enquanto a outra sofre forte valorização. Desconsiderando o custo de oportunidade, não consegue admitir o erro. Ao contrário, tenta seriamente acreditar que, embora a ação estivesse oscilando um pouco, tinha “mais potencial” do que a outra. Isso é uma ilusão irracional em alto grau, que só pode ser explicada pela dissonância cognitiva.
De fato, o “potencial” teria crescido ainda mais se ele tivesse esperado para comprar e passado o tempo até então com a outra ação, que tinha um bom desempenho.
Em discurso meritocrático em um país patrimonialista ocorre a todo a dissonancia cognitiva.