Social-democratas do PSDB: Voto contra o Autoritarismo

O primeiro dos muitos problemas do Partido da Social Democracia Brasileira foi a desistência do eleitorado popular, tornando-se um partido apenas da classe média, sem votos nas regiões mais pobres do Brasil. O golpismo instalado logo após a eleição de 2014 levou ao impeachment de Dilma Rousseff.

Seus velhos líderes fundadores passaram a ser rejeitados internamente. Uma nova geração de políticos de direita do PSDB, como João Dória, deram a facada final no partido, diz o historiador Lincoln Secco, professor de História Contemporânea na Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro História do PT (Ateliê Editorial).

O site português Publico  o entrevistou.

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Brasil em Movimento: História do Futuro em Construção

Maria Borba, Natasha Felizi e João Paulo Reys, no livro “Brasil em movimento – Junho de 2013”, entrevistaram Daniel Aarão Reis. Ele não concorda com a ideia de “traços estruturais” que se mantêm ao longo de tantos séculos. Pode fazer a história parecer congelada, e a história, como disse antes, é sempre mudança, variação.

Feita a ressalva, o passado precisa ser considerado, porque há aspectos que, modificando-se, adaptando-se e transformando-se, marcam especificidades. A perspectiva do “saque” [extrativismo], de sugar tudo que se possa no mínimo tempo possível, foi construída no mundo colonial e, mesmo modificada, é uma característica do capitalismo brasileiro que se estende por toda a sociedade, tendo implicações nas concepções de “público” e de “privado”.

A noção de hierarquia também vem entranhada desde remotos tempos. Para os “de baixo”, a Lei e o Pau. Para os “de cima”, embargos infringentes. A “aristocratização” de nossas elites dominantes− do mundo dos negócios ao mundo político − é outra expressão atual de um processo histórico que tem fundamentos coloniais.

A crueldade com que se tratam os “não cidadãos” [párias] − embora já tenha sido consagrada juridicamente a ideia de que “todos são iguais perante a lei” − é também outra característica relevante e naturalizada. Basta ver como se tortura alegremente nas cadeias deste vasto país. E, pior, como ainda se admite a tortura como “recurso”− uma concepção que perpassa diferentes classes, do topo à base da escala social.

A partir da proclamação da República, e sobretudo desde a ditadura varguista do Estado Novo, estruturou-se também uma tendência de “pacto entre elites” às custas das camadas populares que se desdobra com notável incidência. Continuar a ler

Todos Contra Todos: O Ódio Nosso de Cada Dia

Leandro Karnal, no livro “Todos contra todos: O ódio nosso de cada dia”, diz ter havido uma regra desde o golpismo instalado após a reeleição da Dilma: “Não apenas me oponho a você, mas você é o obstáculo para o progresso brasileiro.” Ou: “O Brasil seria um bom lugar se você não existisse.” Daí cresce o ódio diante das mazelas políticas, porque se interpreta tudo de ruim a ocorrer no Brasil nascer do outro.

Em determinado momento do processo de golpe contra a Dilma, Karnal disse nas redes sociais e em palestras: “ele seria a pessoa mais feliz do momento se acreditasse a corrupção no Brasil estar ligada, exclusivamente, a uma pessoa ou a um partido”. Algo tão óbvio poderia ser considerado uma platitude. No entanto, foi atacado por centenas de pessoas, acusando-lhe de ser pró-governo Dilma e um petista.

Caiu o governo do PT, subiu o grupo oposto, e as denúncias de corrupção continuaram. É evidente a corrupção não ter terminado com o rito aparentemente legal do impeachment. Apesar de todos os governos terem casos de corrupção – Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer – Karnal estava dizendo os atos corruptos, denúncias e escândalos não se restringirem a um partido, ainda se, eventualmente, um ou outro partido se destacassem em dado momento.

Mas a corrupção é institucional e endêmica. Portanto, não seria a solução a queda de uma pessoa para resolver o problema da corrupção. Continuar a ler

Argumentar e Escrever

Antônio Suarez Abreu, no livro “A Arte de Argumentar – Gerenciando Razão e Emoção”, indica: argumentar não é tentar provar o tempo todo que temos razão, impondo nossa vontade. Aqueles que agem assim não passam de pessoas irritantes e quase sempre mal-educadas.

Argumentar é, em primeiro lugar, convencer, ou seja, vencer junto com o outro, caminhando ao seu lado, utilizando, com ética, as técnicas argumentativas, para remover os obstáculos que impedem o consenso.

Argumentar é também saber persuadir, preocupar-se em ver o outro por inteiro, ouvi-lo, entender suas necessidades, sensibilizar-se com seus sonhos e emoções. A maior parte das pessoas, neste mundo, só é capaz de pensar em si mesma. Por isso, o indivíduo que procura pensar no outro, investir em sua autoestima, praticamente não enfrenta concorrência.

Argumentar é motivar o outro a fazer o que queremos, mas deixando que ele faça isso com autonomia, sabendo que suas ações são frutos de sua própria escolha. Afinal, as pessoas não são máquinas esperando ser programadas.

Persuadir é ter certeza de que o outro também ganha com aquilo que ganhamos. É saber falar menos de si e do que se quer, e mais do outro e do que é importante para ele.

Argumentar é também saber dosar, “na medida certa”, o trabalho com ideias e emoções. A “medida certa” é gastar mais tempo em persuadir do que em convencer. Uma boa proporção é utilizar trinta por cento do tempo convencendo e setenta por cento persuadindo.

É preciso o educador, em primeiro lugar, ouvir os alunos, conhecer suas histórias pessoais, seus desejos e sonhos, procurando saber o que os está motivando intrinsecamente. O que as crianças querem é respeito, atenção, ver sentido naquilo que estão aprendendo. O que elas não querem é ser vigiadas e controladas como se fossem vagabundos ou delinquentes em potencial.

Afinal, educadores devem procurar mostrar às crianças um mundo mais livre, mais atraente e humano – e não se aliar à repressão doméstica de muitos pais. Por mais absurdo que pareça, as maiores violências contra as crianças são cometidas pelos próprios pais. Violência de toda ordem: física, moral, sexual etc.

Outra tarefa dos educadores é ensinar a ler e escrever. Estimulados, os alunos deverão sentir o prazer da criação – e se desenvolverão por conta própria. Continuar a ler