Desindustrialização do Emprego

Dani Rodrik, professor de Economia Política Internacional na Escola de Governo John F. Kennedy da Universidade de Harvard, é presidente da AssociaçãoEconômica Internacional e autor de “Straight Talk on Trade: Ideas for a Sane World Economy”. Compartilho abaixo seu artigo (Valor, 19/04/24).

Os Estados Unidos estão numa onda de produção de semicondutores. No início de abril, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) anunciou planos para estabelecer uma terceira unidade no Arizona para fabricar os chips mais avançados do mundo, aumentando seu investimento no Estado para US$ 65 bilhões. O investimento da TSMC é fortemente subsidiado pelo governo dos EUA pelo CHIPS and Science Act. A empresa receberá US $ 6,6 bilhões em subsídios e está elegível para US$ 5 bilhões em empréstimos. Também pode reivindicar crédito fiscal de investimento de até 25% de suas despesas de capital.

Esta notícia segue o recente anúncio da Intel de que receberá uma doação ainda maior de US$ 8,5 bilhões do governo dos EUA (juntamente com US$ 11 bilhões em empréstimos em “generosas condições”). A Lei CHIPS destinou US $39 bilhões para essas subvenções e acordos adicionais estão em preparação. De acordo com a Casa Branca, apenas nos últimos dois anos, quase US$ 300 bilhões em investimentos industriais foram comprometidos nos EUA.

O presidente Joe Biden vê esses acordos como prova de um renascimento da indústria nos EUA. “Onde é que está escrito que não seremos a capital industrial do mundo novamente?”, pergunta ele. Seu governo pode não ter muito em comum com a anterior Casa Branca de Trump, mas certamente partilha uma preocupação com a revitalização da indústria.

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Queda de ‘spreads’ de Crédito Privado: Bancos lançadores com “Garantia Firme” encarteiram as Debêntures

Depois da forte redução no prêmio pago pelos emissores de debêntures aos investidores em fevereiro, o movimento começou a perder fôlego em março e abril, segundo gestores de recursos. O prêmio, ou “spread”, é a diferença entre as taxas pagas pelos papéis corporativos e os rendimentos equivalentes das NTN-Bs ou do CDI. Os gestores afirmam que há uma espécie de “queda de braço” com os bancos coordenadores das operações para não referendar as captações que saem com custo equivalente ao da NTN-B.

“Esse posicionamento é importante e aponta para um mercado mais maduro e que indica preservar, no momento atual, uma relação equilibrada de risco e retorno”.

“Não estamos vendo demanda dos fundos para novas emissões que não estão pagando prêmio acima da NTN-B.” O estoque estava em 40 pontos-base acima da NTN-B e agora a asset vem comprando a algo em torno de 30 pontos.

O movimento evita um problema oposto ao do ano passado, quando, no pós-Americanas e Light, os fundos tiveram cota negativa na marcação a mercado, levando a uma onda de saques. Os resgates obrigaram os gestores a se desfazerem dos papéis que tinham em carteira a qualquer preço, derrubando ainda mais os valores de compra e venda, e elevando os spreads, num círculo vicioso.

Sem essa demanda, os bancos coordenadores têm assimilado uma parcela maior das operações. Em janeiro e fevereiro, por exemplo, 65% e 74% dos papéis foram distribuídos a mercado, respectivamente, enquanto em março a fatia caiu a 57%, segundo relatório da área de pesquisa do banco ABC Brasil. No mês, as emissões atingiram R$ 60,5 bilhões, segunda melhor marca da série histórica da instituição. Em abril, as previsões são de que essa fatia continue encolhendo.

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IBGE-PNADC 2023 – Rendimentos

  • Destaques:
  • Em 2023, a massa de rendimento mensal domiciliar per capita atingiu o maior valor da série histórica do módulo Rendimento de todas as fontes, da PNAD Contínua, iniciada em 2012: R$ 398,3 bilhões. O aumento foi de 12,2% ante 2022. Em relação a 2019, a expansão foi de 9,1%.
  • O rendimento médio mensal real domiciliar per capita também chegou ao maior valor da série histórica da pesquisa: R$ 1.848, com alta de 11,5% ante 2022. Em relação a 2019 (R$ 1.744), ano que anteriormente havia registrado o valor máximo da série histórica, a elevação foi de 6,0%.
  • O rendimento de todas as fontes, considerando a população residente com rendimento, aumentou 7,5% em relação a 2022, atingindo R$ 2.846 e, com isso, se aproximando do valor máximo da série histórica (R$ 2.850), registrado em 2014. Já o rendimento médio de outras fontes, diferentes do trabalho, cresceu 6,1%, chegando a R$1.837, um recorde da série histórica.
  • Outro recorde da série foi a proporção da população com rendimento habitualmente recebido do trabalho, que passou de 44,5% (ou 95,2 milhões de pessoas) em 2022 para 46,0% (ou 99,2 milhões) em 2023. O percentual mais baixo desse indicador ocorreu em 2020 (40,1% ou 84,7 milhões), ainda sob influência da pandemia.
  • A proporção de domicílios do país com algum beneficiário do programa Bolsa-Família saltou de 16,9% em 2022 para 19,0% em 2023, ao passo que em 2019 eram 14,3%. Entre 2019 e 2023, enquanto o rendimento per capita do grupo de domicílios que recebiam o Bolsa Família cresceu 42,4% (de R$ 446 para R$ 635), entre aqueles que não recebiam o benefício a variação foi de 8,6% (de R$ 2.051 para R$ 2.227).
  • O 1% da população do país com maior rendimento domiciliar tinha um rendimento médio equivalente a 39,2 vezes o rendimento dos 40% da população de menor renda. Em 2023, apesar do aumento do rendimento médio domiciliar per capita em todos os estratos, a desigualdade permaneceu acentuada no país.
  • O índice de Gini do rendimento mensal real domiciliar per capita manteve-se em 0,518, o menor da série histórica e o mesmo valor de 2022. O Gini mais alto da série (0,545) ocorreu em 2018. Esse indicador mede a concentração de renda e varia de 0 (máxima igualdade) a 1 (máxima desigualdade).
Expansão de programas sociais e aumento da população ocupada influenciaram recordes do rendimento – Fonte: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

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X X Starlink: Execráveis como Musk!

A Starlink, rede de internet via satélite de Elon Musk, ainda não tem uma operação lucrativa, ao contrário do dito pelo empresário.

Isto foi publicado pela Bloomberg, citando pessoas que estão familiarizadas com os dados financeiros da SpaceX. A startup mais valiosa do mundo, avaliada em US$ 180 bilhões (R$ 913 bilhões), usa seus satélites para fornecer o serviço de internet.

Entenda: a Starlink é considerada como o braço da SpaceX que tornará possível os outros projetos da empresa – entre eles, o de missões espaciais e o de colonizar Marte.

Muito do seu sucesso está ligado à oferta de internet de alta velocidade em regiões remotas, que têm pouco acesso a fibra óptica ou cabo. No Brasil, a empresa quase triplicou em um ano e meio.

  • O serviço é abastecido por uma rede de mais de 5 mil satélites que formam uma espécie de constelação a uma altitude de 500 a 1.500 km da Terra.

↳ O problema, segundo a Bloomberg, é que a Starlink muitas vezes exclui o alto custo de enviar seus satélites ao espaço para tornar seus números, que não são públicos, mais atraentes para os investidores.

Um dos obstáculos para a geração de lucro está no tipo de cliente.

  • A Starlink tentou expandir sua atuação no mercado corporativo a partir das companhias aéreas, que hoje são clientes da Viasat.
  • Mas quando foi fazer um teste em um voo da Delta Airlines, o serviço não funcionou enquanto o avião estava a mais de 30.000 pés sobre Chicago, segundo a Bloomberg.
  • A SpaceX até chegou a desligar a internet para alguns clientes pagantes na cidade e fez a internet chegar à cabine do avião, mas isso não foi suficiente para conseguir um contrato com a Delta.

Em números:

  • 2,6 milhões de clientes a Starlink tem no mundo;
  • US$ 15 bilhões (R$ 76 bilhões) é a projeção de receita da SpaceX para este ano, mais que o triplo de 2023 (US$ 4,7 bilhões), segundo a Bloomberg.

Apenas uma das quatro ações dos grandes bancos brasileiros ganha do CDI em mais de cinco anos

Michael Viriato (FSP, 12/04/24) analisa sobre um tema a ser explorado na minha próxima aula: relação renda fixa / renda variável no Brasil.

Quando se fala em viver de renda com dividendos e em ações pagadoras de dividendos, logo vem a mente o nome dos grandes bancos brasileiros. Os quatro maiores bancos nacionais ganharam fama pela frequência e montante de dividendos pagos. Entretanto, nos últimos cinco anos, eles viveram só da fama, pois retorno que é bom, os acionistas não estão vendo.

Empresas pagadoras de dividendos são usualmente aquelas de setores maduros e sem grandes oportunidades de crescimento. A maturidade da empresa proporciona a geração de caixa. Já a ausência de oportunidades de investimentos permite que a destinação deste caixa seja direcionada aos acionistas ao invés de crescimento futuro. Logo, os dividendos destas empresas são maiores.

Setores que se enquadram nestas características são setores de concessões públicas, como energia elétrica, saneamento e rodovias, mas também o setor de bancos.

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Grandes Fundos de Investimento Internacionais: Alocação de Capital na Economia Global

Artigo de Marcos de Vasconcelos (FSP, 14/04/24) é útil para meu relatório de pesquisa sobre Alocação da Riqueza na Economia Global. Compartilho-o abaixo apesar de seu viés ideológico revelado de início, denominando de “governo petista” um governo de Frente Ampla.

“O governo petista acaba de ganhar mais munição para brigar por mudanças na direção da Vale. Dois gigantes internacionais decidiram, na última semana, rebaixar suas recomendações em relação às ações da empresa: Bank of America (BofA) e UBS.

Ambos os bancos recomendavam a compra dos papéis VALE3, mas, nos últimos dias, ajustaram os ponteiros para “neutro”, o que significa que não veem mais boas chances de crescimento.

Esses relatórios são o tipo de coisa que chega nas mãos de quem realmente muda o preço de ações de gigantes como a mineradora —e a pontuação do Ibovespa—: grandes fundos de investimento internacionais.

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O que é polywork: Fenômeno da Geração Z

O polywork é uma tendência em alta entre a geração z: trabalhar em dois empregos simultaneamente. De acordo com dados mais recentes da PNAD Contínua do terceiro trimestre de 2023, obtidos pelo Valor (12/04/24), 544.691 brasileiros de 14 a 29 anos declararam ter 2 empregos e 27.907 possuíam 3 ou mais ocupações. Os dados são relacionados a ocupações formais e informais.

Os motivos principais para que os jovens estejam aderindo ao fenômeno estão ligados à própria necessidade de obter mais renda. “O mercado de trabalho está mais limitado em questões salariais, principalmente, no início da carreira, que é a fase em que o polywork está mais tendencioso a acontecer. Por uma necessidade de melhorar salário e rendimentos para começar a vida profissional, eles [geração z] acabam aderindo a esse formato de trabalho”, explica Martins.

O conceito do polywork é aproveitar as habilidades que o profissional tem para poder desenvolver trabalhos múltiplos em projetos diferentes e em diferentes empresas.

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População nativa do Japão diminui a quase 100 pessoas por hora

FINANCIAL TIMES

A população nativa do Japão está diminuindo a uma taxa de quase 100 pessoas por hora, apesar dos esforços intensificados pelo governo para aumentar a baixa taxa de fecundidade do país.

De acordo com dados oficiais, o número de japoneses diminuiu pelo maior volume no período de um ano desde que registros comparáveis começaram a ser feitos em 1950: uma queda de 837 mil pessoas nos 12 meses anteriores a 1º de outubro de 2023.

Essa queda representa uma redução diária média de 2.293 pessoas, ou pouco menos de 96 por hora.

O mesmo relatório, publicado pelo Ministério dos Assuntos Internos e Comunicações, mostrou que a população total do Japão era de 124,3 milhões em outubro de 2023 —a redução é de 595 mil em relação ao ano anterior e após ajuste com níveis constantemente crescentes de trabalhadores imigrantes, estudantes estrangeiros e residentes permanentes estrangeiros.

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Baixo Investimento no Brasil diante o Resto do Mundo

Lucianne Carneiro (Valor, 10/04/24) informa: a taxa de investimento do Brasil em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) era, em 2022, inferior a nada menos que a de seis diferentes medidas de comparação internacional. O percentual de 17,8% do Brasil era menor que os 26,2% da média mundial, 22,8% do mundo sem incluir a China, 33,7% do grupo de países com renda média superior (os chamados UMICs), 21,7% dos UMICs sem Brasil e sem China, 22,5% das nações de renda alta e dos 21,5% da média da América Latina sem Brasil. E a taxa de investimentos caiu ainda mais em 2023, para 16,5% do PIB.

O retrato da situação dos investimentos no Brasil frente ao contexto mundial é de estudo do economista sênior da LCA Consultores Francisco Pessoa Faria, publicado no blog do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).

Se a distância entre a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) no Brasil e em outros países é mais debatida, o trabalho traz um recorte adicional, que pouco é tratado nas comparações internacionais da taxa de investimentos: o dos grupos de ativos fixos (construção; máquinas e equipamentos e outros).

A taxa de investimento em construção no Brasil, na média entre 2010 e 2021, era de 8,9% do PIB no Brasil, abaixo dos 9,9% nos países de renda per capita alta e dos 13,9% nos países de renda per capita média alta.

Quando se considera a rubrica de máquinas e equipamentos, no entanto, a taxa no Brasil era de 6,8%, acima dos 6,3% dos países de renda alta e abaixo dos 8,6% dos de renda média alta.

No grupo outros – em que aparecem produtos de propriedade intelectual, como pesquisa e desenvolvimento de softwares -, o investimento no Brasil corresponde a 2,3% do PIB, menos da metade dos 4,9% dos países de renda alta.

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Liderança em Exportações de 10 Produtos do Agro em 2023

O ano passado foi tão favorável ao agronegócio brasileiro no comércio exterior que o país assumiu a liderança mundial de exportações de mais dois produtos agrícolas. Agora são dez.

Foram acrescentados à lista milho e farelo de soja. Com relação ao milho, o Brasil ocupa o lugar dos Estados Unidos. No caso do farelo, preenche a liderança deixada pela Argentina, país que sofreu forte influência do clima no ano passado.

Além dos novos produtos, o Brasil liderou, em 2023, as exportações mundiais de soja, açúcar, café, suco de laranja, carne bovina, carne de frango, tabaco e celulose.

Apesar da queda média dos preços internacionais das commodities, o agronegócio brasileiro atingiu o recorde mundial de US$ 167 bilhões em exportações no ano passado, 5% a mais do que em 2022.

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Inteligência Artificial e Mobilidade Social

Steve Lohr (THE NEW YORK TIMES apud FSP, 05/04/24) publicou a reportagem abaixo.

David Autor é um improvável otimista em relação à inteligência artificial. O economista do trabalho do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) é mais conhecido por seus estudos detalhados mostrando o quanto a tecnologia e o comércio erodiram os rendimentos de milhões de trabalhadores dos Estados Unidos ao longo dos anos.

Mas, desta vez, Autor defende que a nova onda tecnológica —a IA generativa, que pode produzir imagens e vídeos hiper-realistas e imitar convincentemente vozes e textos humanos— pode reverter essa tendência.

“Se usada corretamente, a IA pode ajudar a restaurar, no mercado de trabalho dos EUA, as vagas de nível médio e a classe média que foram esvaziadas pela automação e globalização”, escreveu Autor em um artigo publicado na revista Noema em fevereiro.

A opinião de Autor sobre a IA parece uma mudança impressionante para um especialista de longa data sobre os efeitos da tecnologia no mercado de trabalho. Mas ele disse que os fatos e sua forma de pensar mudaram.

A IA moderna, disse, é uma tecnologia fundamentalmente diferente, abrindo portas para novas possibilidades.

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