Concentração Bancária: Escolha Prudente de Bancos Grandes Demais para Quebrar

As quatro maiores instituições do Sistema Financeiro Nacional (SFN) concentraram 57,8% das operações de crédito em 2023. O número é menor do que os 58,6% registrados em 2022 e 58,9% de 2021. Os dados foram divulgados pelo Banco Central (BC) no Relatório de Economia Bancária (REB).

De modo geral, a concentração no SFN vem diminuindo nos últimos anos. A concentração dos depósitos totais nas quatro maiores instituições passou de 58,4% em 2022 para 57,9% no ano passado. Já a de ativos totais passou de 56% em 2022 para 55,3% em 2023.

O relatório aponta que a concentração diminuiu em todos os agregados — ativos totais, depósitos totais e operações de crédito — e “envolveu o aumento da participação das cooperativas de crédito e das instituições não bancárias, e ocorreu na maioria dos mercados relevantes de crédito”.

O diretor de organização do sistema financeiro e resolução do BC, Renato Dias de Brito Gomes, ressaltou a melhora nos índices de concentração e disse acreditar que essa movimentação reflete, em parte, o sucesso da agenda pró-competição do BC que está sendo implementada “há mais de uma década”.

Gomes ainda destacou que houve decréscimo da participação do segmento bancário em todos os agregados e crescimento do segmento cooperativo, “notadamente a partir dos produtos de cheque especial e de capital de giro para empresas”.

No mercado de crédito, o diretor destacou uma “queda acentuada” na concentração nas operações com recebíveis. “Outra coisa a destacar é que existem mais instituições oferecendo capital de giro, bem como crédito sem consignação e também cheque especial”.

O grupo das quatro maiores instituições é formado por Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal, Itaú e Bradesco. Desde 2021, o BC passou a usar o critério das quatro maiores instituições para fazer as medições de concentração e não das cinco, como era feito anteriormente. Gomes explicou que a mudança foi feita porque é uma prática internacional e facilita a comparabilidade.

O relatório também apontou que os bancos públicos foram os mais rentáveis em 2023 pelo segundo ano consecutivo. Segundo o documento, o nível de rentabilidade está associado ao tamanho da instituição, então as grandes instituições têm rentabilidades maiores. “O destaque da rentabilidade dos bancos públicos está relacionado à melhoria da eficiência operacional, enquanto a dos bancos privados se manteve estável”, diz o relatório.

O retorno sobre o patrimônio (ROE) do sistema de forma geral teve “leve redução”, segundo o relatório, caindo 0,6 ponto percentual na comparação com 2022 para 14,1%. Esse resultado teve “distribuição heterogêna” entre as instituições com maior importância sistêmica. “Essa heterogeneidade reflete, sobretudo, o diferencial de sucesso na estratégia de gestão de risco de crédito por parte das instituições financeiras durante e no pós-pandemia e de risco de mercado nos recentes ciclos de elevação e queda da taxa básica de juros”.

O relatório também mostrou que houve queda nas captações das cadernetas da poupança em 2023 em nível inferior ao do ano anterior, mas ainda “significativa”.

Segundo o documento, essa movimentação é reflexo da taxa Selic em patamares superiores à remuneração da poupança. Atualmente, a Selic está em 10,50% ao ano.

Esse tema tem sido discutido pelo setor imobiliário e instituições financeiras, inclusive com debates para redução do compulsório da poupança, atualmente em 20%. O diretor de fiscalização do BC, Ailton de Aquino, disse que é possível perceber “claramente que a poupança é um desafio para todos neste momento, principalmente no que diz respeito ao financiamento imobiliário”. O diretor pontuou que várias coisas estão sendo postas na mesa e “nós estamos avaliando”. Aquino ressaltou que estão escutando o mercado, mas não há prazo para nenhuma medida no atual momento. “As análises estão seguindo. O Banco Central nunca se furta a conversar com o mercado e não temos prazo”.

O Banco Central (BC) divulgou no dia 06/06/24 o Relatório de Economia Bancáriaopen_in_new (REB) de 2023. Publicado anualmente, o relatório trata de vários aspectos do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e das relações entre instituições e seus clientes. 

O Relatório mostra continuidade da redução da concentração no SFN, processo que vem ocorrendo nos últimos anos, e elevação do grau de concorrência no mercado de crédito, enquanto a concorrência em serviços financeiros ficou relativamente estável. A rentabilidade do sistema bancário, medida pelo ROE, apresentou leve redução em 2023 e distribuição heterogênea dentro do grupo das instituições financeiras de maior importância sistêmica. 

Refletindo predominantemente elevações no custo de captação e na inadimplência, o Indicador de Custo do Crédito (ICC) aumentou, na média do ano, em 2023, a despeito da queda ocorrida no segundo semestre. Quase todos os fatores de composição do spread tiveram queda em 2023, a única exceção foi a inadimplência. As captações no sistema bancário continuaram a crescer, apesar do desempenho negativo dos depósitos da poupança.

O Relatório apresenta um conjunto de boxes abordando diversas temáticas, como o uso do crédito e o desemprego; o efeito da discricionariedade judicial na oferta de crédito; a evolução do mercado de pagamentos; a evolução da eficiência do SFN; a concentração nos mercados de cartões de pagamento; as ações de educação financeira apoiadas pelo BC; Drex; dentre outros temas.

COMUNICAÇÃO 

A partir desta edição, o REB adota uma forma de comunicação mais moderna e direta. As primeiras frases de cada parágrafo resumem seu conteúdo principal, e as frases subsequentes apresentam detalhamentos. 

O REB passa a ter cinco capítulos, em vez de sete, pois deixa de apresentar temas já contemplados em outros meios de comunicação (Agenda BC#, Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito e projeções de crédito do Banco Central) e transfere o conteúdo de crédito para o financiamento do comércio exterior do extinto capítulo de produtos cambiais para o capítulo sobre mercado de crédito (Capítulo 1). 

Os capítulos e boxes estão mais concisos e os detalhes metodológicos, quando necessários, são apresentados em apêndice, contribuindo, assim, para uma leitura mais fluida dos textos, sem deixar de fornecer informações técnicas para um público mais especializado.

Clique open_in_new para assistir a entrevista coletiva com o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, o diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução, Renato Gomes e o diretor de Fiscalização, Ailton Aquino.

Clique para ver a apresentação dos diretores Diogo Guillen, Renato Gomes e Ailton Aquino, na divulgação do Relatório de Economia Bancária de 2023.

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