Advogado do Diabo e Ovo de Colombo: Baixe o Livro Digital Gratuitamente

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“Advogado do Diabo” era a expressão utilizada pela Igreja Católica para designar o advogado com missão de apresentar provas impeditivas da admissão de um candidato a santo ou beato. Sua função era averiguar todos os fatos apresentados em favor do candidato, procurando falhas nas provas de milagres do candidato a santo.

Em contraposição, nesses processos de canonização e beatificação, também havia o Promotor da Fé, encarregado de argumentar a favor do candidato.

A expressão pode designar o cientista em busca de objeções a uma determinada hipótese, testando-a com dados e fatos, para verificar se sua defesa a sustenta como uma tese. Esse Advogado do Diabo tem de defender um argumento contrário à opinião da maioria apenas com o intuito de testar a qualidade da hipótese.

Por mais pessoas acharem uma ideia correta, não basta para tornar correta essa ideia. Não necessariamente se pronuncia de modo correto quando apenas se pronuncia como os outros. Essa “prova social” é usada e abusada no debate público, mas é falsa.

Em recente pesquisa sobre moeda e bancos, cujo relatório sob forma de um livro digital para download encontra-se no fim deste artigo, atuei como Advogado do Diabo ao defender uma causa abjeta para muitos leigos. Segundo muitos autores, cujo único propósito é “denunciar o capitalismo”, não haveria moralidade na defesa da hipótese de a “financeirização” ser uma conquista social, ou seja, lamentavelmente, no Brasil, ocorreu um capitalismo financeiro tardio – o título do livro.

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Em Busca de Solução para Juros Abusivos: Fim do Crédito Rotativo nos Cartões de Crédito

A proposta de fim do rotativo no cartão de crédito não é nova. Desde pelo menos 2017, vem sendo discutida pela indústria com o Banco Central (BC), na época comandado por Ilan Goldfajn. Mas a ideia nunca foi adiante porque os bancos alertavam que a medida afetaria o equilíbrio que permite o parcelado sem juros no país. Agora, a proposta pode ganhar força com o argumento da educação financeira, mesmo princípio por trás do Desenrola, programa de renegociação de dívidas que o governo quer implementar.

Hoje, quem fica no rotativo por mais de 30 dias migra automaticamente para um parcelamento, conforme regra criada em 2017. “O que estão estudando é fazer isso para 100% e acabar com o rotativo, mas ainda é estudo, não tem nada definido”, diz o executivo de um grande banco.

Outra fonte com conhecimento do assunto diz que, apesar de estarem sendo discutidas várias alternativas, como a cobrança de taxa fixa no parcelado ou o aumento da tarifa de intercâmbio, incidente sobre as transações com cartões, não há saída que não passe pelo fim do rotativo. “Pode ser feito algo gradual, avisar as pessoas que vai acabar e ir reduzindo os prazos aos poucos. O rotativo é um câncer que prejudica o produto cartão de crédito, não há solução estrutural sem acabar com ele”, diz.

Um terceiro executivo pondera que o fim do rotativo esbarra em outro problema: o patamar de juros que será praticado no parcelamento com o passar do tempo. “É muito fácil falar, mas qual taxa será cobrada se não tiver o rotativo? Ainda pode ser considerada alta. Não necessariamente resolve o problema.”

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Quase 80% têm conta em banco tradicional e digital

Quase 80% dos brasileiros bancarizados mantêm contas, ao mesmo tempo, em instituições financeiras tradicionais e em bancos digitais. Esse cenário faz com que a disputa agora seja pela chamada “principalidade” do cliente – ou seja, qual o serviço mais usado por ele.

Os incumbentes ainda levam vantagem nesse quesito, mas o percentual de pessoas que têm uma instituição tradicional como a de relacionamento mais frequente está em queda. As conclusões são da pesquisa “A experiência dos clientes dos principais bancos brasileiros em 2023”, realizada pela Akamai Technologies em parceria com a Cantarino Brasileiro e antecipada ao Valor.

Leia também: Digitalização favorece surgimento de fintechs além do eixo Rio- SP

Os participantes possuem, em média, relacionamento com 4,8 instituições e 77% têm conta em bancos tradicionais e digitais, fatia que era de 70% no ano passado. Dentre os respondentes, 13% usam apenas um banco tradicional e 10%, somente um digital.

O levantamento mostra ainda que 59% dos entrevistados usam um banco incumbente como o principal, uma queda em relação a 2022, quando eram 66%. Por outro lado, 41% concentram as movimentações nos digitais, de 34% no ano passado. A pesquisa ouviu 1.412 pessoas entre março e abril por meio de um painel on-line.

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Condições para Alavancagem Financeira: Despesas Financeiras / EBITDA < 1

Em conversas privadas, mesmo os raros interlocutores dos mercados financeiro e de capitais votaram no atual governo com convicção manifestam contrariedade com algumas falas e ideias do presidente. Os neoliberais/neofascistas não deram a ele seu voto e o criticam ainda mais.

No entanto, em qualquer tipo de relacionamento, ações valem – ou deveriam valer – mais do que palavras. E o avanço da nova proposta fiscal vem fazendo as taxas longas de juros reais caírem significativamente, uma sinalização de que o trabalho dos ministérios da Fazenda e do Planejamento fez mais pela possibilidade de redução do custo de capital do que reclamações ou críticas inflamadas.

Independentemente do debate teórico sobre as políticas monetária e econômica, um mundo com juro de dois dígitos em que as recuperações judiciais e as dificuldades das empresas se evidenciam a cada dia exige algum pragmatismo que traga efeitos tão rápidos quanto possível.

Nota técnica recém-concluída pelo Centro de Estudos de Mercados de Capitais da Fipe (Cemec) sustenta, a partir de dados da FGV, que pelo menos desde 2014 as empresas têm, com larga margem, respondido pela maior parte do investimento medido pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), chegando a uma fatia de 90% deste em 2021.

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Desigualdade Social no Chile demonstra as cautelas a ter com Políticas de Livre Mercado

Em 1950, ser economista nos Estados Unidos não tinha nada de extraordinário. Agências reguladoras eram dirigidas por advogados, os tribunais alegavam que provas econômicas eram irrelevantes. No Federal Reserve, Fed, o banco central americano, a liderança da instituição reunia banqueiros, advogados e um produtor de porcos em Iowa, mas nenhum economista.

A situação começou a mudar a partir do fim dos anos 60, quando os economistas desempenharam um papel de liderança na formulação de políticas públicas, no foco à inflação e na crença de que o mercado era o melhor regulador. O economista Milton Friedman (1912-2006) e a Universidade de Chicago foram líderes desse processo que deixou os Estados Unidos e se estendeu a outros países.

A ascensão foi marcada 1. pelo maior acesso a números, 2. pela disputa ideológica com a União Soviética, 3. por duas crises do petróleo, 4. pela alta da inflação consequente e 5. pelas políticas de privatização e concessão conduzidas com destaque pela primeira-ministra britânica Margaret Thatcher (1925-2013).

A revolução neoliberal, no entanto, foi longe demais. O crescimento desacelerou e a desigualdade aumentou. A expectativa de vida aumentou para os 20% mais ricos dos americanos entre 1980 e 2010. Nas mesmas três décadas, a expectativa de vida diminuiu para os 20% mais pobres. Uma tradição americana, o antitruste está morto, sob a crença de que a fusão de empresas tem um foco: a redução de preços.

Esses são alguns dos pontos levantados por Binyamin Appelbaum, integrante do conselho editorial do “The New York Times”, em seu recente e controverso livro “Economist Hour: False Prophets, Free Markets, and the Fracture of Society” (Hora dos Economistas: Falsos Profetas, Mercados Livres e Fratura da Sociedade). Sem tradução ainda para o português, o livro tem estimulado debates calorosos nos EUA por causa da tese de o mundo liderado pelos economistas neoliberais elevou a desigualdade.

As experiências de Friedman e de seus discípulos da Universidade de Chicago chegaram até o Chile. Segundo Appelbaum, o país sul-americano é um exemplo de como o livre mercado pode trazer prejuízos à sociedade. O sistema de previdência do Chile com o regime de capitalização tira dos pobres e dá aos ricos.

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Vai uma soja em lugar do cafezinho?

Na última década, não só o Brasil tornou-se o maior produtor e exportador de soja do mundo como o grão se estabeleceu de vez como o produto que mais gera riqueza no agronegócio nacional. Uma pesquisa elaborada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), deixa claro esse crescente protagonismo: no ano passado, o produto interno bruto (PIB) da cadeia produtiva de soja e biodiesel chegou a R$ 673,7 bilhões, o equivalente a 27% do PIB total do agro brasileiro. Em 2010, a fatia era de 9%.

“Foram meses de trabalho para levantarmos os dados. Posso dizer, com segurança, que esse é o segmento que lidera o ranking das cadeias agropecuárias do Brasil”, disse Nicole Rennó, pesquisadora do Cepea e uma das responsáveis pela pesquisa. Entre 2010 e 2022, a participação da soja na geração de riqueza da economia brasileira passou de 2% para 7%.

A liderança na produção é ainda mais recente: a colheita brasileira ultrapassou a americana em 2019/20. O avanço tem correlação direta com o forte aumento de produtividade das lavouras nacionais ao longo desse período, afirma Daniel Amaral, economista-chefe da Abiove.

A participação da cadeia de soja e biodiesel poderia ser até maior que a atual, de 27%, se não fosse pela estiagem de 2021/22, que levou a uma perda de 20 milhões de toneladas na colheita. Com a quebra de safra no Centro-Sul do país, o PIB da soja in natura caiu 18% no ano passado, de acordo com os cálculos de Abiove e Cepea.

No ano passado, o segmento de agrosserviços respondeu pela maior fatia do PIB da cadeia do grão, com R$ 362,5 bilhões, o que representou um crescimento de 51% em relação a 2010. No mesmo intervalo, a riqueza gerada pela soja aumentou 53%, para R$ 192,1 bilhões, a da agroindústria, 46%, para R$ 77 bilhões, e a dos insumos, 109%, para R$ 42,1 bilhões.

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Extremos climáticos geram perdas de quase R$ 300 bilhões no campo

Eventos climáticos extremos causaram prejuízos de R$ 287 bilhões à agropecuária brasileira entre 2013 e 2022, segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), feito com base em dados do Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. As secas foram responsáveis por 87% dos prejuízos na agropecuária no intervalo considerado no levantamento. Ao todo, os eventos causaram perdas em 6,8 milhões de hectares de lavouras, uma área que equivale à soma dos territórios dos Estados do Rio de Janeiro e Alagoas.

No período, 4.624 municípios publicaram 14.635 decretos de anormalidade, e 3.384 informaram os dados à base do governo federal. A seca é o evento que mais prejudica o produtor rural: essa foi a razão de mais de 12 mil decretos municipais de situação de emergência ou estado de calamidade pública. A falta de chuvas foi responsável por 87% dos prejuízos na agropecuária no intervalo que a CNM considerou no estudo.

A agricultura sofreu danos que somaram R$ 216,6 bilhões, ou 65% do total. A estiagem causou 86% das perdas agrícolas (R$ 186,2 bilhões), e as chuvas em excesso, 14% (R$ 30,3 bilhões). Segundo a CNM, houve perdas em 6,8 milhões de hectares de lavouras entre 2013 e 2022. O número corresponde a 1,6% da área média de cultivo no país nesse período, mas, em alguns Estados, as perdas foram mais expressivas, como em Pernambuco (20,1%), Sergipe (16,4%) e Rio Grande do Norte (13,8%). Na pecuária, os prejuízos foram de R$ 70,4 bilhões. A falta de chuvas foi responsável por 92% das perdas na atividade, de quase R$ 65 bilhões.

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Reindustrialização, Neoindustrialização ou Anacronismo com a Nova Divisão Internacional do Trabalho?

Após o estrago que a pandemia de covid-19 causou nas cadeias globais de produção, a palavra reindustrialização voltou ao vocabulário nacional. O ex-ministro da Economia

Paulo Guedes já falava da “oportunidade” que a crise das cadeias trouxe para o país. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez campanha prometendo a “reindustrialização” e lançou seu programa com esse objetivo no dia 25/05/23.

Diante do consenso de que não há condições atualmente para repetir o mesmo modelo do século passado, dentro do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e

Serviços (Mdic), os funcionários preferem usar o termo “neoindustrialização”. O que está no radar é uma série de iniciativas com o objetivo de, inicialmente, dar credibilidade macroeconômica e incentivar investimentos na indústria de transformação, que é essencialmente o setor que vem perdendo participação no PIB desde meados da década de 1980.

Economistas e empresários ouvidos pelo Valor (24/05/23) apontam a necessidade de o Estado voltar a participar ativamente da construção de um parque industrial moderno e digitalizado, usando o BNDES como uma das ferramentas.

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Brasil está no topo de ranking de países onde mais se acredita em Deus

“Graças a Deus!”

“Deus me livre.”

“Pelo amor de Deus!”

“Só Deus sabe…”

“Vai com Deus…”

“Credo! Creio em Deus Padre…”

Deus está sempre na boca do brasileiro, um povo inculto a viver em um país de maioria cristã intolerante com os ateus, onde cultura e fé estão intimamente ligadas —das altas esferas de poder ao cotidiano do cidadão comum— e no qual a vida religiosa muitas vezes preenche lacunas deixadas pelo Estado.

Esses são alguns dos fatores que explicam por que o Brasil se destaca quando o assunto é espiritualidade.

Quase nove em cada dez brasileiros dizem, por exemplo, acreditar em Deus, segundo a pesquisa Global Religion 2023, produzida pelo instituto Ipsos.

O índice de 89% de crença em um poder superior coloca o Brasil no topo do ranking de 26 países elaborado pelo Ipsos, com base em uma plataforma online de monitoramento que coleta informações sobre o comportamento destas populações.

O Brasil aparece empatado com África do Sul, que teve os mesmos 89%, e Colômbia, com 86% — um empate técnico dada a margem de erro de 3,5 pontos percentuais da pesquisa.

Holanda (40%), Coreia do Sul (33%) e Japão (19%) foram os países onde a população menos crê em Deus ou em um poder superior, de acordo com a pesquisa.

A Global Religion 2023 é baseada em dados coletados entre 20 de janeiro e 3 de fevereiro, com 19.731 entrevistados, aproximadamente mil deles no Brasil. Não há países islâmicos na amostra, embora pessoas que seguem o islamismo tenham sido consultadas.

Entre os países pesquisados, o Brasil ficou 28 pontos percentuais acima da média na crença em Deus, que foi de 61%.

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Capitalismo Financeiro Tardio – Baixe o Livro

Meus artigos semanais se desdobram, reunidos dentro de uma linha de pesquisa, e se convertem em livros digitais. Para socialização do conhecimento descoberto, eu os distribuo de maneira gratuita. É uma motivação para eu prosseguir em intensa atividade intelectual dedicada exclusivamente à docência e pesquisa.

O colocado para download no fim deste artigo foi se desdobrando naturalmente. Comecei com uma pesquisa bibliográfica sobre o aparecimento do tema “moeda, bancos e crédito” na historiografia clássica brasileira. Os resultados são apresentados no capítulo inicial: (Falta de) Dinheiro na Historiografia Brasileira.

Na minha pesquisa bibliográfica, apresentada no capítulo inicial, no clássico livro de Gilberto Freyre, Casa Grande & Senzala, encontrei a seguinte informação: “a casa-grande patriarcal não foi apenas fortaleza, capela, escola, oficina, Santa Casa, harém, convento de moças, hospedaria. Desempenhou outra função importante na economia brasileira: foi também banco. Dentro das suas grossas paredes, debaixo dos tijolos ou mosaicos, no chão, enterrava-se dinheiro, guardavam-se joias, ouro, valores.”

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Casta dos Sábios Tecnocratas: Vantagens Abusivas da Elite do Poder Judiciário espalhadas para o Poder Executivo

Bruno Carazza é professor associado da Fundação Dom Cabral e autor do livro ‘Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro’. Escreveu coluna (Valor, 22/05/23) sobre o Efeito cascata de benefícios fazer teto virar piso para alguns servidores públicos federais.

Em 12 de janeiro de 2015, entraram em vigor as Leis nº 13.093 e 13.095, que instituíram a “gratificação por exercício cumulativo da jurisdição” para os magistrados da Justiça Federal e do Trabalho.

O benefício consiste no pagamento de um extra de até 1/3 do salário do juiz caso ele exerça alguma atividade além das suas competências normais. A remuneração básica de um juiz federal ou trabalhista atualmente está em R$ 33.924,93, R$ 35.710,46 ou R$ 37.589,96, a depender do nível da carreira.

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Análise dos dados financeiros de 30 clubes brasileiros de futebol das séries A e B

Os principais clubes brasileiros de futebol viram suas receitas subirem de forma praticamente constante nos últimos 10 anos, acompanhadas de um endividamento também crescente. A boa notícia é que a análise dos dados financeiros de 30 agremiações nacionais das séries A e B aponta que o futebol nacional passa por um momento de transformação em direção a uma maior governança e disciplina financeira.

É o que mostra estudo da EY obtido com exclusividade pelo Valor, que aponta ainda que a receita nominal dos 30 clubes estudados subiu 156% entre 2013 e 2022, passando de R$ 3,17 bilhões para R$ 8,13 bilhões no período. Em termos reais, com o desconto da inflação, o avanço foi menor, de 50%.

No mesmo período, o endividamento líquido teve um salto de 94,6%, pulando de R$ 5,830 bilhões, em 2013, para R$ 11,347 bilhões, no ano passado. O estudo considera 19 clubes que disputaram a Série A no ano passado e 11 que jogaram a Série B.

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