Situação Atual e Perspectivas do Ensino Superior: Caso da Economia

O governo federal conta com o programa Juros por Educação – com redução dos juros da dívida cobrada dos Estados em troca da ampliação das matrículas no ensino médio técnico – para expandir essa política pública e elevar o Brasil ao patamar das economias mais desenvolvidas integrantes da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Essa seria uma saída inovadora com potencial impacto positivo na produtividade, combate à evasão escolar e qualificação da mão de obra nacional.

Considerando a população adulta, a brasileira tem 20% com graduação e 1% com pós-graduação. Comparando com a do Canadá, é apenas um terço de sua população graduada: 26% em ciclo curto; 24% em longo; 3% com pós-graduação, totalizando 63% ou quase 2/3 com Educação Superior.

A tabela acima, publicada no Education at a Glance 2023, é reveladora: países com grandes populações (e recentemente emergentes) como Índia (1,395 trilhão), China (1,467 trilhão), Indonésia (287 milhões), México (136 milhões), África do Sul (60 milhões), Turquia (90 milhões) e Brasil (203 milhões), naturalmente, têm maior dificuldade para educar percentual significativo de sua população com Ensino Superior. Mas são acompanhados de ex-colonizados e seus colonizadores ibéricos, isto sem falar da Itália. Prenunciam uma tradição ibero-lusitana inculta, demonstrada pela ausência de Universidade no Brasil até 1920!

A tabela acima esclarece um grande diferencial ser o Ciclo Curto (Curso Técnico Superior Profissional). Ele é um ciclo de estudos de Ensino Superior com 2 anos letivos, constituído por um currículo com 3 componentes: formação geral e científica (até 30%), treinamento técnico (mais de 70%); e treinamento prático (estágio no último semestre). Os titulares desse diploma de Técnico Superior Profissional podem ingressar nos ciclos de licenciatura e mestrado através de concurso especial de acesso.

Não seria vergonha o Brasil copiar a Europa: integrar mestrado à graduação (3 anos) durante 5 anos. Infelizmente, antes copiou os Estados Unidos. Com ensino privado, é interesse mercantil alongar o tempo dos estudantes pagando.

O aluno ao entrar para a Faculdade “perde” 2 anos com matérias básicas de conhecimento geral. Depois cumpre dois de matérias específicas, voltadas para a sua área de escolha e necessárias para a formação em uma determinada habilitação. Um curso de bacharelado dura 4 anos, de mestrado 2 anos e, de doutorado de 5 a 7 anos, obrigando os alunos a serem clientes em longo prazo.

Na Europa, o ensino é público e/ou gratuito. O Processo de Bolonha, acordo assinado por 29 países (inclusive Reino Unido), propicia maior mobilidade entre alunos de diferentes países e unifica as etapas de Ensino Superior.

Correspondem a três ciclos: o 1º de bacharelado tem duração mínima de 3 anos; o 2º de mestrado pode durar de 1 a 2 anos; e o 3º de doutorado dura cerca de 3 anos. O ganho de economia de escala (novos alunos / professor) é enorme, comparativamente ao sistema estadunidense copiado no Brasil, sem prejudicar a qualidade de Ensino.

Sou testemunho ocular: alunos de Economia no 4º. (e último) ano “rifam” o curso, fazendo estágios durante o dia  e indo assistir aula à noite passivamente, pois estão cansados e dispersos, mesmo com a proibição do uso de celular/notebook em sala de aula. Demonstram não estudar nada, porque não sabem responder nenhuma pergunta feita pelo professor. Enfim, são do tipo “me engane, pois eu gosto”…

Levando isso em conta, proponho uma nova grade curricular para curso de graduação em Ciência Econômica com três anos de duração. É possível ensinar perfeitamente bem todas as disciplinas requisitadas com cada um dos níveis de abstração em todos os seis semestres letivos. Confira abaixo a viabilidade didática.

Este seria um curso por temas-chaves aos quais se submetem as diferentes escolas de pensamento e/ou autores. Por exemplo, em Preços e Moeda, a Economia Política coloca ênfase nas forças reais, sendo a moeda vista como instrumento de poder. A Escola Neoliberal-keynesiana, vê a oferta de moeda como acomodacionista. A Pós-keynesiana expõe as forças reais e monetárias interrelacionadas. Para a Síntese Neoclássica, a moeda neutra não afeta o equilíbrio de preços relativos. Finalmente, depois de percorrido todo o espectro ideológico da esquerda à direita, para a Escola Monetarista e a Novo-clássica somente a moeda importa.

Quanto à inflação, os marxistas a analisam ser devido a choques de custo e/ou fixação de margens de lucro por oligopólios com capacidade de repasse aos preços. Os neokeynesianos a atribuem aos conflitos distributivos. Os pós-keynesianos relacionam-na às margens de segurança nas precificações por causa das expectativas incertas. Os neoclássicos consideram-na, em curto prazo, ser um trade-off com desemprego, em longo prazo, inercial. Os monetaristas classificam-na como um fenômeno monetário, devido ao déficit público, causado pela política keynesiana de busca do pleno emprego. Só.

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