Islândia: país pune os banqueiros responsáveis pela crise

Foto: Attac – Madri

O filme Inside Job se inicia focalizando o caso da explosão da crise mundial de 2008 na Islândia. O pequeno povo nutria notável qualidade de vida e esperança de enriquecimento rápido quando, subitamente, o endividamento bancário desmoronou tudo. No entanto, os islandeses estão levando a cabo espécie de “revolução pacífica” que conseguiu não só derrubar o governo como elaborar nova Constituição, além de enviar para a cadeia os responsáveis pela derrocada econômica do país. A crise financeira e econômica provocou reação pública sem precedentes, que mudou o rumo do país. O artigo abaixo é de Alejandra Abad (El Confidencial) com tradução para o português de Vermelhos.net.

Na semana passada, nove pessoas foram presas em Londres e em Reykjavik (capital da Islândia) pela sua responsabilidade no colapso financeiro da Islândia em 2008, profunda crise que levou à reação pública sem precedentes, mudando o rumo do país.

Foi a revolução sem armas da Islândia, país que hospeda a democracia mais antiga do mundo (desde 930), e cujos cidadãos conseguiram mudar com base em manifestações públicas. E porque é que o resto dos países ocidentais nem sequer ouviram falar disto?

A pressão da cidadania islandesa conseguiu não só derrubar o governo, mas também a elaboração de nova Constituição (em andamento) e colocar na cadeia os banqueiros responsáveis pela crise no país. Como se costuma dizer, “se você pedir educadamente as coisas é muito mais fácil obtê-las”.

Este processo revolucionário silencioso tem as suas origens em 2008, quando o governo islandês decidiu nacionalizar os três maiores bancos – Kaupthing, Landsbanki e Glitnir – cujos clientes eram principalmente britânicos, americanos e norte-americanos.

Depois da entrada do estado no capital a moeda oficial (coroa) caiu e a Bolsa suspendeu a sua atividade após queda de 76%. A Islândia foi à falência e para salvar a situação o Fundo Monetário Internacional (FMI) injetou 2.1 bilhões de dólares e os países nórdicos ajudaram com mais de 2.5 bilhões de euros.

Enquanto os bancos e as autoridades locais e estrangeiras procuravam desesperadamente soluções econômicas, o povo islandês tomou as ruas, e com as suas persistentes manifestações diárias em frente ao parlamento em Reykjavik provocou a renúncia do primeiro-ministro conservador Geir H. Haarde e do governo em bloco.

Os cidadãos exigiram, além disso, a convocação de eleições antecipadas, e conseguiram. Em abril, foi eleito por governo de coligação formada pela Aliança Social Democrata e Movimento Esquerda Verde, chefiado por nova primeira-ministra, Johanna Sigurdardottir.

Ao longo de 2009, a economia islandesa continuou em situação precária, terminando o ano com queda de 7% do PIB, mas, apesar disso, o Parlamento propôs pagar a dívida de 3.5 bilhões euros à Grã-Bretanha e Holanda, montante a ser pago mensalmente pelas famílias islandesa durante 15 anos com juros de 5,5%.

A mudança trouxe a ira de volta dos islandeses, que voltaram para as ruas exigindo que, pelo menos, a decisão fosse submetida a referendo. Outra nova pequena grande vitória dos protestos de rua: em março de 2010 a votação foi realizada e o resultado foi que a esmagadora de 93% da população se recusou a pagar a dívida, pelo menos nessas condições.

Isso levou os credores a repactuar o negócio, oferecendo juros de 3% e pagamento a 37 anos. Mesmo se fosse suficiente, o atual presidente, ao ver que o Parlamento aprovou o acordo por margem estreita, decidiu no mês passado não o aprovar e chamar de volta os islandeses para votar em novo referendo, para que sejam eles a ter a última palavra.

Voltando à situação tensa de 2010, enquanto os islandeses se recusaram a pagar dívida contraída pelos executivos financeiros sem os questionar, o governo de coligação lançou investigação para resolver juridicamente as responsabilidades legais da fatal crise econômica e já havia detido vários banqueiros e executivos de cúpula intimamente ligados às operações de risco.

Entretanto, a Interpol, tinha emitido mandado internacional de captura contra o presidente do Parlamento, Sigurdur Einarsson. Esta situação levou os banqueiros e executivos, assustados, a deixar o país em massa.

Neste contexto de crise, elegeu-se Assembleia para elaborar nova Constituição que reflita as lições aprendidas e para substituir a atual, inspirada na Constituição dinamarquesa.

Para fazer isso, em vez de chamar especialistas e políticos, a Islândia decidiu apelar diretamente ao povo, soberano, ao fim e ao cabo, das leis. Mais de 500 islandeses apresentaram-se como candidatos a participar neste exercício de democracia direta de redigir a nova Constituição, dos quais foram eleitos 25 cidadãos sem filiação partidária, que incluem advogados, estudantes, jornalistas, agricultores, representantes sindicais.

Entre outros desenvolvimentos, esta Constituição é chamada a proteger, como nenhuma outra, a liberdade de informação e expressão, com a chamada Iniciativa Islandesa Moderna para os Meios de Comunicação. É projeto de lei que visa tornar o país um porto seguro para o jornalismo de investigação e liberdade de informação, onde se protejam as fontes, jornalistas e os provedores de internet que alojem órgãos de informação.

Serão as pessoas comuns, por sua vez, para decidirão sobre o futuro do país, enquanto os banqueiros e os políticos assistem (alguns da prisão) à transformação de sua nação, mas do lado de fora.

 

8 thoughts on “Islândia: país pune os banqueiros responsáveis pela crise

  1. Professor Fernando,

    como é bom ler notícias como essas. Elas servem de inspiração para outros grupos sociais. Obrigado,Abraço!

  2. Pingback: Anónimo

  3. era isto que devia acontecer no nosso pais, só não sei porque a comunicação social não fala da situação da islandia.

  4. a comunicação social não fala ? é preciso lhe dizer o porquê do silêncio da comunicação social ? julgo que não .

  5. Portugal deveria seguir o exemplo da Islândia:punir os verdadeiros culpados pela nossa situação actual!Basta de ter(mais uma vez!) a maldita “troika” e mandar à fava as agências de notação(?) americanas que nos chamam de “lixo”.Gostei do artigo.Parabéns.
    Luís Morna

  6. A minha opinião é esta! Rui ainda bem que á pessoas assim, pois ilucidam outras a indignarem-se. Vou contar o meu caso pessoal em Outubro ligu em disse:

    Porque será que a imprenssa portuguesa não fala deste assunto islandes? Acordai……….povo português, não nos deixemos adormecer a espera que os outros o façam por nós. Tomemos o ex: da Islãndia, fizeram uma revolução pacifica, conseguiram meter os culpados pela crise na cadeia, embora alguns ainda andem a monte. E em Portugal o que acontece? Nada nunca á culpados, a culpa morre solteira.

Deixe um comentário