Queda de Gigantes: Primeiro Livro da Trilogia O Século

Um professor universitário com veleidade intelectual de esquerda pode confessar (e recomendar) a leitura de best-seller? Antes dessa confissão, para arrolar todos os meus pecados, confesso também que há (4) anos não lia nenhum romance. Meu interesse (e ritmo de passar páginas) estava inteiramente voltado para a não ficção. Não conseguia me apegar a longas descrições, quando percebia já tinha as saltado. A força da história do mundo real me atraía de maneira exclusiva. Quando queria descansar, assistia minha coleção (“DVDteca”) de épicos históricos.

Comprar livro chamado “Queda de Gigantes”? O esnobismo me impedia. Acho que fui atraído pelo subtítulo que, convenhamos, não tem tanto apelo comercial: “Trilogia O Século”. Encomendei-o. Quando deparei com o desafio de ler 910 páginas deixei-o esquecido na mesa de cabeceira por vários meses. Reler O Longo Século XX? Consolar-me com O Breve Século XX, Era dos Extremos?

Esgotei toda a pilha de livros nesse verão de dor. Entre exames, fisioterapia, acupuntura, raio-X, ressonância magnética, tomografia computadorizada, milhares de consultas, encaixes, longas esperas, pré e pós-operatório, acabei encarando com humildade a Queda de Gigantes. Envolvi-me com os sentimentos dos personagens, em episódios históricos reais, ocorridos entre 22 de junho de 1911 e janeiro de 1924.

Este livro possui vários personagens históricos, entre outros, Woodrow Wilson, 28o. presidente norte-americano, Winston Churchill,  Vladimir Ilitch Uliánov, dito Lênin, líder do Partido Bolchevique, e Leon Tróski. Segundo o autor, Ken Follett, para estabelecer o limite entre história e ficção, “meus personagens fictícios estão presenciando um fato que realmente ocorreu”. Às vezes, um personagem histórico vai a um lugar fictício, mas pesquisa revelou que ele tinha o hábito de visitar lugares similares na época.

“Nos momentos em que figuras históricas têm conversas com meus personagens fictícios, em geral estão dizendo coisas que realmente disseram em algum momento. (…) Minha regra é: ou a cena de fato aconteceu, ou poderia ter acontecido; ou as palavras foram de fato usadas, ou poderiam ter sido. E, caso eu encontre algum motivo que impossibilite a cena ter acontecido na vida real, ou as palavras de terem sido ditas – como, por exemplo, se o personagem estivesse em outro país na ocasião –, deixo a passagem de fora”.

Para tanto, o prestigiado autor Ken Follet contratou oito consultores históricos. Muitos desses historiadores foram localizados por empresa nova-iorquina Reseach for Writers. Meia dúzia de editores e agentes literários leram as primeiras versões do manuscrito. Para organizar todos os acontecimentos, há no início do livro lista de cerca de 100 personagens!

São cinco famílias, cinco países e cinco destinos marcados por período dramático da história. “Queda de gigantes“, o primeiro volume da trilogia “O Século”, começa quando as potências da Europa estão prestes a entrar na primeira guerra mundial do século XX, os trabalhadores não aguentam mais ser explorados pela aristocracia e as mulheres clamam por seus direitos.

De maneira envolvente, Follett constrói sua trama entrelaçando as vidas de personagens fictícios e reais, como o rei Jorge V, o Kaiser Guilherme, o presidente Woodrow Wilson, o parlamentar Winston Churchill e os revolucionários Lênin e Trótski. O resultado é lição de história contada da perspectiva das pessoas comuns, que lutaram nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, ajudaram a fazer a Revolução Russa e tornaram real o sonho do sufrágio feminino.

Ao descrever a saga de famílias de diferentes origens – uma inglesa, uma galesa, uma russa, uma americana e uma alemã –, o autor apresenta os fatos sob os mais diversos pontos de vista. Na Grã-Bretanha, o destino dos Williams, uma família de mineradores de Gales do Sul, acaba irremediavelmente ligado por amor e ódio ao dos aristocráticos Fitzherberts, proprietários da mina de carvão, onde Billy Williams vai trabalhar aos 13 anos, e donos da bela mansão em que sua irmã, Ethel, é governanta. A relação íntima entre explorados e exploradores é revelada.

Billy Williams, filho de sindicalista e pastor moralista, se torna um líder nato, inclusive entre adultos, nas minas de carvão do País de Gales. Depois, líder militar, sindical e político no Partido Trabalhista britânico Sua irmã, Ethel, governanta da aristocrática família Fitzherbert, luta por mobilidade social e política das mulheres. Sua patroa, irmã do conde conservador, é a sufragista radical lady Maud. Ela se apaixona por Walter von Ulrich, espião da embaixada alemã em Londres. O segredo dos dois só o norte-americano Gus Dewar, assessor na Casa Branca de Woodrow Wilson, conhece. Dois irmãos russos órfãos, Grigori e Lev Peshkov, seguem caminhos completamente diferentes, um de cada lado ideológico e moral.

Esses e outros personagens têm suas vidas entrelaçadas à medida que o romance se move de Londres a São Petersburgo, de Washington a Berlim, de Viena a Paris, passando por diversas cidades. Retrata o perigo das minas de carvão, o luxo dos palácios, os bastidores do poder, a ascensão da classe trabalhadora, as conquistas femininas, a guerra das trincheiras e a revolução russa. Como em todas as obras de Follett, o contexto histórico foi pesquisado e reproduzido com minúcias cotidianas, ensinando ao leitor mais do que o que habitualmente se aprende na escola.

Na Rússia, dois irmãos órfãos, Grigori e Lev Peshkov, seguem rumos opostos em busca de futuro melhor. Um deles vai atrás do sonho americano e o outro se junta à revolução bolchevique. A guerra interfere na vida de todos. O alemão Walter von Ulrich tem que se separar de sua esposa, lady Maud, e ainda lutar contra o irmão dela, o conde Fitz. Nem mesmo o americano Gus Dewar, o assessor do presidente Wilson que trabalhou pela paz, escapa dos horrores da frente de batalha.

Enquanto a ação se desloca entre Londres, São Petersburgo, Washington, Paris e Berlim, “Queda de gigantes” retrata a história humana em rápida transformação, em pouco mais de uma década do século XX. Muitas revelações são espantosas – ou imagináveis por nós de existirem há menos de um século. Houve progresso social e político inegavelmente.

Com mais de 100 milhões de livros vendidos em todo o mundo, Ken Follett é considerado o mestre do romance histórico. O passado nos envolve no épico histórico, “Queda de gigantes“, primeiro volume da trilogia “O Século”.

Nos outros livros da trilogia, novas gerações das mesmas famílias testemunham outros grandes episódios da história. O segundo volume, com lançamento previsto para 2012, tem como pano de fundo a Grande Depressão de 1929 e a Segunda Guerra Mundial. No terceiro, a ser publicado em 2014, a trama se passa durante a Guerra Fria. Aguardo-os ansiosamente.

Veja:  Site Queda de Gigantes

Ler mais:  KEN FOLLETT Queda de GigantesCap1

7 thoughts on “Queda de Gigantes: Primeiro Livro da Trilogia O Século

  1. Professor, não quero fazer nenhum comentário sobre o livro em questão. Apenas quero desejar-lhe pronta recuperação e dizer que acompanho seu blog já faz quase um ano.
    Abraço e continue firme aí.
    Paulo Mendes

    • Prezado Paulo,
      fico muito grato com a atenção. Passei por mau pedaço, porém ontem retiraram os pontos da cirurgia de desvio de septo nasal, devido ao acidente doméstico em outubro, e… voltei a espirar e respirar! Agora, posso aspirar tempo melhor. Antes eu estava sem “energia eólica”.
      Abraço

  2. Olá Professor,
    Também estou ansiosa aguardando a nova publicação da trilogia. Amei este livro, encarei aquelas quase mil páginas e devorei em pouquíssimo tempo. É realmente envolvente a forma como o autor tece a trama entre ficção e fatos reais. Apaixonante mesmo!
    Abs,
    Zélia

  3. Também gostei muito do livro, um bom romance histórico. A tradução poderia ser mais caprichada…
    Com a leitura de livro tão pesado, acabei tendo uma pequena inflamação no ombro, cuidem-se!
    Professor Fernando, desejo-lhe pronta recuperação. Os livros são a melhor companhia para um doente em recuperação.
    Boa sorte e boa saúde!

  4. Ótimo texto!
    Ken Follet com certeza é um dos melhores autores atuais! Aliás, já leu Pilares da Terra? É de tirar o fôlego.

  5. Pingback: História real misturada com ficção, incrível! Queda de Gigantes | Livros que Li

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