Vanishing Point X Drive

Um dos filmes inesquecíveis, entre os que assisti na minha juventude, é Vanishing Point. Seu título no Brasil foi “Corrida contra o Destino”. Filmado depois de outro filme inesquecível, para a Geração 68, Easy Rider (“Sem Destino”), daí seu título comercial em português, também é “filme de estrada” (on-the-road) que faz denúncia social. Fiquei feliz quando, finalmente, consegui comprar o DVD do filme de 1971, estrelado Barry Newman, Cleavon Little e Dean Jagger. Em 1997, foi filmado um remake dirigido por Charles Robert Carner, com Viggo Mortensen no papel principal. Cuidado, este é uma droga!

Vanishing Point é inesquecível, primeiro, pelo cenário do Sudoeste Norte-Americano e, segundo, por seu comentário social confrontando a “era hippie/pacificista” doméstica e a “era Vietnam” externa, nos Estados Unidos do começo da década de 70. Foi um dos mais significativos filmes da história do Cinema a utilizar como elemento-chave um automóvel, no lugar do cavalo dos faroestes e da moto do Easy Rider. O filme ainda pode ser considerado filme cult.

Atravessando o oeste americano, por muitas das estradas percorridas por Sal Paradise e Dean Moriaty, o “último herói norte-americano”, Kowalski (Barry Newman), sai do Colorado para São Francisco, com a aposta de levar um Super Dodge Challenger (branco) para o seu dono em tempo recorde. Havia apostado com um amigo que cumpriria o objetivo, mas, através de feedbacks em sua história pessoal, é deduzida sua indiferença quanto à morte e às autoridades policiais. Mesmo se não houvesse aposta alguma, Kowalski não abandonaria sua liberdade, diminuindo sua velocidade no deserto. Ele, o carro e a estrada – nada mais importava depois que sua paixão morreu afogada, ele perdeu sua licença de piloto de Nascar (Campeonato de Carros de Turismo e/ou Marca) e foi expulso da polícia depois que impediu a tentativa de estrupo de uma garota hippie por colega policial.

Kowalski, ex-fuzileiro e herói da guerra do Vietnã, ex-corredor automobilístico e ex-policial demitido da corporação, dedica-se a transportar carros para a pequena oficina. Em um desses trabalhos, ele deve levar o Dodge Challenger ’70 de Denver, no Colorado, para São Francisco, na Califórnia. Kowalski faz aposta de entregar o carro em um dia, mas a infração de velocidade no percurso se transforma em perseguição pela polícia rodoviária em três estados americanos onde ganha notoriedade e é transformado em ídolo pelo DJ Super Soul (Cleavon Little).

Este negro cego é personagem-chave, pois narra por estação de rádio alternativa do interior conservador americano as peripécias de Kowalski contra os policiais, inclusive antecipando para ele os cercos montados. Um colega da estação escutava as ondas dos policiais. Até que ele é interrompido por jovens caipiras direitistas que os agridem e fazem um quebra-quebra na estação. Depois, recebe a solidariedade de alguns jovens pacifistas.

Alexandre (http://analiseindiscreta.wordpress.com/2010/07/23/corrida-contra-o-destino-vanishing-point-1971/) postou boa sinopse sobre o filme, inclusive disponibilizando sua trilha sonora muito representativa da época do country, passando pelo rock, até o som-negro da Motown.

“Kowalski é um herói, mas não tem intenção alguma de ser mais do que ele é. Sua transformação não parte de si mesmo – no começo do filme, seu caráter permanece sólido até o final, a de um homem que procura a liberdade em sua plenitude, nas estradas. É a idealização dele por parte do radialista – e, por extensão, do público – que o transforma em um semideus daquela geração. Não por acaso, o motorista solitário, encontrará pelo caminho hippies, nudistas, homossexuais criminosos e pessoas sem destino – e, Kowalski, correndo pelas estradas está seguindo exatamente os trilhos da liberdade tão almejada por todos eles, até o último ponto de fuga, a última possibilidade de seguir em frente, enquanto houver luz”.

Para verificar a influência pop do filme, no fim da música Breakdown, da banda Guns N’ Roses, Axl Rose cita certa passagem do filme: “But, it is written, if the evil spirit arms the tiger with claws, Brahman provideth wings for the dove. Thus spake, the super guru“. Uma das músicas da trilha sonora, “Freedom of Expression“, tocada pelo grupo J.B. Pickers, é utilizada na abertura do programa Globo Repórter. O clipe da música “Show me how to live” da banda Audioslave foi inspirado nesse filme. A banda escocêsa Primal Scream lançou em 1997 disco de mesmo nome inspirado no filme, especialmente a música Kowalski, que foi criada como “trilha sonora alternativa” para o filme. Banda de rock também adotou o nome de Kowalski.

Visto esse background, quarenta anos depois, eu estava ansioso para assistir o Drive, também filme sobre piloto de automóvel. Imaginava se eu passaria pela mesma emoção da juventude. Autoengano.

Em Vanishing Point surge, pelo olhar do homem cego, um herói – “o último herói americano, a última alma livre e bela do planeta”. Os ouvintes do radialista DJ Super Soul (e expectadores do filme) passam a conhecer o motorista solitário. Alheio a isso, Kowalski continua correndo e se confunde com o Dodge Challenger como dois fugitivos, não apenas da polícia, mas do passado – através de flashbacks, conheceremos melhor  a falta de razão de (continuar a) ser do protagonista. No Drive, não conheceremos nem a vida regressa nem o nome do protagonista. Tudo em torno dele será silêncio até a explosão de seu instinto de ultra-violência contra o crime organizado. Depois da “era Reagan”, nos Estados Unidos, o individualismo resolve seus problemas pessoais com suas próprias armas.

Ryan Gosling interpreta neste filme um piloto profissional que trabalha em pequena oficina mecânica e  em cenas de perseguição de carros em Hollywood. Além disso, ele usa sua habilidade e precisão no volante como motorista em assaltos. Dentro do seu mundo solitário, ele conhece a vizinha Irene. Esta atriz, Carrey Mulligan, é aquela linda garota com covinhas, quando sorri, que namorou um yuppie em Educação e outro yuppie em Wall Street – O Dinheiro Nunca Dorme, isto mesmo, a Winnie, filha do Gekko, mas, em Drive, casa com bandido e ama marginal! Seu marido Standard (nome comum sem luxo) sairá da prisão em poucos dias. Disposto a ajudar essa família a pagar a dívida cobrada pelo crime organizado, que garantiu a sobrevivência de Standard na prisão, “o garoto sem-nome”, isto é, “o último anti-herói americano, a última alma livre e bela do planeta”,  usará todas a sua habilidade e a ultra-violência para salvá-la.

Não achei um “filmaço”, como apontaram alguns críticos, mas sim “muito bom”  filme B que, embora tenha boas cenas, não chega a ser filme A. Esta minha impressão talvez seja porque eu me identifico com a Geração Pacifista e jamais com a Geração MMA, UFC, etc. Alguns críticos comparam-no com Taxi Driver ou Bullit. Eu preferi compará-lo com Vanishing Point.

Imaginem Bullit em 3D…

No excelente filme de Martin Scorsese, Taxi Driver, o motorista também presencia o submundo, mas acaba se comportando como fascista:

Sequência de Drive que se tornará “clássica”:

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