Debate sobre Abertura de Capital da EMBRAPA: a Visão de O Mercado

Graziella Valenti e Gerson Freitas Jr. (Valor, 21/03/12) anunciam que a abertura de capital de uma companhia como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) seria bem-recebida entre os investidores. Há uma percepção antiga de que o agronegócio, pela importância que tem no Brasil, é muito pouco representado no mercado de ações. Ampliar essa presença com uma companhia do ramo de biotecnologia, proprietária de um dos maiores bancos de germoplasma do mundo, de um corpo de cientistas de ponta e presença em mais de 50 países, atrai olhares de interesse de todos os tipos de banqueiros de investimento e de investidores.

Contudo, a transformação da Embrapa em estrutura compreensível e palatável ao investidor seria um desafio que demandaria longo preparo, possivelmente de anos. A companhia tem vocação social e estratégica que pode encontrar resistência no mercado. Além disso, as preocupações ambientais também são pano de fundo de decisões voltadas ao longo prazo, o que muita vezes não atende aos anseios de lucratividade de investidores financeiros.

 

De acordo com banqueiros de investimento que observaram de longe a empresa, seriam necessárias tanto mudanças estruturais, no formato e na organização do negócio, quanto culturais. A avaliação é de que a empresa não dispõe de mecanismos que deem flexibilidade e agilidade na gestão dos negócios. O estatuto da companhia a proíbe, por exemplo, de atuar comercialmente no exterior. Isso a possibilitaria a disputar o mercado mundial de sementes que, só no ano passado, movimentou US$ 37 bilhões, de acordo com a organização americana ISAAA.

 

Os profissionais que atualmente conduzem a companhia, embora considerados de excelente nível, não estão familiarizados com o ambiente de mercado e a cobrança por resultados. A Embrapa foi preparada “para fazer pesquisa, não negócios”.

 

Prova disso está no balanço da empresa. Em 2010, a receita líquida da companhia com a venda de produtos e serviços (que inclui o licenciamento de variedades para as multinacionais) foi de apenas R$ 34,75 milhões. Quase 90% da receita líquida da companhia vem dos cofres do Tesouro. Em compensação, a empresa sustenta que seu lucro social – baseado no impacto de uma base de tecnologias e cultivares desenvolvidas pela empresa e transferidas para a sociedade – superou os R$ 18 bilhões no mesmo ano. De acordo com a conta, cada real aplicado pelo governo federal na empresa gerou R$ 9,35 para a sociedade.

 

“Se há uma empresa no Brasil que tem estrutura e capital humano para brigar com as grandes empresas de biotecnologia no exterior, essa empresa é a Embrapa”, afirma Romeu Kiihl, ex-pesquisador da Embrapa e considerado um dos principais responsáveis pela adaptação das sementes de soja no Cerrado.

 

Atualmente, na BM&FBovespa, o setor de agronegócios é representado por setores bastante específicos, com destaque para as empresas de alimentos (frigoríficos) e sucroalcooleiras. Contudo, nem de longe, esses ramos são representativos da vocação brasileira para produtos agrícolas, internacionalmente reconhecida.

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