Revolução Recente na Agroindústria Brasileira: a Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas

Colheitadeiras no Brasil

De 1990 a 2006 anos, no campo brasileiro, a área plantada evoluiu 20%, e o número de hectares operados por trator, 84%. Nesses 16 anos, as grandes indústrias produtoras de tratores, colhedeiras, equipamentos e implementos cresceram no Brasil, utilizando a mais moderna tecnologia existente no mundo, e tornaram-se exportadoras para 149 países, invertendo o saldo comercial negativo de US$ 98 milhões, em 2001, para o superávit de US$ 880 milhões em 2006. Mas muitos “urbanóides” brasileiros não conhecem essa revolução recente na agroindústria brasileira. Pior: até mesmo economistas desenvolvimentistas abandonaram a abordagem estruturalista ao focarem apenas a suposta “desindustrialização”. Sendo assim, vale ler com atenção a notícia abaixo.

Carine Ferreira (Valor, 09/10/13) informa que, em 2013, pela primeira vez na história, as vendas de colheitadeiras no Brasil vão superar o número de unidades comercializadas em toda a Europa Ocidental, em um movimento que consolidará o país como o segundo maior mercado global para esses equipamentos, atrás apenas dos Estados Unidos.

De acordo com estimativas da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que representa as grandes multinacionais que atuam nesse segmento no Brasil, as vendas no país deverão somar 8,5 mil unidades neste ano, ante 13,6 mil nos EUA e 7,2 mil na Europa Ocidental. Em 2012, o mercado interno americano alcançou 12.728 unidades, enquanto o europeu chegou a 7.817 e o brasileiro, a 6.278 – 17,5% mais que no ano anterior.

De janeiro a setembro de 2013, realça Milton Rego, vice-presidente da Anfavea, as vendas no Brasil já somaram 5.652 unidades, o que representou um incremento de 55,7% na comparação a igual intervalo do ano passado. Assim, afirma, a Europa Ocidental, onde o potencial de crescimento é menor, ficará mesmo para trás. Resta saber se a tendência de queda da rentabilidade dos grãos nesta safra 2013/14 se confirmará e afetará esse forte ritmo de crescimento.

Em 2005, quando o valor bruto da produção agrícola brasileira tombou em razão de uma conjunção desfavorável formada por câmbio adverso às exportações, preços baixos e estiagem na região Sul, as vendas de colheitadeiras no país atingiram 1.534 unidades, quase 73% menos que em 2004 (5.605 unidades). É clara a correlação no Brasil, portanto, entre investimentos em mecanização e renda agrícola.

Situação diferente da observada nos Estados Unidos, o grande líder global em vendas de colheitadeiras. Naquele mercado, afirma Rego, as variações de renda são menores – há subsídios e 90% da área cultivada no país é segurada, ante um percentual que varia entre 8% e 10% no Brasil – e, por isso, a substituição de uma colheitadeira por outra mais nova ou mais potente se dá mais por questões técnicas.

Assim, o impressionante crescimento das vendas de colheitadeiras e máquinas agrícolas em geral no Brasil desde 2011 está atrelado a sucessivas safras rentáveis – sobretudo de soja – e reforçou uma tendência de modernização que ganhava força desde 2000 mas que havia perdido fôlego. Entre 2006 e 2010, as vendas de colheitadeiras ficaram abaixo da taxa média de renovação.

Do ano passado para cá, outro grande fator de estímulo às vendas foi a redução de juros do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que recuaram para 2,5% no segundo semestre de 2012 e atualmente estão em 3,5%.

Para que o parque brasileiro de colheitadeiras não envelheça, calcula-se que seja necessária a substituição de 5,5 mil unidades todos os anos, de acordo com o representante da Anfavea. Conforme ele, o tempo ideal de uso de uma máquina como essa é seis anos, mas, no Brasil, a idade média chega a oito ou nove anos. E algumas já têm duas décadas de serviços prestados. Nesse caso, as perdas na colheita podem chegar a 10% da produção, ante menos de 0,5% com o uso de equipamentos modernos.

No Brasil, a substituição da frota tem privilegiado máquinas de maior porte, com o objetivo de obter produtividades maiores e aproveitar melhor as janelas de plantio. Conforme o anuário da Anfavea, o grupo CNH, com suas duas marcas (Case e New Holland), liderou as vendas de colheitadeiras no país em 2012, seguida por John Deere e AGCO.

Apesar de o mercado de tratores no Brasil ser bem mais amplo que o de colheitadeiras em número de máquinas – no segmento, as vendas somaram 55.819 unidades em 2012 -, é mais difícil comparar a comercialização no país ao desempenho de outros mercados, por conta da variedade de tipos e aplicações desses equipamentos.

Em mercados desenvolvidos, como os dos Estados Unidos e da Europa Ocidental, há uma grande quantidade de microtratores (cerca de 40 mil por ano somente nos EUA) para uso em jardinagem. Em países asiáticos como China e Índia, por sua vez, muitos tratores ainda são usados para transporte, e não diretamente na atividade agrícola. E máquinas pequenas dominam as vendas.

7 thoughts on “Revolução Recente na Agroindústria Brasileira: a Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas

  1. Achei interessante que seu artigo deixa uma impressão positiva apesar dos fatos. Comparando de pico a pico, a venda de colheitadeiras cresceu aproximadamente 1% ao ano no Brasil nos últimos 10 anos, o que é bem menos que a própria taxa de crescimento de nossa economia no mesmo período. A única conclusão que consigo tirar dos dados no gráfico é que houve estagnação neste setor.

    • Prezado Irineu,
      de fato, à primeira vista, o gráfico ilude, pois praticamente não há nenhum crescimento exponencial contínuo, mas sim três mini-ciclos de expansão: 2000-2004; 2005-2008; 2009-2012. Porém, deve-se lembrar da observação feita no texto: é necessária a substituição de 5,5 mil unidades todos os anos. Assim, evita-se o obsoletismo tecnológico com aumento significativo de produtividade mesmo com números de vendas anuais similares ao longo do tempo. Não é simples troca de “seis por meia dúzia”…
      O fato é que as colheitas brasileiras têm, a cada ano, batido recordes históricos. Portanto…
      att.

      • Outra possibilidade é que a qualidade ou capacidade das colheitadeiras tenha melhorado. Infelizmente não tenho conhecimento do assunto.

        Mas não deixa de ser impressionante a queda nas vendas durante o primeiro governo Lula. Parece-me um tema bem interessante de pesquisa. Que eu saiba não houve uma queda generalizada do investimento, mas imagino que alguns setores, o campo em particular, parece ter evitado investir em equipamento.

      • Prezado Irineu,
        esta descontinuidade estatística se explica pela quebra de safra 2005-2006. Antes, todos os produtores rurais passaram a comprar a crédito, inclusive com a sinalização dos juros básicos em queda, entre junho de 2003 e setembro de 2004.
        De repente, houve a reversão de expectativas:
        1. os preços começaram a despencar,
        2. veio uma seca brutal,
        3. apareceu a aftosa,
        4. os mercados se fecharam,
        5. o câmbio tirou 30% da renda rural em quatro anos.
        att.

      • Eu nao tinha visto que a venda de colheitadeiras so diminuiu em 2005, portanto a hipotese de risco politico nao parece plausivel.

        Mas nao entendi a conexao entre a venda de colheitadeiras e a febre aftosa.

        O que voce quis dizer com “os mercados se fecharam”?

      • Prezado Irineu,
        no caso, estava falando apenas de problemas gerais da agropecuária, sem me referir diretamente às colheitadeiras. No caso, só se o pecuarista também fosse produtor rural…
        “Mercados se fecharam” significa que os importadores de carne brasileira se retraíram com receio da contaminação.
        att.

      • Sim, entendi. Eu inclusive chequei os dados de preço da soja e a narrativa que você contou faz sentido. A queda das vendas de colheitadeiras coincide com dois anos “fracos” nos preços internacionais da soja.

Deixe um comentário