ATMs: Modernização dos Caixas Automáticos

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Marcelo Pinho (Valor, 29/10/13) simula os seguintes passos: entrar no banco e conversar com o caixa eletrônico; ainda na fila, usar o smartphone para adiantar a transação; e quando chegar sua vez apenas encostar o aparelho ao lado do terminal. Nada de cartões, senhas, nem teclas. Esse cenário está perto de acontecer. É o que prometem as diversas fabricantes dos chamados ATMs, que no Brasil hoje somam cerca de 180 mil unidades espalhadas pelo país.

Esse cenário futurista ainda não está ao alcance dos clientes dos bancos em geral. Mas nos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de algumas empresas e instituições financeiras elas já são uma realidade. No caso do Banco do Brasil, encontra-se em fase final de desenvolvimento o terminal Bio 001.

“Desenvolvemos uma tecnologia sem similar no mundo. O cliente quando se aproxima do terminal é identificado pela biometria facial. Ele pode autenticar as transações pela biometria da íris e voz. Além dessas duas opções, haverá a seleção pelo olhar, que identifica a retina como se fosse um mouse. Futuramente vai atender quem não consegue se movimentar ou falar”, diz Germano Alíbio, gerente da equipe de inovação da diretoria de tecnologia do BB.

O Bio 001, no entanto, ainda vai demorar a ser uma realidade para todos os clientes. A previsão do banco é que em 2014 algumas unidades do aparelho sejam instalados em pontos estratégicos, como agências conceito e aeroportos.

Outra novidade que pode chegar aos terminais não é aparente para o usuário, mas terá grande importância para os bancos. A chamada reciclagem de notas e o depósito inteligente são apontados como a nova tendência tecnológica desses terminais.

No caso do depósito inteligente, a novidade é a máquina ser capaz de checar a quantidade de dinheiro ou cheques depositados e já fazer o processamento dos dados na conta do cliente. “No depósito inteligente o cliente coloca as notas, a máquina separa seu dinheiro, valida notas verdadeiras e rejeita as falsas, faz a captura, faz a leitura do valor e diz na tela o valor lido. Mostra as imagens e pede para confirmar. Quando você concorda ele atualiza no seu saldo”, explica Elias Rogério da Silva, vice-presidente para América Latina da NCR.

Já as recicladoras são uma tecnologia para permitir que a mesma cédula depositada possa ser usada no saque de outro cliente. Esse procedimento reduz a quantidade de vezes em que um caixa precisa ser reabastecido. Luis Roque da Silva, diretor de vendas da Wincorf Nixdorf, especializada em ATMs, explica que essa tecnologia deve passar a estar presente em mais de 5 mil caixas eletrônicos no país nos próximos dois anos.

Essas novidades representam, em boa parte, vantagens e mudanças para os bancos. A mudança para visível para o cliente está na biometria. Todos os bancos afirmam ter essa tecnologia presente em boa parte dos terminais, com o objetivo de estendê-la para toda a rede. No caso do Bradesco, 14 milhões de clientes já estão cadastrados para usar o reconhecimento biométrico. No Itaú, além da biometria, outra novidade é o processo de confirmação de operações dos clientes em meios eletrônicos. “Para as contratações de produtos realizadas pelo gerente em que o cliente não esteja presencialmente na agência, o cliente, em vez de ir a sua agência assinar o contrato, pode realizar a assinatura eletronicamente em um de nossos 30 mil caixas eletrônicos ou nos outros canais de atendimento como internet e mobile”, explica Andre Sapoznik, diretor-executivo de canais eletrônicos do Itaú Unibanco

Essas novidades estão à disposição de clientes portadores de necessidade especiais. O Bradesco disponibiliza máquinas de autoatendimento para pessoas com deficiência física e visual. No Itaú, 99,7% das agências têm pelo menos um equipamento que segue a norma da ABNT que rege o setor de caixas automáticos. No Santander, do total de 17 mil ATMs, 86% possuem acessibilidade.

A tecnologia tem afetado diretamente as carteiras dos brasileiros. A revolução da tecnologia da informação vivida nas últimas décadas tornou raro o antes tradicional talão de cheques nas carteiras. Os cartões ocuparam esse espaço em larga medida. Mas, pelo menos por enquanto, a parte reservada às cédulas de papel segue sendo usada por boa parte da população.

De acordo com o diretor de cartões do Banco do Brasil, Raul Francisco Moreira, o número de transações feitas com cartões de débito ou crédito devem encerrar 2013 perto dos R$ 800 bilhões, alta de 17% em relação a 2012.

Já os números da Centralizadora da Compensação de Cheques do Banco do Brasil mostram que em janeiro 1997 mais de 260 milhões de cheques foram emitidos. Em agosto deste ano, esse número caiu para apenas 68 milhões de folhas compensadas.

José Praxedes, presidente da Telecheque, explica que além da segurança, a popularização das TEDs (transferências eletrônicas de valores) retirou dos cheques parte de sua importância. Apesar disso, os cheques seguem com uma importante função no sistema financeiro brasileiro. Como a bancarização da população ainda não é tão alta como em países desenvolvidos, o crédito não está acessível a uma parcela relevante da população.

“Boa parte da população ou não tem cartões ou tem um limite muito baixo. Para elas, o cheque faz a função de crédito. A compra parcelada pode ser feita por meio de cheques pré-datados, deixando assim o limite dos cartões para outras compras”, diz Praxedes. Pesquisas da Telecheque apontam que cerca de 80% dos cheques emitidos no país são para fazer compras parceladas.

Para Praxedes, o uso dos cheques deve permanecer por muitos anos, em função da concentração de renda no país. Ricardo Teixeira, coordenador do MBA em gestão financeira da FGV, não é tão otimista. Para ele, se uma determinada pessoa possui crédito em cheques é porque também pode ter por meio de cartões, fazendo com que em um dado momento ela aposente o cheque.

Já no caso das cédulas, Moreira, do Banco do Brasil, conta que a quantidade de transações feitas por meio de cédulas é idêntica às feitas com cartões. Segundo ele, este ano, os saques em dinheiro feitos nas instituições financeiras chegou a quase R$ 900 bilhões.

“É um paradoxo. Cresce dos dois lados. Os saques em caixas eletrônicos cresceram 60% entre 2008 a 2012. A indústria de cartões cresceu 100%, mas é um percentual semelhante”, diz.

Para o executivo, com mais atividade econômica, cresce a necessidade de os clientes sacarem dinheiro para fazer pagamentos a pessoas que não possuem contas. “Fomos estudar onde ocorre o crescimento, qual segmento. Os clientes com mais renda usam débito e crédito. E são os que mais sacam nos nossos caixas também. Concluímos que isso decorre da necessidade de entregar dinheiro para pessoas com menos renda. Pagar o pedreiro, a diarista. O crescimento de renda faz com que os dois cresçam juntos”, diz.

 

2 thoughts on “ATMs: Modernização dos Caixas Automáticos

  1. Prezado Fernando,

    É a modernidade. Mesmo assim, a bandidagem parece que anda kms à frente. Acabei de retornar do BB, onde contestei as compras no meu cartão, que foi clonado nesses últimos dias. O Banco abriu processo e no mesmo instante devolveu 99 por cento, pois tratava-se de PP antiga e nova. O retorno da antiga demora uns 15 dias. Detalhe: usei este cartão numa emergência duas vezes neste mês de janeiro em 2 estabelecimentos. Imagina o que isto pode significar?

    Enfim, tudo isto gera insegurança, aborrecimento e etc.

    Clonagem de cartão, a gente sabe, é coisa antiga. Clonaram de um amigo meu que estava no exterior. De repente ele vai sacar e nem um tostão. De lá teve que resolver o problema com o banco aqui no Brasil. Imagina a situação.

    Vamos ver se melhoram também a segurança neste aspecto. Afinal, fazer compras com cartão, ainda é o jeito “mais seguro”.

    Att,

    Clélia

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