Cooperativa amplia Rede Física: R$ 391 bilhões em Saldo de Crédito

Na contramão dos bancos, as cooperativas de crédito ampliaram sua presença física em 47% nos últimos cinco anos e seguem investindo na proximidade com os clientes para crescer no mercado brasileiro. O resultado foi um aumento de 163% na carteira de crédito de 2019 a 2023, para perto de R$ 392 bilhões, segundo dados do Banco Central (BC). A alta foi muito superior à dos bancos comerciais, que têm enxugado a rede de agências e cuja carteira cresceu 60% no mesmo período, para R$ 3,2 trilhões.

No fim de abril, o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou novas regras para manter o plano do BC de aumentar a participação das cooperativas no total de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN).

Entre os motores do crescimento, segundo as cooperativas, estão o impulso ao pequeno negócio, o “sentimento de dono” dos associados e as taxas de serviços atrativas – que em parte se viabilizam pelas isenções tributárias. As cooperativas não pagam Imposto de Renda, PIS e Cofins, o que lhes garante uma vantagem em relação aos bancos, cuja carga de tributos é de quase 50%. Estes, por sua vez, reclamam dessa assimetria em relação às cooperativas com porte de banco.

Apesar de parecer contraintuitivo abrir postos de atendimento quando as transações digitais são quase 80% do total, conforme dados da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a estratégia tem dado resultados, segundo o diretor presidente do Sicredi, César Bochi. O foco não é buscar eficiência, mas ter um local de “relacionamento, suporte e apoio financeiro”, diz.

As instalações são mais simples se comparadas às agências bancárias, já que não armazenam alto volume monetário. “Hoje, a inclusão financeira é muito mais uma questão de letramento financeiro, entendimento e apoio do que de fato acesso à conta. E para isso nós temos que estar próximos”, afirma.

Pesquisas da cooperativa mostram que o acesso à agência física impulsiona o uso de produtos e outros serviços pelos cooperados, em média, em 25%, embora 70% dos associados tenham realizado apenas transações digitais em 2023.

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Queda de ‘spreads’ de Crédito Privado: Bancos lançadores com “Garantia Firme” encarteiram as Debêntures

Depois da forte redução no prêmio pago pelos emissores de debêntures aos investidores em fevereiro, o movimento começou a perder fôlego em março e abril, segundo gestores de recursos. O prêmio, ou “spread”, é a diferença entre as taxas pagas pelos papéis corporativos e os rendimentos equivalentes das NTN-Bs ou do CDI. Os gestores afirmam que há uma espécie de “queda de braço” com os bancos coordenadores das operações para não referendar as captações que saem com custo equivalente ao da NTN-B.

“Esse posicionamento é importante e aponta para um mercado mais maduro e que indica preservar, no momento atual, uma relação equilibrada de risco e retorno”.

“Não estamos vendo demanda dos fundos para novas emissões que não estão pagando prêmio acima da NTN-B.” O estoque estava em 40 pontos-base acima da NTN-B e agora a asset vem comprando a algo em torno de 30 pontos.

O movimento evita um problema oposto ao do ano passado, quando, no pós-Americanas e Light, os fundos tiveram cota negativa na marcação a mercado, levando a uma onda de saques. Os resgates obrigaram os gestores a se desfazerem dos papéis que tinham em carteira a qualquer preço, derrubando ainda mais os valores de compra e venda, e elevando os spreads, num círculo vicioso.

Sem essa demanda, os bancos coordenadores têm assimilado uma parcela maior das operações. Em janeiro e fevereiro, por exemplo, 65% e 74% dos papéis foram distribuídos a mercado, respectivamente, enquanto em março a fatia caiu a 57%, segundo relatório da área de pesquisa do banco ABC Brasil. No mês, as emissões atingiram R$ 60,5 bilhões, segunda melhor marca da série histórica da instituição. Em abril, as previsões são de que essa fatia continue encolhendo.

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Pix e Concorrência leva à Perda de Receita de Tarifas Bancárias pelos Big Five Bancos

Os cinco maiores bancos tradicionais do país – Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa e Santander – tiveram receita de R$ 28,343 bilhões em 2023 apenas com tarifas de “serviços de conta corrente”, como “pacotes de serviços”, TEDs e outras cobranças do tipo. Apesar de a cifra impressionar, ela é cerca de R$ 1 bilhão menor que o valor obtido em 2022 e R$ 5 bilhões inferior aos R$ 33,352 bilhões que esses mesmos serviços geraram em receita para essas instituições em 2019.

A queda é explicada pela ascensão do Pix, pela chegada de novos competidores digitais e também por uma maior transparência na cobrança e uma maior conscientização dos clientes sobre o que pagam.

A retração na receita acontece a despeito do aumento de 27,2% na base de clientes dessas instituições, que chegou a 410,7 milhões ao fim do ano passado, considerando pessoas com conta em mais de um banco.

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Brasil dos Bancos: Podcast

Uma conversa com Fernando Nogueira da Costa, professor de Economia da Unicamp, ex vice-presidente da Caixa, sobre a história dos bancos no Brasil, a surpreendente influência da inflação em muitas tecnologias ainda usada, o que eles viabilizam no Brasil, especialmente quando temos bancos sem atender somente à demanda privada.

Livro Brasil dos Bancos https://amzn.to/43hgHw6

Bancos Públicos do Brasil https://fenae.org.br/portal/data/file…

https://fernandonogueiracosta.wordpre…

Apresentação: Atila Iamarino – Twitter @oatila – Instagram @oatila

Eu, Banco

Historiadores (e psicólogos) discutem, indefinidamente, quando e onde fui parido pela primeira vez. Não há um consenso sobre qual foi o primeiro banco da história.

Uns afirmaram eu ser apenas um “cofre-forte”. Daí eu teria vindo à luz e sido criado em templo, na Mesopotâmia, por volta de 2.000 a.C.

Outros disseram eu ser mais novo. Na China, por volta do século VII, eu teria surgido como casa de câmbio para trocar as moedas de comerciantes de diferentes regiões.

No Ocidente, sou ainda mais rejuvenescido: a abordagem eurocêntrica afirma os primeiros bancos medievais terem surgido na Itália a partir do século XII. Conta uma eletrizante estória cheia de aventuras e violências.

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Bancos Públicos no Brasil: Baixe a Nova Edição

Segundo a argumentação clássica latino-americana, “a experiência parece ensinar: exceto quando são expressamente criadas instituições financeiras ‘desenvolvimentistas’ sob controle do setor público, dificilmente um país pode resolver os problemas de transferência espacial ou intersetorial de recursos, para regiões ou setores mais atrasados (ou para novos setores), através do desenvolvimento espontâneo de seus intermediários financeiros” (CEPAL; 1971: 109). Em síntese, os bancos públicos existem para corrigir as falhas do mercado.

A concessão de crédito por parte de bancos privados rege-se, evidentemente, por considerações de rentabilidade, liquidez e risco das aplicações – e não por seus fins sociais ou desenvolvimentistas. O acesso ao crédito dos bancos privados é determinado pelas garantias possíveis de ser oferecidas e juros cobrados. Geralmente, só são favorecidos os já estão instalados nos setores de mais alto retorno financeiro e capazes de oferecerem, em consequência, aplicações seguras.

Não seria de esperar caber a uma Instituição Financeira Privada a responsabilidade de:

  1.  corrigir determinado padrão de desenvolvimento,
  2.  redirecionar a distribuição dos recursos para outros setores prioritários ao desenvolvimento, e
  3.  fomentar a elevação da taxa de investimento contraciclo.

Caberia à Instituição de Políticas Públicas, a qual não visa, acima de tudo, a maximização de seu lucro para acionistas em curto prazo, o papel de contribuir para o fomento do desenvolvimento. Com a funcionalidade “desenvolvimentista”, os bancos públicos assumem um papel ativo (não neutro) na distribuição de recursos,  sendo direcionados para fins qualificados como prioritários pela política pública. Esses fins sociais e econômicos serão diferentes daqueles orientados apenas por critérios da rentabilidade privada.

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Mariana Mazzucato contra o Sistema Financeiro

Mariana Mazzucato é uma economista ítalo-americana-britânica desenvolvimentista. Infelizmente, em seu livro O Valor de Tudo: Produção e Apropriação na Economia Global (2018), ela se rebaixa ao nível dos autores denunciantes da “financeirização” do capitalismo contemporâneo, em uma visão reacionária, isto é, reagindo contra o avanço da história. O tempo não é reversível

Coloca-se em suposta defesa da conservação da Teoria do Valor-Trabalho marxista. Está em via de extinção, devido ao adeus ao proletariado com a robotização e/ou a automação das linhas de montagens na indústria.

Demonstrando desconhecimento de causa, ela insiste em falar em “setor financeiro”. Deveria sim tratar de “sistema financeiro”, porque todos os agentes econômicos fazem parte dele, seja como clientes, seja como entidades participantes, porque é útil!

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Sistema Bancário dos EUA: Concentrado nos “Big Four”

Ativos dos Bancos BRIC X EUA EURO

O J.P. Morgan Chase ficou com quase um quinto de todo o lucro dos bancos dos Estados Unidos nos primeiros nove meses de 2023, aproveitando um ano de turbulência no setor financeiro do país para emergir ainda mais dominante. Sua subsidiária bancária nos EUA teve um lucro de US$ 38,9 bilhões – cerca de 18% do total do setor -, de acordo com cálculos do “Financial Times” baseados em dados do BankRegData, que monitora o setor.

Se esse padrão se mantiver para o ano todo, o J.P. Morgan terá conquistado uma fatia tão grande dos lucros do setor como não conseguia desde 2009, quando muitos bancos ainda se recuperavam da crise financeira. Seus lucros no período ultrapassaram os ganhos somados do Bank of America e do Citigroup, seus rivais no grupo dos “Big Four”. A eles se soma o Wells Fargo, queixando-se: “O J.P. Morgan é o Golias dos Golias”.

Os dados não são abrangentes. Eles cobrem os lucros de subsidiárias com depósitos garantidos pela Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), os ganhos do J.P. Morgan com operações bancárias de varejo e comerciais e de partes de seu banco de investimento e da divisão de “trading”. Nem todos os rivais do banco têm essa conglomeração financeira nos EUA.

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PIX e Inclusão Financeira

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Nos semáforos da capital paulista tem vendedor de paçoca e de pano de prato com bilhetinhos impressos grampeados, artistas de rua e pedintes com cartazes escritos à mão. Em comum, nenhum deles pede pagamento ou ajuda em dinheiro, mas via Pix, o sistema de transferência instantânea de recursos adotado no Brasil nos últimos três anos.

No terceiro trimestre de 2021, na reabertura lenta da economia, com o arrefecimento da pandemia, já era possível ver barqueiros e motoristas de “buggy” em Mangue Seco, na Bahia, aceitando receber por meio da ferramenta pelo serviço de transporte turístico – e depois pagarem com ela a conta do mercadinho.

Do fim de 2021 até dezembro de 2022, a tecnologia de pagamento tinha contribuído para incluir 71,5 milhões de usuários no sistema financeiro, segundo o Banco Central (BC). Em 2023, só em novembro, foram realizadas 4,3 bilhões de operações, o que significa que cada brasileiro fez mais de 20 transações, levando-se em conta o tamanho da população, de mais de 200 milhões de pessoas.

No meio desse contingente, um público até então invisível para os bancos passou a transitar em seus canais. Estudo feito pelo Centro de Pesquisas Econômicas e Empresariais do Reino Unido, a pedido do Principal Financial Group, mostra: o Brasil avançou 14 posições no ranking de inclusão financeira mundial entre 2022 e 2023, puxado pelos serviços digitais, em especial o Pix.

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Bancarização no Brasil: 97% da População Adulta

O público-alvo bancário é a população adulta urbana. Ela está praticamente toda bancarizada!

A digitalização financeira continua avançando, embora 4,6 milhões de brasileiros adultos ainda não tenham conta em banco. Dados inéditos do Instituto Locomotiva, referentes a agosto de 2022, mostram que 3% dos brasileiros acima de 18 anos não estavam bancarizados.

Houve, porém, uma mudança significativa em relação ao levantamento anterior, de janeiro de 2021, quando números anteriores do instituto apontavam para 16,3 milhões de pessoas nessa situação.

Mas o aumento da abertura de contas não significa que mais pessoas estão usufruindo plenamente do serviço financeiro. Os dados indicam que 16% dos brasileiros com mais de 18 anos (24,4 milhões) não movimentaram a conta na semana anterior ao levantamento.

Com isso, a parcela de pessoas sem conta ou que fazem poucas movimentações representa 19% (29 milhões) do total. No levantamento anterior, 21% (34 milhões) tinham pouco acesso e não haviam feito movimentações no mês anterior à pesquisa.

O Instituto Locomotiva ouviu 1,5 mil pessoas entre os dias 19 e 29 de agosto de 2022, e fez projeções sobre a população de 152,8 milhões de brasileiros acima de 18 anos. Os dados foram cruzados com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e o Censo de 2022, ambos do IBGE. A margem de erro é de 2,8 pontos percentuais.

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Complexidade do Faturamento com Cartões de Crédito por Lojistas, Bancos, Maquininhas e Bandeiras em cima dos Consumidores sem Diferenciação de Preços à vista e a prazo.

Com aprovação, pelo Senado, do projeto de lei que limita o rotativo dos cartões de crédito, os bancos correm contra o tempo para apresentar uma solução para reduzir as taxas de juros da modalidade. Os emissores têm 90 dias para propor um novo desenho. Do contrário, a cobrança não poderá ultrapassar 100% do valor principal da dívida.

Uma solução definitiva, no entanto, passa por mexer em um mercado onde há subsídios cruzados e participantes com interesses antagônicos como ficou visível nas discussões sobre o rotativo ao longo dos últimos meses.

O mercado de cartões tem uma dinâmica complexa. Envolve múltiplos repasses entre 1. emissores (bancos e fintechs), 2. credenciadoras (as “maquininhas” de cartão), 3. lojistas, 4. bandeiras e 5. consumidores endividados e inadimplentes. Qualquer alteração nesse desenho tem potencial de afetar o equilíbrio já sensível de remuneração. A disputa levou o setor a um clima de guerra e se tornou ainda mais acirrada com a inclusão do parcelado sem juros nos debates, tema há tempos opondo os segmentos da indústria de cartões.

Acompanhar a discussão – que tem movimentado empresas, governo, Banco Central (BC) e Congresso – passa por entender como cada elo da cadeia ganha dinheiro e, portanto, o que está em jogo.

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Atividades Bancárias Comerciais e/ou de Investimento

A Lei Glass-Steagall, também conhecida como a Lei Banking Act de 1933 nos Estados Unidos, visou separar as atividades bancárias comerciais das atividades de investimento. Ela foi implementada como resposta à Grande Depressão e tinha como objetivo evitar conflitos de interesse e reduzir os riscos associados à mistura de ambas as atividades.

Na Era Neoliberal, iniciada com a eleição de Ronald Reagan nos Estados Unidos (e Margareth Thatcher na Inglaterra), houve a desregulamentação do sistema financeiro. A revogação da Lei Glass-Steagall em 1999 levou à consolidação dos bancos comerciais e os bancos de investimento.

Desse modo, essas instituições financeiras passaram a prestar serviços bancários comerciais tradicionais, bem como praticar atividades de investimento e especulação. A crescente interconexão entre mais componentes elevou a complexidade do sistema financeiro norte-americano e resultou em “bancos grandes demais para falir”.

Durante a Grande Crise Financeira (GCF) de 2008, muitos bancos enfrentaram problemas, devido a investimentos arriscados e à exposição a ativos de baixa qualidade, como títulos lastreados em hipotecas subprime. Isso resultou da bolha no mercado imobiliário inflada pela securitização de hipotecas de alto risco.

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