Cartão Pré-Pago de Viagem

Meios de Pagamento no Exterior

Quanto custa levar dinheiro para o exteriorGastos em dólarEduardo Campos, Felipe Marques e Thais Folego (Valor, 30/12/13) informam que, dado o déficit na Conta de Serviços da rubrica “Viagens Internacionais”, o governo baixou uma medida que vai deixar mais caras as compras no exterior. O Ministério da Fazenda anunciou o aumento da alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrado nas transações no exterior com cartões pré-pagos. A alíquota sobe de 0,38% para 6,38% – a mesma do cartão de crédito. Com isso, elimina o grande apelo de vendas que fez o pré-pago de viagem crescer substancialmente desde o fim de 2012 e movimentar R$ 3,04 bilhões neste ano, até novembro, segundo o Banco Central – ou 14% do total dos gastos de brasileiros fora do país. A medida atinge também os demais pagamentos com cartão de débito no exterior, cheque de viagem e saques feitos lá fora.

O uso de cartões pré-pagos em viagens no exterior se sedimentou em 2013. Em novembro, respondeu por 12,5% dos gastos totais de brasileiros no exterior, de acordo com dados do BC. Em agosto, o pico da série histórica, foi 16,4% dos gastos. Para se ter uma ideia do tamanho do avanço, em agosto de 2012 o pré-pago representava apenas 2,8% dos gastos fora do país.

O crescimento do pré-pago foi, em grande parte, impulsionado pelo próprio governo. Em março de 2011, a Fazenda elevou, de 2,38% para 6,38%, o IOF das compras com cartão de crédito no exterior, tornando o pré-pago uma alternativa mais atraente, também na comparação com o dinheiro em espécie.

O cartão pré-pago de viagens se transformou em um pilar de negócios para bandeiras de cartões (como Visa, MasterCard e American Express), bancos e corretoras – nesta seara, vinham se destacando a Cotação (do Banco Rendimento), a Confidence (comprada pela Travelex), a Fitta e o Banco Daycoval. São modelos de negócio que acabarão, em alguma medida, sendo revistos após o anúncio do governo.

Entre os impactos iniciais, as corretoras de câmbio preveem um aumento de custos e riscos, na medida em que os clientes devem preferir levar moeda em espécie para o exterior, já que o IOF do dinheiro vivo continua sendo de 0,38%. A logística para trabalhar com papel moeda é mais complexa, além de envolver mais riscos. As corretoras têm de importar papel moeda, transportar os valores e depois distribuir pelas casas de câmbio.

Com o uso do cartão pré-pago, a operação é mais simples e segura para os dois lados. O risco de roubo para a loja que vende o cartão pré-pago é zero. Se ela for roubada, o ladrão leva plástico. Agora, se as lojas passam a precisar de mais dinheiro para entregar aos clientes, o risco em caso de roubo aumenta. Hoje o cartão pré-pago representa 35% das entregas de câmbio nas lojas do banco, sendo o resto em espécie. As entregas em dinheiro vivo vão tomar parte do espaço conquistado pelos pré-pagos. O pré-pago ainda tinha a vantagem de fidelizar os clientes.

Os cartões pré-pagos ganharam espaço por alguns anos sem o benefício da diferença de IOF com o cartão de crédito. Em 2003, quando os pré-pagos começaram no Brasil, o IOF do cartão de crédito também era baixo, e mesmo assim eles cresceram, substituindo, no primeiro momento, a moeda em espécie. Em 2011, quando o governo aumentou o imposto para o cartão de crédito, os pré-pagos já respondiam por 50% do câmbio feito pela Cotação.

De acordo com a nota da Fazenda, a nova alíquota do IOF passou a valer já no dia 28 de dezembro de 2013. No entanto, como a medida entrou em vigor praticamente de imediato, sem dar tempo para ajustes, acabou trazendo problemas operacionais para as corretoras.

A venda do cartão pré-pago com moeda estrangeira – e qualquer outra operação de câmbio – realizada após o expediente bancário de uma sexta-feira só é registrada na segunda. Então, há a dúvida de como será feito o registro das operações de câmbio realizadas na última sexta-feira com o IOF menor. Quem vai pagar esse IOF [novo] na segunda?

Houve uma confusão grande no mercado em função dessa e de outras questões operacionais, como a atualização de sistemas das casas de câmbio em pontos de venda que funcionam durante o fim de semana, como shoppings e aeroportos.

Do ponto de vista macroeconômico, a medida faz sentido. A elevação do imposto para outros tipos de meios de pagamentos no exterior, além do cartão de crédito, é correta, porém tardia. Era uma válvula de escape de muitos dólares. Segundo a Fazenda, a medida trará arrecadação estimada de R$ 552 milhões por ano.

Até novembro de 2013, a conta líquida de viagens internacionais estava negativa em US$ 17 bilhões. A projeção do BC é que essa conta feche o ano negativa em US$ 18,6 bilhões e suba a US$ 19 bilhões em 2014. O gasto é excessivo e grande parte não é turismo puro, mas sim compras de brasileiros no exterior que não pagam tributos.

O Ministério da Fazenda explicou, na nota, que a ideia da medida é dar “isonomia de tratamento às operações com moeda estrangeira”. Para a Abracam, isso não faz muito sentido, pois a moeda estrangeira em espécie continua com tributação de 0,38%. “Não consegui entender o objetivo. Isso só prejudica o usuário, que acabará comprando o papel moeda. Só aumenta o risco do viajante, que passará a andar com mais moeda.”

1 thoughts on “Cartão Pré-Pago de Viagem

  1. Estamos substituindo cada dia mais o papel moeda pelo “papel de plástico” em nosso cotidiano, principalmente no momento de fazer compras, inclusive esse era um movimento que estava acontecendo em nossos passeios pelo exterior. Agora, com essa medida do governo, o jeito é comprar uma carteira maior ou usar calças com mais bolsos…

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