Milionários: Quando o bastante basta? Por que os afortunados não conseguem se livrar da rotina do enriquecimento?

Mobilidade Social dos Milionários

Quem pensa que os milionários têm a vida ganha está muito enganado. Assim como pessoas com um padrão considerado normal, indivíduos de alta renda lutam para manter a riqueza adequada aos seus estilos de vida, que não tendem a ser modestos.

Mas não é só isso. Como alerta a Teoria da Classe Ociosa, livro de autoria de Thorstein Veblen (1857-1929), publicado em 1899, época dos chamados Barões Ladrões nos EUA, dominada por novos magnatas como Vanderbilt (das ferrovias) e Rockfeller (do petróleo), entre outros poucos, é custoso para os milionários demonstrar que não necessitam trabalhar, manualmente, como os servos e escravos, na época, recentemente libertados.

O esnobismo — atitude de quem despreza o relacionamento com gente humilde e imita, geralmente de maneira afetada, o gosto, o estilo e as maneiras de pessoas de prestígio ou alta posição social, e/ou assume ares de superioridade a propósito de tudo com um sentimento de superioridade exacerbado e gosto excessivo pelo que está na moda, inclusive as trivialidades — custa caro, não só em dinheiro e tempo, mas também em termos comportamentais:

  1. pressão para manter o padrão de vida,
  2. preocupação com o impacto da fortuna sobre os valores dos filhos,
  3. arrependimento por não dedicar tempo suficiente à família,
  4. temores em relação ao futuro financeiro das próximas gerações,
  5. busca incessante por aumentar o patrimônio.

Aí, que canseira… Cansei. Mesmo não sendo de direita como os idiotas em voga…

Esses comportamentos dos milionários é o que revela a pesquisa “When is enough… enough? Why the wealthy can’t get off the treadmill” (Quando o bastante…basta? Por que os afortunados não conseguem se livrar da rotina?, na tradução livre), elaborada pelo UBS com 2.215 milionários americanos entre os dias 11 e 19 de março de 2015. Beatriz Cutait (Valor, 29/04/15) a resumiu.

Leia o original

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Esses investidores têm ao menos US$ 1 milhão em patrimônio líquido, dos quais 610 deles com ao menos US$ 5 milhões.

A ideia da pesquisa é identificar necessidades, objetivos e preocupações dos participantes. Ainda que desfrutem de uma grande dose de alegria e apreço pelo que já ganharam, o UBS aponta que muitos milionários sentem-se compelidos a lutar por mais, estimulados por:

  1. a própria ambição,
  2. o desejo de proteger a vida de suas famílias e
  3. um sempre presente medo de perder tudo que já foi conquistado.

Metade dos investidores (52%) de alta renda sente-se em alguns momentos presa a uma rotina no trabalho da qual não pode sair sem abrir mão do padrão de vida ao qual sua família acostumou-se.

Embora dois terços dos milionários aleguem que alcançar a segurança financeira é o principal objetivo de se trabalhar para construir riqueza, só os muito ricos (no caso aqueles com US$ 5 milhões ou mais) sentem ter o suficiente para estarem seguros.

A ambição por mais riqueza, por sinal, segue presente nessa faixa de renda. A satisfação cresce conforme o patrimônio aumenta, da mesma forma que as expectativas em relação ao estilo de vida acompanham essa evolução. A pesquisa revela que 58% dos milionários disseram que suas expectativas têm aumentado nos últimos dez anos, isto é, os ricos querem cada vez mais.

Se tivessem apenas mais cinco anos para viver:

  • 87% desses investidores de alta renda sinalizaram que fariam as coisas de maneira diferente.
  • 64% afirmaram que viajaria mais,
  • 61% dos entrevistados disseram que dedicariam mais tempo à família,
  • 44% se aposentariam,
  • 37% seriam melhores pessoas (!), e
  • apenas 3% dos consultados afirmaram que trabalhariam mais para sustentar a família.

Essa, por sinal, é outra preocupação dos investidores: o impacto da fortuna sobre os filhos, ou melhor, o mau relacionamento com eles, pois pautado na desconfiança.

  • 65% consideram que os herdeiros não entendem o valor do dinheiro;
  • a maioria (54%) ainda acredita que os filhos não reconhecem os sacrifícios feitos para eles e
  • quase metade dos milionários avalia que os herdeiros não conseguem tirar pleno partido das oportunidades que lhes foram dadas e se preocupa que eles acabem com “um plano de carreira instável” — traduzindo do tucanês: pobres!

O trabalho pesado foi citado como a principal razão da geração de riqueza dos mais afortunados, que mudaram de classe social ao longo da vida. O autoengano é importante para a autoestima! E a ideologia da meritocracia se presta a isso…

Quanto à mobilidade social, 77% dos entrevistados têm uma origem mais pobre, tendo crescido como classe média ou classe mais baixa (trabalhadores manuais ou pobres). Mas, atualmente, 65% se classifica como classe média alta e apenas 10% como classe alta (veja quadro acima)!

A educação pode ter sido um fator-chave para o sucesso desses milionários, já que quase metade dos que têm um patrimônio de até US$ 5 milhões tem graus avançados de formação (mestrado, doutorado ou especialização). Quando são abordados os investidores com uma fortuna acima desse montante, a fatia cresce para 65%.

Vivemos uma Era dos Super-Executivos. São pessoas formadas em Universidades que obtém remunerações milionárias quando sobem para a alta administração de empresas. São baseadas no poder hierárquico da diretoria definir a própria remuneração — e o CA e a AGE docilmente sancionando-a.

Não bastando preocuparem-se com o valor dado pelos filhos à riqueza, esses investidores temem um declínio das próximas gerações, após sua própria ascensão. Nesse sentido, os netos poderiam não contar com as mesmas oportunidades que seus filhos.

É a chamada “síndrome da colher-de-prata“. As pessoas ricas têm dinheiro para resolver quase todos os seus problemas, com exceção de um: os filhos crescem e muitos se tornam herdeiros preguiçosos, materialistas e infelizes.

E isso, segundo os pais, envolve a própria condução do país (no caso, os Estados Unidos), já que é mais fácil, psicologicamente, transferir responsabilidades:

  • sete em cada dez entrevistados sentem que o “sonho americano” de ascensão social por meio do trabalho duro está em risco e
  • dois terços preocupam-se com a crescente desigualdade de riqueza no país!

De acordo com o levantamento, ainda que:

  • quase dois terços dos milionários apreciem suas carreiras profissionais,
  • 64% dos entrevistados com filhos sentem ter sacrificado tempo com sua família para chegar onde estão.

Ao serem questionados sobre o maior arrependimento na vida:

  • 23% citaram algum erro em um relacionamento familiar e
  • 17% mencionaram o fato de não passar mais tempo com a família.

A família citada como prioridade dentre as aspirações de vida, com a carreira no último lugar em ordem de importância. Pesquisa de opinião expressa, geralmente, uma falsa opinião perante o entrevistador, ou seja, o pesquisado é autocomplacente, caracterizando-se pela transigência consigo mesmo

O estudo ainda segmenta os dados conforme gerações. Ela mostra que a pressão e a preocupação com a riqueza relatada pelos milionários é ainda maior na geração Y, conhecida como “Millennials” (pessoas nascidas a partir dos anos 80 até meados da década de 1990).

Um sentimento de competitividade se manifesta:

  1. nas decisões de carreira e
  2. no comportamento pessoal.

Conforme a pesquisa, os Millennials são mais propensos a sentir pressão para trabalhar longas horas que os chamados “baby boomers” (pessoas nascidas após a Segunda Guerra Mundial). E mais da metade desses jovens (52%) teme perder sua riqueza, o maior percentual quando comparado com outras três gerações.

Explicação econômica-comportamental (ou psicológica-econômica) para isso? Os baby boomers, cujos pais perderam a riqueza durante o período entre a I e a II Guerra Mundial, além da Hiperinflação dos anos 20 e a Grande Depressão dos anos 30, não herdaram ou a herança foi pouca. Já os millennials estão herdando muito tarde, já que os pais estão demorando mais a morrer. Desde logo, herdam apenas os problemas psicólogicos — a má consciência — dos pais afortunados…

3 thoughts on “Milionários: Quando o bastante basta? Por que os afortunados não conseguem se livrar da rotina do enriquecimento?

  1. Pingback: A fome de dinheiro de quem já tem muito dinheiro | TIJOLAÇO | “A política, sem polêmica, é a arma das elites.”

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  3. O poder, a auto preservação e tudo que advém da vontade de se sobrepor a outrem é o mais puro sentimento (ou instinto) do ser primitivo. É esse sentimento que move o macho alfa, capaz de matar outros machos, mesmo filhotes, para se prevalecer no bando. O que diferencia o ser humano de outros animais é a capacidade de se compadecer, de colocar-se no lugar do outro e assim, não procurar prevalecer-se sobre os outros seres humanos. Parece estranho dizer que todo o glamour dos ricos e toda a admiração do pobre retrata somente a involução do ser humano. A evolução está na compaixão, na caridade e no desapego.

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