O Fragilista

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Nassim Nicholas Taleb, no livro “Antifrágil: Coisas que se beneficiam com o Caos” (RJ: Best Business, 2015), diz que “tendemos a evitar mexer com o que não entendemos”. Bem, algumas pessoas são propensas ao contrário.

O fragilista pertence àquela categoria de pessoas que estão, geralmente, de terno e gravata, muitas vezes, às sextas-feiras; ele reage às suas piadas com solenidade glacial, e tende a desenvolver problemas nas costas ainda jovem, por se sentar a uma mesa, andar em aviões e ler com afinco as notícias de jornais. Muitas vezes, está envolvido em um ritual estranho, algo comumente chamado de “reunião”. 🙂

Mas, além dessas características, ele se reconfigura para pensar que o que não vê não existe, ou que o que não entende não existe. No fundo, ele tende a confundir o desconhecido com o inexistente.

O fragilista se apaixona pela “ilusão soviética de Harvard”, a superestimação (não científica) do alcance do conhecimento científico. Devido a essa ilusão, ele é o que se chama de um racionalista ingênuo, um racionalizador, ou, às vezes, apenas um racionalista, por acreditar que as razões por trás das coisas lhe são automaticamente acessíveis.

E não confundamos racionalização com racionalos dois são, quase sempre, exatamente o contrário. Fora da física e geralmente em domínios complexos, as razões por trás das coisas tendem a se tornar menos óbvias para nós, e ainda menos óbvias para o fragilista. Essa propriedade de as coisas naturais para não se fazerem presentes em um manual do usuário não é um obstáculo muito grande: alguns fragilistas se reunirão para escrever o manual do usuário, graças à sua definição de “ciência”. 🙂

Assim, graças ao fragilista, a cultura moderna tem desenvolvido, cada vez mais, uma cegueira ao misterioso, ao impenetrável — ao que Nietzsche chamou de o dionisíaco — na vida. Ou, para traduzir Nietzsche no vernáculo menos poético, porém não menos perspicaz, do Brooklyn, isso é o que Taleb chama de “jogo de otário”.

Em suma, o fragilista (planejamento médico, econômico, social) é aquele que faz você envolver-se em políticas e ações, todas artificiais, nas quais:

  1. os benefícios são pequenos e visíveis, e
  2. os efeitos colaterais são potencialmente graves e invisíveis.

Existe:

  1. o fragilista médico, que nega exageradamente a capacidade natural do corpo para se curar, e prescreve medicamentos com efeitos colaterais potencialmente muito graves;
  2. o fragilista político (o planejador social intervencionista), que confunde a economia com uma máquina de lavar roupa que precisa de reparos constantes (feitos por ele) e a faz pifar;
  3. o fragilista psiquiátrico, que medica crianças para “melhorar” sua vida intelectual e emocional;
  4. a fragilista mãe-coruja;
  5. o fragilista financeiro, que faz as pessoas adotarem modelos de “risco” que destroem o sistema bancário (e então as usa novamente);
  6. o fragilista militar, que causa perturbações aos sistemas complexos;
  7. o fragilista prognosticador, que encoraja os outros a assumir mais riscos;
  8. e muitos outros.

Na verdade, o discurso político está carente de um conceito. Em seus discursos, objetivos e promessas, os políticos se atêm aos tímidos conceitos de “resiliência”, de “solidez”, e não de antifragilidade, e, nesse processo, sufocam os mecanismos de crescimento e evolução.

Não chegamos aqui graças à noção covarde de resiliência. E, o que é pior, não chegamos aqui graças aos criadores de políticas públicas — e, sim, graças ao apetite por riscos e erros de uma classe de pessoas que precisamos incentivar, proteger e respeitar.

[FNC: Taleb, novamente, tal como os demais membros de sua casta de comerciantes, declara seu amor pela livre economia de mercado e seu ódio ao planejamento indicativo das ações individuais.]

3 thoughts on “O Fragilista

  1. Prezado Fernando,

    há uma grande diferença entre não ter o conhecimento necessário para guiar nossas ações e optar como modelo aquilo que muitos consideram um mito (ilusão, pseudociência, crenças inúteis – sem efeito prático positivo). Outro erro em nossas atitudes é adotar o caminho mais fácil: não fazer estudos de casos já existentes, portanto, com resultados que sejam adequados em cada situação.

    Para defender essas proposições cito algumas práticas culturais arraigadas, extensivamente usadas pelo próprio povo brasileiro:

    Crença em Deus (um inexistente)

    Cujos pensamentos e práticas sociais estão ligadas a uma devoção ilusória, sem a menor possibilidade de evolução do próprio pensamento humano.

    Confiança nos políticos e suas propostas

    Não podemos confiar e nem aceitar qualquer proposta que venha como uma solução paliativa para sanar problemas causados pelos próprios políticos – é o mesmo que a crença em Deus – se alguém morre é vontade de Deus, se alguém se salvou idem. Precisamos eliminar os pensamentos circulares inúteis (na minha opinião deveria ser ensinado mais lógica nas salas de aula). Fazer com que nossas redes neurais aceitem: Deus = Null, é a melhor solução que encontrei até o momento.

    Acabar com os partidos políticos, eliminar as divisões e coligações sem o menor sentido

    É urgente que tenhamos leis que unifiquem o interesse da população de forma integral, sem divisões que causem dúvidas. A democracia precisa ser exercida por pessoais que trabalhem para o interesse de todos de uma forma geral e não como está sendo hoje: interesses do partido, legislativo, judiciário, das classes mais favorecidas, dos sindicatos, interesse próprio (do político e sua família), etc.

    Não vamos aceitar divisões do tipo: esquerda, direita, etc.

    O foco do político precisa ser segmentado e vigente de acordo com os seguintes qualificadores:

    Capacidade intelectual e profissional: Administradores, advogados, engenheiros, etc.
    Igualdade perante os demais: eliminar foro privilegiado, salários diferentes dos profissionais que atuam em cada área, etc.
    Igualdade perante as leis: a lei precisa ser igual para todos, sem distinção de classe social ou profissional.
    A corrupção precisa receber a pena máxima: prisão perpétua (quando não pena de morte se o crime for de milhões).

    Adotar o raciocínio crítico com base em estudos mais elaborados

    Caso tenhamos dúvidas sobre algo, vamos à fonte. Eu mesmo estava com uma dúvida esta semana sobre o percentual do nosso DNA ter uma diferença de apenas 1% em relação aos macacos mais próximo: o bonobo e chimpanzé. Então perguntei a um especialista: é correto afirmar que “viemos do macaco” e podemos metaforicamente chamar a todos de “macacos”? O meu colega Victor Rossetti do blog: https://netnature.wordpress.com, me respondeu: é correto afirmar que somos: Primatas Símios ou antropoides (Homens e macacos antropoides pertencem ao grupo de animais que os cientistas chamam primatas)! Segue um resumo aqui:

    CONCEPÇÕES ERRADAS SOBRE A EVOLUÇÃO HUMANA.

    Mesmo que saibamos algo em torno de 5% do universo conhecido até o momento, esse conhecimento está disponível de forma gratuita e livre para ser acessado via internet. Caso a Wikipédia e Google não tenham o que precisamos (fontes mais aprofundadas), consulte os blogs, periódicos em https://archive.org/. Até mesmo a identificação de uma imagem é possível via site: https://www.imageidentify.com/, se tiver dúvidas sobre qualquer cálculo, acesse: http://www.wolframalpha.com/
    Para baixar todos os lançamentos de livros/cursos do momento as fontes são: http://www.ebook3000.com/
    http://lelivros.top/
    http://avxsearch.se/

    A crise que estamos vivendo hoje em nosso país e no planeta, é por falta de atitudes realistas, inação, escolhas equivocadas e todo tipo de inércia. As informações de que precisamos estão em nossa frente: disponíveis e gratuitas, mas infelizmente, as mentes vivem numa bolha chamada inconsciência coletiva, lamentável. Abs.

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