Brasil Rico com Brasileiros Pobres: Baixe o Livro

Segundo a Matriz do Patrimônio Financeiro, elaborada pelo Banco Central do Brasil, em dezembro de 2022, o estoque do Patrimônio Financeiro Bruto (PFB) da economia brasileira, incluindo ativos e passivos com não residentes, alcançou R$ 72,6 trilhões, equivalente a sete vezes o PIB. O saldo consolidado, excluindo posições intrasetoriais (em média, cerca de 18% do PFB), atingiu R$ 59,3 trilhões (seis vezes o PIB).

Interessante registrar: segundo a OXFAM, a riqueza global total em 2022 foi de US$ 454,38 trilhões.  Segundo o Banco Mundial, o PIB do planeta, isto é, a soma da renda gerada em 183 países, naquele ano, alcançou US$ 83,38 trilhões de dólares. A riqueza equivale a quase seis vezes o PIB planetário: é chave, para entender a economia mundial, descobrir onde ela se aloca.

Para uma abordagem sistêmica ou holista, no sentido de entender a essência da economia brasileira, pelo Censo de Capital Estrangeiro, efetuado pelo Banco Central do Brasil, com 2.461 declarantes (participação no capital de 18.285 empresas), o estoque de IDP em 2022 atingiu US$ 1,056 trilhão.  O  estoque IDP (participação no capital) / PIB foi a 42,4% contra 6,1% em 1995, ou seja, a abertura externa como componente-chave da globalização neoliberal levou à grande desnacionalização da economia brasileira.

Na renda primária, a despesa total de lucros de investimento direto e alteração na composição do lucro total afeta o déficit do balanço de transações correntes. As despesas de lucros remetidos são, em sua maioria, pagamentos efetuados sem contrato de câmbio, por meio de contas de depósito no exterior. Quando as despesas de lucros reinvestidos reduzem, impactam o IDP.

Em contrapartida, no ano de 2023, os fluxos de Investimento Direto no Exterior (IDE) totalizaram aplicações líquidas de US$ 28,3 bilhões, ante US$  33,4 bilhões em 2022. Em 2023, os ingressos líquidos de capitais somaram US$ 8,6 bilhões (saídas líquidas de US$ 1,1 bilhão em ações e fundos de investimentos e ingressos líquidos de US$ 9,8 bilhões em títulos de dívida) ante ingressos líquidos de US$ 7,7 bilhões em 2022. A disparidade entre os juros internos e juros externos atraem esse capital.

As reservas internacionais somaram US$ 355,0 bilhões, em dezembro de 2023, iniciando uma recuperação, depois de o Guedes ter “torrado” US$ 50 bilhões. Em 2022, com US$ 324,7 bilhões o Brasil tinha a 10ª. maior reserva em todo o mundo. Graças ao seu crescimento, desde o governo Lula I, afastou a periódicas crises cambiais do passado.

Para entender essa novidade relativamente recente (há menos de duas décadas) — a capacidade de regulação da taxa de câmbio com “flutuações sujas” para evitar a inflação importada –, é interessante analisar se a geração de superávit comercial se tornou (ou não) estrutural.

A economia brasileira obteve o maior superávit comercial de sua história em 2023 com US$ 80,5 bilhões. Quase dobrou o do ano anterior, confirmando uma tendência crescente desde quando houve a emergência da China como o maior parceiro comercial.

Os principais produtos exportados pelo Brasil, em 2023, foram soja (15,7%), óleos brutos de petróleo (12,5%) e minério de ferro (9%). Desse modo, os setores agropecuário e da indústria extrativa puxaram o crescimento das exportações.

O superávit comercial resultou também de uma queda grande no déficit comercial da indústria de transformação: de US$ 57,2 bilhões em 2022 para US$ 37,7 bilhões em 2023. Ocorreu sobretudo pela queda no valor importado em bens industriais, devido à progressiva desindustrialização e baixo crescimento da economia brasileira.

No ano de 2023, as exportações brasileiras registraram o maior valor da série histórica, US$ 344,4 bilhões, aumento de 1,2% em relação a 2022. As importações somaram US$ 263,9 bilhões, recuo de 10,9% em relação ao ano anterior. O fluxo comercial (acima de US$ 600 bilhões em cada um dos dois últimos anos) diante do PIB ficou entre 28% e 33%.

Será esse rearranjo setorial mantido de forma estrutural? A carência de educação, ciência e alta tecnologia e a consequente abertura externa levou à desindustrialização do país.

Para seu desenvolvimento, depende de multinacionais serem aqui instaladas nas áreas de indústria automobilística, energia, comunicações, farmacêutica etc. Várias multinacionais têm atividades em variedade de setores, aproveitando o grande mercado brasileiro e as oportunidades de negócios oferecidas pelo país.

No setor do agronegócio brasileiro, várias empresas multinacionais desempenham um papel significativo como exportadoras de commodities agrícolas e produtos relacionados.

A Cargill é uma das maiores empresas de agronegócio do mundo e tem uma forte presença no Brasil. Ela está envolvida na produção, processamento e exportação de uma variedade de commodities agrícolas, incluindo soja, milho, trigo e carne.

A Bunge é outra grande multinacional no setor do agronegócio, com operações significativas no Brasil. A empresa está envolvida na produção, processamento e exportação de uma ampla gama de produtos agrícolas, como grãos, oleaginosas e açúcar.

A ADM (Archer Daniels Midland) é uma empresa multinacional americana atuante em diversas áreas do agronegócio brasileiro, incluindo processamento de grãos, produção de óleos vegetais, produção de etanol e comercialização de commodities agrícolas.

A Louis Dreyfus Company é uma das maiores empresas de agronegócio do mundo e tem uma forte presença no Brasil. Ela está envolvida na produção, processamento e exportação de commodities agrícolas, como soja, milho, café e algodão.

Embora seja mais conhecida por seu papel na indústria de sementes e defensivos agrícolas, a Syngenta também está envolvida na exportação de produtos agrícolas no Brasil. A empresa oferece uma variedade de soluções para agricultores e desempenha um papel importante na cadeia de abastecimento global de alimentos.

Algumas das principais multinacionais são montadoras na Indústria Automotiva. Por exemplo, a alemã Volkswagen tem uma presença significativa no mercado nacional há décadas e a norte-americana General Motors também produzindo uma variedade de veículos em suas fábricas no país.

Em Tecnologia e Eletrônicos, destacam-se a Samsung e a LG, empresas de origem coreana com investimentos significativos no Brasil em áreas como eletrônicos de consumo, eletrodomésticos e tecnologia da informação. A Apple opera no Brasil, vendendo uma variedade de produtos eletrônicos e oferecendo serviços relacionados, como suporte técnico e aplicativos.

Em Alimentos e Bebidas, a Nestlé é uma das maiores empresas de alimentos e bebidas do mundo e tem forte presença no Brasil, produzindo uma ampla gama de produtos alimentícios e bebidas. A Coca-Cola é uma marca globalmente reconhecida também aqui fabricando e distribuindo bebidas não alcoólicas.

Na atividade Farmacêutica e Saúde, a Pfizer é uma das principais empresas farmacêuticas do mundo e tem operações no Brasil, fornecendo uma variedade de medicamentos e produtos de saúde. A Novartis também tem uma presença no Brasil, desenvolvendo e comercializando uma ampla gama de medicamentos e produtos de saúde.

No Sistema Bancário, o HSBC era uma instituição financeira multinacional antes operando no Brasil, mas não teve capacidade tecnológica para disputar o extenso mercado de varejo brasileiro. Com origem estrangeira, permaneceu apenas o Banco Santander como um dos principais bancos varejistas do Brasil, porque aproveitou a oportunidade de privatização do Banespa, depois de adquirir o banco ABN-Real, descendente do Banco da Lavoura de Minas Gerais, o maior banco privado antes da reforma bancária de 1964.

O fato estratégico, demonstrado no livro digital para download abaixo com meus artigos-resenhas e para divulgações de pesquisas empíricas, escritos no mês de março de 2024, é a economia brasileira ter relativa autonomia financeira, mas não possuir autonomia tecnológica.

O arranjo intersetorial montado foi o exposto antes, tipo agropecuária e extrativa exportam, indústria importa, serviços oferecem ocupações e renda para a imensa população brasileira. O sistema financeiro articula tudo com o sistema de pagamentos digitais, a gestão do dinheiro aplicado e os empréstimos para alavancagem financeira de empregos e renda.

O Banco Central do Brasil colabora, em nome da estabilidade da inflação e contra a fuga de capital para o dólar, com a fixação de uma das maiores taxa de juro real do mundo para a acumulação da riqueza financeira. Mas o país também desfruta das valorizações das ações das multinacionais aqui instaladas, com elas cotadas em bolsa de valores estrangeiras.

O propósito deste livro digital é entender a atual inserção brasileira na economia globalizada, longe da geoeconomia das principais Cadeias Globais de Valor por sua distância diante os países asiáticos industriais e dos blocos comerciais dos países ricos do Ocidente. Estes viraram igualmente produtores e consumidores de serviços urbanos, embora com o diferencial favorável de renda, devido ao domínio científico-tecnológico e às exportações.

O objetivo é trocar ideias a respeito do questionamento sobre uma hipótese de meus colegas e amigos nacional-desenvolvimentistas. Na boa ciência, é sempre necessário o teste de hipótese e se os dados empíricos não a confirmarem, rever os conceitos.

Questiono o reducionismo binário como luta de duas frações capitalistas, ambas com bastante riqueza financeira, como causa da desindustrialização: “fortalecimento dos poderes econômico e político da burguesia financeira, fomentados pela elevação dos juros reais e dos lucros financeiros, enquanto a burguesia industrial perdia espaço; aumento da dívida interna por causa dos juros elevados e da transferência de recursos para o setor financeiro”.

Contraponho a hipótese de, em um longo ciclo de endividamento para a alavancagem financeira da escala de produção e o consequente aumento da rentabilidade patrimonial sobre o capital próprio com uso de recursos de terceiros, há a fase de desalavancagem financeira.

Foi iniciada no Brasil com a retomada da elevação dos juros em abril de 2013 por causa da inflação de alimentos, causada pela quebra de oferta provocada pela seca, portanto, um erro técnico do BCB. Nessa fase, com corte de despesas, queda da produção e aumento da capacidade produtiva ociosa, a preferência é a aplicação financeira das reservas destinadas ao autofinanciamento, quando se iniciar um novo ciclo de alavancagem financeira.

Nós, social-desenvolvimentistas, temos de adaptar nossa estratégia para uma economia globalizada e financeirizada, irreversivelmente. Não devemos  ficar só se lastimando contra a “desindustrialização” e a “financeirização” e denunciando o capitalismo e o neoliberalismo…

Minha tese inusual é a chamada “financeirização” ser positiva inclusive para os trabalhadores fazerem suas reservas financeiras para a aposentadoria, ou seja, substituir a renda do trabalho por rendimentos de juros e/ou saques financeiros. Revi a história do Brasil e foi lamentável o país não ter um sistema bancário disponível quando houve a transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado. Faltou crédito para capital de giro, ou seja, para pagamentos dos novos assalariados.

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Fernando Nogueira da Costa – Brasil Rico com Brasileiros Pobres. mar 2024

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