ão, ão… Abecedário da Economia Contemporânea

Bordão é uma frase ou expressão do gosto popular. Chavão  é frase feita com o lugar-comum do “clichê”. Jargão uma expressão utilizada por um grupo fechado de pessoas como uma corporação profissional.

Algumas palavras e expressões utilizadas por economistas podem excluir pessoas sem conhecimento do vocabulário deles. Pensei, então, em um pequeno Abecedário da Economia Contemporânea com “palavrinhas-mágicas” terminadas com o sufixo “ão”:

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Riqueza Mundial: Alocação na Economia Global – Baixe o Relatório de Pesquisa

Qual seria o impacto econômico-financeiro de atrair capital dos bilionários e dos investidores institucionais globais?

Muitos bilionários são empreendedores ou líderes de grandes empresas capazes de empregar milhares de pessoas. Pressupostamente, eles criariam oportunidades de emprego, direta e indiretamente, através de investimentos em novos negócios e expansão de empresas existentes.

Eles são conhecidos por suas contribuições para a inovação em seus respectivos campos. Caso financiem pesquisas, desenvolvam novas tecnologias e impulsionem a criatividade em diversos setores, possibilitariam avanços na economia local.

É relevante atrair investimentos de grandes quantias em uma variedade de ativos, entre os quais, ações, imóveis, fundos de capital de risco e empresas iniciantes [startups]. Esses investimentos estimulariam o crescimento econômico, forneceriam capital para novos empreendimentos e promoveriam a criação de riqueza.

Muitos bilionários são conhecidos por suas doações filantrópicas significativas para causas sociais, educacionais, ambientais e de saúde. Essas doações, caso confirmadas, teriam um impacto positivo direto sobre comunidades e regiões beneficiadas, fornecendo recursos para programas e iniciativas sociais.

Evidentemente, a concentração extrema de riqueza nas mãos de bilionários tem efeitos negativos, como aumentar a desigualdade de renda e riqueza, alterar a escala da mobilidade social e criar poder econômico e político desproporcional para poucos indivíduos. Isso leva às críticas sobre a desigualdade social, a distribuição de riqueza e o papel dos bilionários na sociedade.

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Brasil Rico com Brasileiros Pobres: Baixe o Livro

Segundo a Matriz do Patrimônio Financeiro, elaborada pelo Banco Central do Brasil, em dezembro de 2022, o estoque do Patrimônio Financeiro Bruto (PFB) da economia brasileira, incluindo ativos e passivos com não residentes, alcançou R$ 72,6 trilhões, equivalente a sete vezes o PIB. O saldo consolidado, excluindo posições intrasetoriais (em média, cerca de 18% do PFB), atingiu R$ 59,3 trilhões (seis vezes o PIB).

Interessante registrar: segundo a OXFAM, a riqueza global total em 2022 foi de US$ 454,38 trilhões.  Segundo o Banco Mundial, o PIB do planeta, isto é, a soma da renda gerada em 183 países, naquele ano, alcançou US$ 83,38 trilhões de dólares. A riqueza equivale a quase seis vezes o PIB planetário: é chave, para entender a economia mundial, descobrir onde ela se aloca.

Para uma abordagem sistêmica ou holista, no sentido de entender a essência da economia brasileira, pelo Censo de Capital Estrangeiro, efetuado pelo Banco Central do Brasil, com 2.461 declarantes (participação no capital de 18.285 empresas), o estoque de IDP em 2022 atingiu US$ 1,056 trilhão.  O  estoque IDP (participação no capital) / PIB foi a 42,4% contra 6,1% em 1995, ou seja, a abertura externa como componente-chave da globalização neoliberal levou à grande desnacionalização da economia brasileira.

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Inteligência Artificial em Finanças: Baixe a Apostila

Este livro digital deve ser considerado uma Apostila de apoio à disciplina eletiva ministrada sob o guia do meu livro Fernando Nogueira da Costa – Finanças. maio 2023.

A palavra Apostila (em português) é de origem francesa, sendo grafada “Apostille”. Provém do verbo “apostiller” com significado de Anotação. Apesar do significado corrente ser de uma publicação, um significado adicional é uma apostila consistir em anotações à margem de um documento, no caso, o citado livro.

Pretendo implementar uma nova experiência didática, em conteúdo, com a integração de cinco disciplinas em uma abordagem sistêmica financeira e, em forma, com a participação ativa dos estudantes. Atuarão em pesquisa na Inteligência Artificial em sala-de-aula com carteiras em forma de “mesa-redonda”.

A partir de uma breve aula expositiva sobre cada um dos dez temas do livro (e desta Apostila), vou ensinar, nas duas aulas seguintes a essa aula introdutória, eles fazerem perguntas adequadas ao ChatGPT. Depois, debaterão a adequação (ou não) das respostas da Inteligência Artificial.

O objetivo será substituir a distração em sala-de-aula pelo uso de celulares ou notebooks, para acompanhar a rede social (“burrice humana”), em vez de prestar atenção na aula. Pois bem, usemos ambos os instrumentos para questionar a Inteligência Artificial!

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Crítica da Economia Sem Finanças – Baixe o Livro

Norberto Bobbio, em seu livro “Direita e Esquerda: Razões e Significados de uma Distinção Política” (São Paulo, Editora da UNESP, 1995, 129 páginas) levanta quais são os critérios para classificar alguém de direita ou de esquerda. Embora eu abomine a “patrulha ideológica” (como um rótulo indicasse alguém ser de moral superior) vale relembrar seus ensinamentos.

Parte da constatação de os seres humanos, por definição, serem todos iguais entre si, mas cada indivíduo é diferente dos demais. Quem considera mais importante, para a boa convivência humana, aquilo comum entre eles, para se unir em uma coletividade altruísta e solidária, estaria à esquerda e se considera um(a) igualitário(a). Quem acha relevante, para a melhor convivência, uma pressuposta superioridade e a competitividade, se coloca à direita e se considera um(a) meritocrata.

As pessoas à esquerda defendem a eliminação das desigualdades sociais. A direita insiste na convicção de as desigualdades serem naturais e, enquanto tal, não são elimináveis.

Pessoalmente, há 50 anos exercendo a profissão de economista e lidando com fatos e dados estatísticos, para juntar conceitos e fazer análise socioeconômica e política, não vejo muita possibilidade de a desigualdade diminuir dentro dos marcos do sistema capitalista. Como deixei de acreditar em revolução, desde quando tomei conhecimento dos totalitarismos advindos dos golpes súbitos com luta armada, reconheço apenas uma re-evolução sistêmica ocorrer em muito longo prazo.

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Bancos Públicos no Brasil: Baixe a Nova Edição

Segundo a argumentação clássica latino-americana, “a experiência parece ensinar: exceto quando são expressamente criadas instituições financeiras ‘desenvolvimentistas’ sob controle do setor público, dificilmente um país pode resolver os problemas de transferência espacial ou intersetorial de recursos, para regiões ou setores mais atrasados (ou para novos setores), através do desenvolvimento espontâneo de seus intermediários financeiros” (CEPAL; 1971: 109). Em síntese, os bancos públicos existem para corrigir as falhas do mercado.

A concessão de crédito por parte de bancos privados rege-se, evidentemente, por considerações de rentabilidade, liquidez e risco das aplicações – e não por seus fins sociais ou desenvolvimentistas. O acesso ao crédito dos bancos privados é determinado pelas garantias possíveis de ser oferecidas e juros cobrados. Geralmente, só são favorecidos os já estão instalados nos setores de mais alto retorno financeiro e capazes de oferecerem, em consequência, aplicações seguras.

Não seria de esperar caber a uma Instituição Financeira Privada a responsabilidade de:

  1.  corrigir determinado padrão de desenvolvimento,
  2.  redirecionar a distribuição dos recursos para outros setores prioritários ao desenvolvimento, e
  3.  fomentar a elevação da taxa de investimento contraciclo.

Caberia à Instituição de Políticas Públicas, a qual não visa, acima de tudo, a maximização de seu lucro para acionistas em curto prazo, o papel de contribuir para o fomento do desenvolvimento. Com a funcionalidade “desenvolvimentista”, os bancos públicos assumem um papel ativo (não neutro) na distribuição de recursos,  sendo direcionados para fins qualificados como prioritários pela política pública. Esses fins sociais e econômicos serão diferentes daqueles orientados apenas por critérios da rentabilidade privada.

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Economia Brasileira Contemporânea: Agropecuária, Indústria, Comércio Externo, Financiamento e Política – Baixe o Livro

No fim de 2024, completarei 50 anos de vida como economista profissional. A Antroposofia sugere uma “pedagogia do viver”, na qual o ser humano  tem de conhecer a si para poder assim conhecer o universo, pois todos fazem parte integrante de um sistema.

Neste estudo, uma forma cíclica de entender a vida chamada “Teoria do Setênios” é elaborada a partir da observação dos ritmos da natureza aliados aos sentidos da vida. Tal teoria divide a vida em fases de sete anos, isto é, “setênios”.

Esta teoria deve ser entendida como uma metáfora sistêmica: a cada ciclo soma-se os conhecimentos adquiridos no anterior e busca-se um novo desafio. Os setênios, dos quais já vivi mais de dez no tempo cronológico, significam quaisquer mudanças de ciclos de tempos em tempos.

No campo profissional, crianças, eu vivi, vi e li os acontecimentos mais relevantes no último meio século na economia brasileira. Nas últimas cinco décadas, a economia brasileira passou por diversas transformações e eventos significativos.

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Conhecimento é Dívida – Baixe o Livro Digital em Comemoração das 10 Milhões Visitas no Blog Cidadania & Cultura

Era uma vez, uma criança caçula de três irmãos da geração baby-boom, nascidos em série, eu um ano e dois meses depois do meu irmão ainda bebê. Eu era muito tímido diante da reação dos outros à minha ocupação de lugar.

De modo geral, minha infância foi feliz, cercado de proteção materna e com um pai médico provedor. Nossos avós maternos levavam-nos nos fins de semana para uma fazenda, onde desfrutávamos a liberdade de viver em harmonia com a natureza. Passávamos férias nas praias cariocas com os avós paternos.

Até um dia acontecer meu primeiro “ponto de ruptura”: acompanhar meu irmão mais velho no Jardim de Infância. Vi a “escola maternal” como um mundo hostil, cercado de crianças competitivas. Todas desejavam os “bens da moda” e buscavam se apossar daquilo em mãos de outros.

O bullying (intimidação) não era um nome conhecido nos anos 50s. Mas havia já o comportamento agressivo e antissocial de estudantes, sem motivação evidente, em uma relação desigual de forças contra os tímidos.

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Resenha do Melhor Livro do Ano: “Armadilha do Identitarismo” de Yascha Mounk

Yascha Mounk estrutura seu livro, escolhido como o Melhor de 2023 por The Economist, Financial Times e Prospect Magazine, “A Armadilha da Identidade: uma História de Ideias e Poder em Nosso Tempo” [The Identity Trap: A Story of Ideas and Power in Our Time. New York: Penguin Press, 2023.] em quatro partes, além da Introdução. A primeira, Origens da Síntese da Identidade, possui quatro capítulos; a segunda, Vitória da Síntese da Identidade, com três; a terceira, Falhas da Síntese da Identidade, tem seis capítulos; a quarta, Em Defesa do Universalismo, dois capítulos.

A Conclusão, Como Escapar da Armadilha da Desigualdade, pode ser considerada um capítulo final com quatro tópicos. Acrescenta também um Apêndice explicativo: por qual razão a Síntese de Identidade não é marxista. O livro interessará não só aos ativistas de esquerda, mas a todos os leitores cultos com interesse de conhecer o debate político contemporâneo no mundo ocidental.

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Brasil Urbano: Estratégias de Sobrevivência em Serviços – Baixe o Livro

Passada a fase da indústria nascente e urbanização crescente (1945-1985) e superada as Eras do Neoliberalismo I (1988-2002) e II (2016-2022), após o fim do Estado desenvolvimentista, a economia brasileira deixou de ser a de maior crescimento médio anual no mundo (7,4% aa) e entrou em processo de desindustrialização e retrocesso no ranking do PIB nominal. Em 2022, o FMI registrou-a na 12ª colocação entre o Irã e a Coreia do Sul.

Para uma comparação mais adequada entre países, usa-se PIB por Paridade dos Poderes de Compra (PPC), relacionando custo de vida local com poder aquisitivo da renda em dólar. Em 2022, a China liderava com US$ 27,2 trilhões, seguida pelos Estados Unidos (US$ 23 trilhões) e Índia (US$ 10,2 trilhões). Bem abaixo, em valor, seguiam o Japão (US$ 5,6 trilhões), Alemanha (US$ 4,9 trilhões), Rússia (US$ 4,5 trilhões), Indonésia (US$ 3,6 trilhões) e o Brasil (US$ 3,4 trilhões) em 8º lugar.

Então, a questão-chave é: por qual razão o país sob esse critério PIB PPC seria uma economia rica, mas pobre sob o critério de PIB PPC per capita?  Obviamente, pelo tamanho da população, porque no ranking das maiores renda per capita os Estados Unidos é uma exceção: o único país acima de 200 milhões de habitantes  com uma boa colocação (6ª.).

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Intérprete do Brasil: Artigos de Carlos Lessa em Jornal (2010-2011)

Carlos Lessa era um grande frasista. Na preparação para o lançamento na PUC-SP da coletânea de ensaios, Carlos Lessa, o Passado e o Futuro do Brasil (1ª. ed.- Brasília: ABED: Editora Fundação Perseu Abramo, 2023), organizada por membros da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED), em homenagem ao extraordinário intelectual público brasileiro, lembrei-me de algumas de suas frases antológicas.

Em sala-de-aula, dividindo um curso com a Professora Maria da Conceição Tavares no Mestrado em Economia da UNICAMP, em 1975, ele soltou a comparação: – É mais rentável do que plantação irrigada de coca na Colômbia!

Ríamos e jamais esquecíamos… pelo menos da piada. Segundo Ricardo Bielschowsky e Luiz Antônio Elias, “ele se definia de forma bem-humorada – e não sem um toque de falsa modéstia – como ‘um especialista em generalidades. Não estudo quase nada [?!], mas não abro mão de dizer o que penso. Não ser um especialista me dá um grau de liberdade o qual tento usar ao máximo”.

Quando eu estava em Brasília e ele era o presidente do BNDES, corria a estória dele ter dito em palestra a empresários: – “Se quiser apresentar o Brasil a um estrangeiro, leve-o a um restaurante a quilo, será o único lugar do mundo onde se mistura sushi e sashimi com feijoada!”

Quando eu o encontrei, perguntei se era verdade. Ele me confirmou e acrescentou: – Em nova versão, eu digo: é o único lugar onde se esconde o nhoque sob uma folha de alface! Ele gostava muito, sociologicamente, da comida a quilo, no restaurante observava e depois falava da criatividade dos brasileiros na composição dos pratos.

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Macroeconomistas Comparados: Keynes X Kalecki – Baixe o Livro

Franklin Roosevelt foi o 32º presidente dos Estados Unidos e o único por quatro mandatos consecutivos. Mesmo depois da Grande Depressão, surgida após 1929, ter causado danos econômicos-sociais, talvez tenha sido reeleito por causa de sua empatia com os desfavorecidos e deficientes, além de ter lançado o New Deal, um planejamento inédito para reativar a economia americana.

Em qual medida essa ação foi inspirada em novas ideias dos economistas? O objetivo deste livro é, principalmente, investigar essa questão: as teorizações econômicas vêm antes das decisões (ex ante) ou depois das ações (ex post)? Inspiraram ou racionalizaram o realizado para aprendizagem do enfrentamento de possível repetição de algo parecido no futuro incerto?

Para tanto, vou analisar comparativamente as obras dos dois macroeconomistas mais influentes no século XX, John Maynard Keynes e Michal Kalecki. Keynes lançou sua obra prima, Teoria Geral, em 1936, e Kalecki lançou sua magnum opus, Teoria da Dinâmica Econômica, em 1954.  Mas ambos publicaram livros e ensaios antes do lançamento do New Deal em 1934.

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