Morte de Daniel Kahneman, Psicólogo Ganhador do Prêmio Nobel de Economia

Nobel de Economia em 2002, Daniel Kahneman morreu nesta quarta-feira, aos 90 anos. Nascido em Tel Aviv, em Israel, Kahneman ganhou o prêmio sem ser economista, “por ter integrado percepções da pesquisa psicológica à ciência econômica, especialmente no que diz respeito ao julgamento humano e à tomada de decisões sob incerteza”. Segundo o “New York Times”, a morte foi confirmada por Barbara Tversky, viúva do seu companheiro de pesquisa, Amos Tversky, que não informou, porém, onde ocorreu o óbito.

Kahneman era professor emérito de psicologia na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Também lecionou nas Universidades Hebraica, em Jerusalem, de British Columbia, no Canadá, e da Califórnia.

Recebeu vários prêmios de excelência na longa carreira de pesquisador, entre os quais o Nobel de Economia, em 2002, por sua contribuição para a integração da psicologia cognitiva à economia. Suas pesquisas tornaram-se um marco no desenvolvimento da economia comportamental, até então um campo de estudo incipiente. Além de expor a face multidisciplinar da economia, o trabalho de Kahneman também estendeu influências às análises de macroeconomia e ao cálculo financeiro, especialmente as avaliações de risco.

Na justificação do prêmio, a Academia Sueca de Ciências considerou o conjunto das pesquisas realizadas por Kahneman e Amos Tversky (seu coautor e amigo de toda a vida) sobre os limites de racionalidade implícitos em entendimentos intuitivos e escolhas daí decorrentes. E destacou o fato de esse trabalho, iniciado no final dos anos 1960, ter resultado na configuração da teoria da perspectiva, que expandiu o alcance dos pressupostos básicos da economia comportamental como então era conhecida. (Tversky morreu em 1996 e por isso não foi pessoalmente premiado).

Nessa moldura inovadora, o processo de decisão dos agentes econômicos é descrito de forma descolada da busca de máxima utilidade, como ensinava a teoria consagrada. A realidade dos julgamentos e decisões é feita de racionalidade limitada e prevalência de fatores subjetivos associados à variabilidade de contextos. A modelagem econômica passou a incorporar influências psicológicas, emocionais, conscientes e inconscientes, que afetam o ser humano em suas escolhas.

No texto autobiográfico em que, como é praxe, os premiados com o Nobel se apresentam, Kahneman referiu-se longamente à sua amizade de toda a vida e produtiva parceria intelectual com Amos Tversky (que havia morrido em 1996), coautor do artigo “Prospect theory: an analysis of decision under risk”, que publicaram em 1979 na revista acadêmica “Econometrica” e tornou conhecida a teoria com que ganharam notoriedade.

Na eulogia em que rememorou sua convivência com Tversky, Kahneman disse: “Pessoas que fazem diferença não morrem sozinhas. Alguma coisa morre em cada um dos que foram afetados por elas. Amos fez uma grande diferença e quando morreu a vida perdeu significado para muitos de nós. Há menos inteligência no mundo. A vida se tornou mais pobre.”

Kahneman recordou que a publicação do “paper” na ‘Econometrica” (e não na “Pscychological Revue”, como seria natural) não se deveu à intenção de “influenciar a economia”, mas pelo fato de aquele ser o “journal” em que os melhores “papers” sobre tomada de decisão haviam sido publicados até então, “e nós queríamos estar nessa companhia”. Passaram assim a integrar um círculo de economistas inovadores, entre eles Richard Thaler, que então se destacava como precursor em estudos de psicologia aplicada à economia.

“Nossa interação com Thaler acabou se mostrando mais frutífera do que imaginávamos na época, e foi um fator importante para que eu recebesse o Prêmio Nobel”, disse.

Contudo, mesmo não renunciando ao crédito que lhe era concedido, acrescentou que o trabalho de integração [da pesquisa psicológica à economia] fora feito principalmente por Thaler e o grupo de jovens economistas que rapidamente começou a se formar ao seu redor, estendendo-se pelos anos seguintes. A ele, Kahneman, e Tversky poderiam ser atiribuidas “algumas das ideias iniciais”, consubstanciadas afinal na teoria da perspectiva, “que sem dúvida deu alguma legitimidade” ao propósito geral de se recorrer

à psicologia como fonte de hipóteses realistas sobre o comportamento dos agentes econômicos (Thaler recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2017 por suas contribuições para o desenvolvimento da economia comportamental).

O principal livro de Kahneman é um best-seller que vendeu milhões de exemplares em vários idiomas: “Thinking, Fast and Slow” (“Duas Formas de Pensar – Rápido e Devagar”, na edição brasileira). Não é leitura que se possa dizer amena, mas permite a compreensão de princípios da economia comportamental mesmo por não iniciados em economia, conforme foram desenvolvidos na parceria entre Kahneman e Tversky.

As bases dessa agenda de pesquisas, que continua aberta a desenvolvimentos, são processos cognitivos que definem dois sistemas. No primeiro, as operações são rápidas, automáticas, não exigem esforço, dão-se por associações, são difíceis de controlar ou modificar. No outro, são mais lentas, serializadas, exigem esforço, são controláveis, relativamente flexíveis e potencialmente governadas por regras.

Kahneman propõe um enquadramento analítico que identifique pontos comuns ao funcionamento dos dois sistemas, para a compreensão integrada dos respectivos processos cognitivos na avaliação de situações e tomada de decisões.

Os pais de Kahneman eram judeus lituanos, que emigraram para a França nos anos 1920. Sua mãe encontrava-se em visita a parentes em Tel-Aviv, na antiga Palestina, onde ele nasceu em 5 de março de 1934.

Graduou-se em psicologia e matemática na Universidade Hebraica, em Jerusalem e pós- graduou-se na Universidade da Califórnia em 1961.

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