Era do Petróleo

Nova Era do Petróleo

Segundo Daniel Yergin, “o grito que ecoou em agosto de 1859 através dos estreitos vales do oeste da Pensilvânia – de que o maluco yankee, o ‘Coronel’ Drake, havia encontrado petróleo – deu início a uma imensa corrida ao petróleo, que nunca mais teve fim desde então. Daí em diante, na guerra e na paz, o petróleo ganharia o poder de construir ou destruir nações e seria decisivo nas grandes batalhas políticas e econômicas do século XX. Mas, repetidas vezes, durante a infindável aventura, as grandes ironias do petróleo se tornaram aparentes. Seu poder tem um preço.

Por quase um século e meio, o petróleo vem trazendo à tona o melhor e o pior de nossa civilização. Vem se constituindo em privilégio e em ônus.

A energia é a base da sociedade industrializada. Entre todas as fontes de energia, o petróleo vem se mostrando a maior e a mais problemática, devido ao seu papel central, ao seu caráter estratégico, ao padrão recorrente de crise em seu fornecimento – e à inevitável e irresistível tentação de tomar posse de suas recompensas.

Ele tem sido o palco para o nobre e o desprezível do caráter humano. Criatividade, dedicação, espírito empresarial, engenho e inovação tecnológica, vêm coexistindo com a avareza, a corrupção, a ambição política cega e a força bruta.

O petróleo ajudou a tornar possível o domínio sobre o mundo físico. Ele nos deu nossa vida cotidiana e, literalmente, nosso pão de cada dia, através dos produtos químicos agrícolas e dos transportes. Ele abasteceu, ainda, as lutas globais por supremacia política e econômica.

A feroz e, muitas vezes violenta, busca pelo petróleo – e pelas riquezas e poder inerentes a ele irão continuar com certeza enquanto ele ocupar essa posição central. Pois o nosso é um século no qual cada faceta de nossa civilização vem sendo transformada pela moderna e hipnotizante alquimia do petróleo. Foi isso que fez a era do petróleo.”

Churchill, às vésperas da I Guerra Mundial, captou uma verdade fundamental. Debatia-se a conveniência de adaptar a Marinha britânica para o uso do petróleo como fonte de energia no lugar do carvão, o combustível tradicional. Com essa substituição, teria de depender da oferta distante e instável do petróleo da Pérsia, como então se chamava o Irã. Entretanto, os benefícios estratégicos levou o então Primeiro Lorde do Almirantado a decidir que a Inglaterra teria de basear a sua “supremacia naval no petróleo, “mesmo que tivesse de enfrentar um mar de problemas”. Por todo o século XX, o petróleo significou hegemonia. E a busca da hegemonia é o assunto do livro O Petróleo – Uma História Mundial de Conquistas, Poder e Dinheiro, escrito por Daniel Yergin (São Paulo, Paz e Terra, 2010).

Esse livro conta essa história geopolítica desde seu começo, nos Estados Unidos, até quando, no dia 2 de agosto de 1990, o petróleo voltou a se converter no foco de conflito mundial. Foi quando um outro ditador do século XX, Saddam Hussein, do Iraque, invadiu o Kuait, país vizinho. Se capturasse suas riquezas, o Iraque se converteria na maior potência petrolífera do mundo e dominaria tanto o mundo árabe quanto o Golfo Pérsico, onde se concentra a maior parte das reservas de petróleo existentes. O resultado seria uma transformação no equilíbrio internacional do poder.

No fim do século XX, o petróleo ainda era fundamental para a segurança, a prosperidade e a própria natureza da civilização.

Apesar de a moderna história do petróleo ter começado na última metade do século XIX, foi o século XX que sofreu uma transformação completa com seu adventos. Três grandes temas são subjacentes a essa história.

O primeiro é a ascensão e o desenvolvimento do capitalismo e dos negócios modernos. Em todo o mundo, o petróleo é o maior negócio e o mais difundido, definindo de forma completa o significado do risco e da recompensa. Desde as últimas décadas do século XIX, a Standard Oil dominou completamente a indústria petrolífera norte-americana, ocupando um dos primeiros lugares entre as maiores empresas multinacionais. Entre as dez primeiras das quinhentas empresas relacionadas pela revista Fortune, em 2008, seis eram companhias de petróleo. Enquanto não se encontrar alguma fonte alternativa de energia, o petróleo continuará a ter efeitos de longo alcance sobre a economia global; a elevação do seu preço pode estimular o crescimento econômico ou, ao contrário, desencadear a recessão. Ele é um gerador maciço de riquezas, pois “petróleo é quase-dinheiro”.

O segundo tema é o do petróleo como um produto intimamente imbricado nas estratégias nacionais e no poder e política globais. Ele esteve como motivador dos principais conflitos do século XX, desde as duas Grandes Guerras, passando pela Guerra Fria, quando a batalha por seu controle, travada entre as companhias internacionais e os países desenvolvidos, constituiu peça importante na luta pela descolonização travada pelo nacionalismo emergente.

O petróleo também demonstrou que pode ser o “ouro dos tolos”. A riqueza do petróleo acabou por destruir o Xá do Irã. O petróleo promoveu a economia do México para depois solapá-la. A União Soviética – o segundo maior exportador do mundo – esbanjou os recursos obtidos com uma escalada militar que minou a possibilidade de oferecer melhores condições de vida para seus povos. Os Estados Unidos, outrora o maior produtor mundial e até hoje o maior consumidor, têm de importar entre 55% e 60% do suprimento de petróleo de que necessitam.

Finda a Guerra Fria, uma nova ordem mundial começa a tomar forma. A competição econômica, as lutas regionais e as rivalidades étnicas podem substituir a ideologia como foco do conflito internacional – e nacional –, instigadas pela proliferação da indústria de armamentos. Um novo tipo de ideologia – extremismo religioso e jihad – passaram para o primeiro plano. Com tudo isso, o petróleo continuará a ser o produto estratégico.

Um terceiro tema da história do petróleo mostra como a nossa sociedade se tornou uma “Sociedade do Hidrocarboneto”. De início, o negócio do petróleo forneceu o “querosene” que propiciava estender o dia de trabalho. No final do século XIX, John D. Rockefeller tornou-se o homem mais rico dos Estados Unidos graças à venda do querosene. Por essa época, a gasolina era apenas um subproduto inútil antes do advento da indústria automobilística. Quando a invenção da lâmpada incandescente parecia indicar a obsolescência da indústria do petróleo, uma nova era se inaugurou com o desenvolvimento da máquina de combustão interna provida de energia pela gasolina.

No século XX, o petróleo, suplementado pelo gás natural, derrubou o rei carvão do trono que ocupava como fonte de energia para o mundo industrial. O petróleo constituiu a base do grande movimento de suburbanização do pós-guerra. Ele é o sangue vital das comunidades suburbanas. É, junto com o gás natural, o componente fundamental da fertilização, da qual depende a agricultura; possibilita o transporte de alimentos para as megacidades do mundo, totalmente não autossuficientes. Também fornece os plásticos e os elementos químicos, que são os tijolos e a argamassa da civilização contemporânea.

No século XXI, crescer dependendo do petróleo deixou de ser considerado uma vantagem. Com o crescimento do movimento ecológico, os princípios básicos da sociedade industrial, suportada pela indústria do petróleo, estão sendo contestados. Aumentam os esforços para reduzir a queima de todos os combustíveis fósseis – o petróleo, o carvão e o gás natural –, devido às suas consequências:

  1. A neblina enfumaçada e a poluição do ar;
  2. A chuva ácida e a destruição da camada de ozônio;
  3. O espectro da mudança climática.

O petróleo agora é acusado de alimentar a deterioração do meio ambiente e a indústria petrolífera é acusada de ser uma ameaça para a geração presente e as futuras. Isso tornou obrigatória a implementação de inovações tecnológicas que minimizem os desafios ambientais.

No entanto, o “Homem do Hidrocarboneto” demonstra ter pouca disposição de desistir do carro e do lar nos arredores da cidade. Qualquer ideia de redução do consumo de petróleo será influenciada pelo consumo da população de países subdesenvolvidos que almejam agora “o direito” aos benefícios decorrentes do bens de consumo duráveis. Por exemplo, entre 1990 e 2008, a demanda por petróleo na Índia mais do que dobrou e na China mais que triplicou.

Esses três temas são tratados por Daniel Yergin em seu livro clássico. Ocupa-se das forças poderosas e impessoais da Economia e da Tecnologia, assim como das estratégias e habilidades dos homens de negócios e dos políticos. Embora todo o conflito e a complexidade, houve um “fio-condutor” na história do petróleo, uma sensação contemporânea até para fatos ocorridos há muito tempo e ecos do passado em acontecimentos recentes.

Esta é, ao mesmo tempo, uma história de:

  1. Indivíduos;
  2. Forças econômicas poderosas;
  3. Mudança tecnológica;
  4. Lutas políticas;
  5. Conflito internacional;
  6. Transformação épica.

Daniel Yergin espera que essa exploração das consequências econômicas, sociais, políticas e estratégicas da nossa dependência mundial em relação ao petróleo ilumine o passado, habilite-nos a compreender melhor o presente e ajude-nos a antecipar o futuro.

Era do Petróleo

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