Preço do Investimento no Brasil

Preço do Investimento no Brasil 1985-2010Preço do Investimento em Países Selecionados

A Carta IEDI N. 572 trata do custo de se investir no País. Vale a pena examinar os argumentos dos industriais. Há muita “chiadeira” (e lobby) e poucos investimentos por parte deles…

Neste tocante, o preço da inversão fixa exerce papel de relevo, o que requer a análise de dois pontos. Primeiramente, o preço do investimento por si só importa: investir num país custa requer mais ou menos recursos do que em outro? Em economia global, a decisão de imobilizar recursos na forma de maquinaria e instalações envolve confrontar os preços de se investir em diferentes localidades. Logo, transnacionais e mesmo firmas que operam a princípio em um único país consideram ou passam a considerar distintas opções para (re)localizar suas plantas.

O outro ponto consiste no preço relativo da FBCF: o empreendedor tende a se arriscar mais havendo perspectivas de ter maior retorno real em períodos futuros. Assim, se o preço relativo da inversão fixa declinar significa que o momento se mostra mais propício para a empreitada, uma vez que esta irá lhe proporcionar uma cesta maior de consumo mais adiante.

O ano de 2012 se notabilizou pela baixa expansão do PIB (0,9%) e declínio de 4,0% da formação bruta de capital fixo (FBCF). O período de 2003 a 2008, delineava trajetória favorável, com incremento de 4,2% ao ano em média e de 2,9% do PIB per capita. Com a crise internacional, tal processo foi cessado. A recuperação em 2010-2011 também ocorreu com taxas de inversão elevadas (medidas a preços constantes). Mas 2012 pôs em xeque a consistência dessa aparente retomada, principalmente quanto ao papel da inversão fixa.

Na atualidade, a preocupação maior consiste na interrupção nas incertezas sobre a evolução da indústria, evidenciando a premência de que a economia se volte mais para o investimento e menos para o consumo das famílias. O IEDI defende que é necessária uma nova política econômica. Tal política deve ter o investimento como motor da expansão. Fácil de demandar, difícil de oferecer…

O IEDI analisa o tema do incentivo ao investimento no Brasil do ponto de vista de seu preço relativo, segundo duas dimensões. Uma consiste no preço relativo da FBCF: o empreendedor tende a se arriscar mais havendo perspectivas de maior retorno real em períodos futuros. Se o preço relativo da FBCF declinar, investir se torna mais propício, ao ampliar as chances de se ter uma cesta maior de consumo adiante. O outro ponto se refere ao preço do investimento por si, comparado com o de outros países. Numa economia global, a decisão de imobilizar recursos em maquinaria e instalações envolve confrontar os preços de se instalar em diferentes localidades. Logo, assume papel crucial nas decisões de (re)localização de plantas produtivas.

Pode-se olhar para o preço do investimento, mediante as Penn World Tables, versão 7.1 (PWT7.1), que expõe o preço do investimento (FBCF mais variação de estoques) em termos do preço do PIB dos EUA (preço do PIB dos EUA igual a 100 em todos os anos). Assim:

  • O Brasil registrava em 1985, um dos menores preços do investimento (índice de 30,8, o mais baixo dentre 52 países), menor inclusive que o da China;
  • Em 2000, o preço do investimento estava em 48,9, já equivalente ao trigésimo nono mais alto de um total de 54 países. O índice era um pouco abaixo do registrado pela África do Sul, mas superava os patamares observados pelos demais países dos BRICS, bem como pelos países do ASEAN-4 – Filipinas, Indonésia, Malásia e Tailândia;
  • De 2003 em diante o preço do investimento passou a crescer, mesmo com apreciação cambial, que costuma baratear os bens de capital transacionáveis – máquinas e equipamentos, de modo que, em 2008, alcançou 83,4, então o segundo maior patamar registrado desde 1950, ficando aquém apenas do observado em 1953;
  • Em 2010, o preço da inversão atingiu 94,3, superando o nível de 2008 e colocando o Brasil como “país caro” para se investir, posicionando-se no décimo terceiro mais elevado em 54 países, acima do registrado por quatro países do G7 (EUA, Alemanha, Itália e Reino Unido) e dos Tigres Asiáticos, dos integrantes do ASEAN-4 (exceto Indonésia) e dos demais BRICS.

Cabe observar que os dados mais recentes das contas nacionais acusam incremento do deflator da FBCF e mesmo da FBCF em máquinas e equipamentos, indicando que o encarecimento do investimento no Brasil vem tendo continuidade. Como atenuante, de 2009 a 2011, o deflator de M&E tem subido menos do que o da FBCF em geral. Em 2012, o deflator da FBCF em M&E, certamente refletindo a desvalorização do Real, subiu 4,4%, enquanto o da FBCF como um todo, 4,2%. Na média de 2009 a 2012 o deflator de M&E aumentou por ano 2,4% e o da FBCF, 4,9%, denotando a necessidade de que para interromper e reverter o processo de crescente aumento do custo de investir o Brasil deve se debruçar sobre a evolução do preço da FBCF que não máquinas e equipamentos, vale dizer, em construção e instalação. Deve também redobrar esforços para baratear o investimento em máquinas e equipamentos e compensar o Real menos valorizado através de políticas de redução de custos de bens de capital, depreciação acelerada para os investimentos em máquinas e equipamentos e menores custos de financiamento.

Quanto ao preço relativo da inversão fixa, os dados do IBGE salientam declínio desde 2010, seja em relação ao deflator do PIB ou ao deflator do consumo final, o que favorece  a decisão de investir. O mesmo declínio relativo vale para o preço relativo de máquinas e equipamentos. Aliás, tirando 2007 e 2008, a diminuição do preço relativo da FBCF vem ocorrendo desde 2005. Este tem sido um dado positivo: se a FBCF do Brasil capitaneou o crescimento de 2003 a 2008, tal processo foi acompanhado de recuo no preço relativo da FBCF em boa parte do período. Porém, ao contrastar tais resultados com aqueles a partir das PMT7.1, o incremento do investimento até 2008 ocorreu com aumento do preço da inversão. Como se viu, o Brasil ficou mais caro para investir do que outros países a exemplo de vários da Ásia e demais integrantes dos BRICS (dados até 2010), embora investir esteja ficando mais barato do que consumir para quem nele reside.

Aliás, comparando com outros países (números da ONU até 2011), a redução no preço relativo da FBCF relativamente ao deflator do PIB ou ao deflator do consumo final não é particularidade do Brasil. Isto vem sendo observado no G7, em países latino-americanos, nos BRICS (com exceção da China) e em parte dos Tigres e dos ASEAN-4.

Apesar do aprofundamento do capital galgado a partir de 2004, o recuo do investimento no Brasil em 2012 e o claudicante início de 2013 acendem o sinal de alerta.  Mesmo com o cenário internacional adverso, outros países têm logrado dinamismo superior. Assim, resta ao País adequar as políticas econômicas para a FBCF ser protagonista e, dentre outros condicionantes, isto requer baratear seu custo. O investimento deve ser o lastro da retomada do crescimento e esteio da recuperação industrial.

Os industriais deveriam se colocar com lema a frase de John F. Kennedy: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país.”

2 thoughts on “Preço do Investimento no Brasil

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