Concorrência de Empreendedores Inovadores para Destruição Criativa

Joseph A. Schumpeter, no livro “Capitalismo, Socialismo e Democracia” (1943), afirma: a primeira coisa a ser descartada é a concepção tradicional do modus operandi da concorrência. Os economistas finalmente começam a sair da etapa quando só enxergavam a concorrência dos preços.

Assim quando a concorrência da qualidade e o esforço de venda são admitidos no recinto sagrado da teoria, a variável preço é retirada da sua posição dominante. No entanto, o que praticamente monopoliza a atenção do teórico continua sendo a concorrência em um molde rígido de condições invariantes, especialmente os métodos de produção e as formas de organização industrial.

Mas, na realidade capitalista (em oposição à sua imagem estampada nos manuais), o que conta não é esse tipo de concorrência, e sim a concorrência da nova mercadoria, da nova tecnologia, da nova fonte de abastecimento, do novo tipo de organização, por exemplo, a unidade de controle em grandíssima escala.

A concorrência impõe uma vantagem decisiva em custo ou qualidade e ataca não nas margens dos lucros e da produção das empresas existentes, mas nos seus alicerces e na sua própria existência. Esse tipo de concorrência entre grandes corporações é tão mais eficaz se comparada à outra quanto um bombardeio em comparação com o arrombamento de uma porta.

Tanto mais importante é quanto passa a ser relativamente indiferente à concorrência, no sentido ordinário, funcione mais ou menos prontamente. Em todo caso, a poderosa alavanca capaz de, em longo prazo, expandir a produção e baixar os preços é feita de outra matéria.

Seria quase desnecessário mencionar: a concorrência do tipo tido agora em mente atua não só quando se concretiza, mas também quando é meramente uma ameaça permanente. Ela disciplina antes de atacar.

O homem de negócios se sente em uma situação concorrencial mesmo quando é o único no seu ramo ou, ainda não o sendo, quando ocupa uma posição tal de modo a nenhum auditor do governo conseguir detectar uma concorrência efetiva entre ele e quaisquer outras firmas do mesmo ramo ou de um ramo afim.

Consequentemente, conclui as suas queixas da concorrência não passarem de simulacro. Em muitos casos, embora não em todos, essa pressão impõe em longo prazo um comportamento muito parecido com o padrão de um sistema de concorrência perfeita.

Muitos economistas adotam o ponto de vista contrário. Schumpeter o ilustra com um exemplo. Suponhamos em um bairro haver certo número de varejistas tentando melhorar a sua posição relativa, esforçando-se para aprimorar o serviço e a “atmosfera”, mas evitam a concorrência dos preços e se atêm aos métodos da tradição local: um quadro de rotina estagnante. Quando outros entram no negócio, esse quase equilíbrio é destruído, mas de um modo a não beneficiar a clientela.

Com o estreitamento do espaço econômico ao redor de cada loja, os seus proprietários já não conseguem ganhar a vida e tendem a remediar a situação elevando os preços em um acordo tácito. Isso reduz ainda mais as suas vendas e, assim, o estrangulamento sucessivo cria uma situação onde uma oferta potencial crescente vem acompanhada de preços crescentes em vez de decrescentes, e de vendas decrescentes em vez de crescentes.

Esses casos ocorrem efetivamente, e é correto e conveniente analisá-los. Mas, como mostram os exemplos habitualmente invocados, são casos marginais encontráveis principalmente nos setores mais distantes de tudo quanto é mais característico da atividade capitalista. Além disso, são transitórios por natureza.

No caso do comércio varejista, a concorrência relevante não é a das lojas adicionais do mesmo tipo, e sim a da loja de departamentos, a da cadeia de lojas, a do comércio por reembolso postal e a do supermercado. Cedo ou tarde, destruirão essas pirâmides.

Ora, uma construção teórica a descuidar desse elemento essencial do caso estudado perde de vista tudo o que é mais tipicamente capitalista nele. “Mesmo se ela fosse lógica e factualmente correta, seria como encenar Hamlet sem o príncipe dinamarquês.”

Trecho de: Schumpeter, Joseph A. “Capitalismo, socialismo e democracia”.

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