BTG + Nubank X Big Five ou Banquetas versus Bancões

As expectativas para os balanços dos grandes bancos no primeiro trimestre eram positivas, e se confirmaram. Itaú Unibanco e Banco do Brasil (BB) seguem operando em níveis recordes, enquanto Santander e Bradesco iniciaram uma recuperação – este último, ainda em ritmo mais lento. A questão agora está na trajetória esperada para o restante do ano.

A carteira da maioria das instituições está crescendo em um ritmo anual bem inferior às projeções (“guidance”) e a lógica seria que essa expansão se acelerasse nos próximos trimestres. Entretanto, mudanças locais (alteração na regra fiscal e a recente decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom) e externas (postura mais dura do Federal Reserve, banco central americano) foram se concretizando nas últimas semanas.

Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Santander tiveram juntos lucro de R$ 26,2 bilhões, com alta anual de 12,1%. Enquanto Santander registrou um salto de 41,1%, vindo de uma base de comparação baixa, Bradesco foi o único com queda, de 1,6%.

O bom desempenho consolidado foi puxado pela margem financeira, que ao contabilizar um avanço de 9,5%, superou a expansão da carteira de crédito, de 5,4%. A inadimplência sob controle colaborou para um bom desempenhos das provisões para devedores duvidosos (PDD): Santander e Bradesco tiveram queda firme, enquanto Itaú ficou basicamente ficou estável e BB registrou forte elevação, mas seus números ainda são turvados pelos créditos com Americanas.

Os bancos incumbentes têm conseguido manter as despesas administrativas sob controle, com crescimento levemente acima da inflação. Por outro lado, as receitas de tarifas seguem bastante pressionadas. Além de questões regulatórias e tecnológicas, essa é a linha do balanço que mais sofre com a competição com fintechs.

Enquanto isso, o cenário macroeconômico vai se tornando cada vez mais uma incógnita. Depois de o Fed adotar uma postura mais dura e, na sequência, dados da atividade mostrarem um esfriamento da economia americana, nesta semana o Copom reduziu o ritmo de cortes e há dúvidas sobre a possibilidade de novas baixas na Selic. Ao mesmo tempo, a questão das chuvas no Rio Grande do Sul pode afetar os resultados de algumas instituições, em um momento em que o agronegócio já vinha dando sinais de enfraquecimento, depois da safra recorde do ano passado.

No Santander, embora o banco também tenha apresentado lucro na casa dos R$ 3 bilhões no terceiro trimestre de 2022, o momento era bem diferente do observado agora, quando esse número se repetiu. Lá atrás, estava em momento de frenagem da operação. Agora, esse resultado de R$ 3 bilhões é bastante limpo, bastante recorrente e ligado a uma retomada. O banco, além de mostrar força na recuperação, lançou uma nova estratégia para a baixa renda.

O Bradesco reportou resultados mistos – com alguns pontos positivos, outros, fracos – e confirmou que os desafios à frente são grandes. De um lado, a instituição apresentou lucro acima do esperado, com queda nas provisões para devedores duvidosos e inadimplência. De outro, a margem financeira foi o destaque negativo. Este é um ano de transição.

O Itaú, por sua vez, vive um ótimo momento e, provavelmente, voltará a distribuir bilhões de reais em dividendos extraordinários este ano. Depois de ter promovido uma forte redução de risco na sua carteira de pessoa física nos últimos anos, o banco sofreu menos com a inadimplência e agora tem tempo para focar com calma em alguns desafios.

O BB apresenta também apresenta resultados em patamares recordes, mas as incertezas quanto ao desempenho do setor agro no ano podem pesar nos números.

O Itaú Unibanco teve lucro recorde de R$ 9,771 bilhões no primeiro trimestre de 2024, o que representa alta de 3,9% na comparação com o trimestre anterior e avanço de 15,8% em 12 meses. O banco está abaixo do ritmo de crescimento da carteira previsto para este ano, mas manteve suas projeções (“guidance”) e o forte desempenho da margem financeira deve animar os investidores.

No ano quando o Unibanco completa um século de existência, o banco mostrou a maior rentabilidade desde 2019.

“O Itaú passou por um período importante de transformações nos últimos anos, que criaram as bases para os resultados que estamos entregando”, diz em nota o CEO da instituição. “Nossos resultados no primeiro trimestre de 2024 seguem consistentes e em linha com os guidances propostos para o ano. Nos últimos 12 meses, destaco o crescimento de 7,4% da nossa margem financeira com clientes e o nosso índice de eficiência de 39,6%, o melhor da história”.

O banco teve margem gerencial financeira de R$ 26,880 bilhões no primeiro trimestre, com queda de 0,9% ante o trimestre anterior e alta de 8,9% em relação ao primeiro trimestre de 2023. A margem com clientes ficou em R$ 25,821 bilhões, com queda de 1,8% no trimestre e alta de 7,4 % em um ano. Já a margem com o mercado foi de R$ 1,059 bilhão, com alta de 26,1% e 64,3% %, respectivamente.

Segundo o banco, a redução na margem com clientes no trimestre ocorreu pois “os efeitos positivos dos maiores volumes médios de crédito e de depósitos foram mais do que compensados pela menor quantidade de dias corridos e por menor resultado com operações estruturadas no atacado”. Já a alta anual está relacionada com o maior volume de crédito e com a maior margem com passivos (por volume), além de melhores spreads. A taxa média da margem com clientes ficou em 8,9%, de 9% no quarto trimestre.

O Itaú encerrou março com R$ 1,185 trilhão na carteira de crédito expandida. O saldo aumentou 0,7% ao longo do primeiro trimestre e cresceu 2,8% na comparação com março do ano passado. O guidance para 2023 vai de 6,5% a 9,5%. A carteira de pessoa física no Brasil ficou em R$ 413 bilhões, com queda de 0,6% no trimestre e alta de 2,6% em 12 meses. Em pessoa jurídica, chegou a R$ 306,9 bilhões, com avanço de 1,0% e 2,7%, respectivamente. E, no restante da América Latina, R$ 181,9 bilhões, com baixas de 0,6% e 1,2%.

De acordo com o Itaú, o desempenho da carteira de pessoa física no trimestre foi resultado do aumento de 3% em crédito pessoal e de 1,7% em veículos, compensados pela redução sazonal em cartão de crédito. Em PJ, o banco afirma que na comparação anual ocorreram movimentos importantes em crédito rural, imobiliário e BNDES/repasses. “Além disso, merece destaque o crescimento de 28% das linhas do Pronampe e do FGI na carteira de capital de giro.”

O custo do crédito ficou em R$ 8,793 bilhões no primeiro trimestre, com queda de 3,9% no trimestre e 3,2% em 12 meses. O banco encerrou março com inadimplência de 2,7% na carteira de crédito, ante 2,8% em dezembro e 2,9% em março do ano anterior. A taxa de calotes de pessoa física no Brasil ficou em 4,2% no fim de março, ante 4,4% em dezembro e 4,9% no fim do primeiro trimestre de 2023. Em micro, pequenas e médias empresas, ficou em 2,6%, de 2,6% e 2,3%, respectivamente.

O retorno sobre o patrimônio (ROE) ficou em 21,9%, ante 21,2% no quarto trimestre e 20,7% no primeiro trimestre do ano anterior.

Teve grande redução de risco (“de-risking”) nos últimos anos. Desde o fim de 2022, o banco reduziu em 83% a exposição a clientes de risco deteriorado, que destroem valor. O Itaú deixou de ampliar sua carteira em R$ 17 bilhões em função desse de-risking. Mesmo assim, a decisão foi acertada. “Tão importante quanto crescer é saber fazer renúncias adequadas. […] Não dar crédito às vezes é a melhor decisão que a gente pode fazer para alguns públicos.”

Com forte presença no segmento de alta renda e no atacado, o Itaú ainda contou com um grande controle de gastos para conseguir passar por esse movimento de redução de risco e manter resultados recordes. Agora, o desafio é como atender a baixa renda de forma rentável.

Boa parte da estratégia passa pelo projeto chamado internamente de One Itaú, um “superapp” que vai aproveitar a plataforma do banco digital iti e mirar em uma oferta mais completa para clientes que hoje o banco atende apenas parcialmente – às vezes com só um produto. São quase 15 milhões de pessoas. Essa oferta integrada é o projeto mais importante do banco este ano. O superapp é a evolução da plataforma do iti; será algo transformacional: mais um dos big five copiando a inovação financeira de banco digital e/ou fintech.

O BTG Pactual, um banco de negócios, teve lucro líquido ajustado de R$ 2,889 bilhões no primeiro trimestre de 2024, com alta de 1,5% sobre o trimestre anterior e de 27,7% sobre mesmo período do ano anterior. A receita total ficou em R$ 5,891 bilhões, com aumento trimestral de 4,2% e anual de 22,7%.

No primeiro trimestre, o retorno ajustado sobre o patrimônio (ROAE) foi de 22,8%, de 23,4% no quarto trimestre e 20,9% no primeiro trimestre de 2023. O índice de Basileia fechou o período em 16,4%, de 17,5% no trimestre anterior e 15,5% um ano antes.

A captação líquida de clientes (“net new money”, no jargão em inglês) foi de R$ 64 bilhões de janeiro a março, acima dos R$ 41 bilhões obtidos no quarto trimestre de 2023. O valor inclui R$ 16 bilhões relacionados à aquisição da Órama. O total de recursos de terceiros atingiu R$ 1,636 trilhão, aumento anual de 27,3%.

O BTG Pactual voltou a registrar recorde de lucro e receitas no primeiro trimestre de 2024.

A área de crédito a empresas, chamada pelo banco de Corporate & SME Lending, que inclui as áreas de atacado e de pequenas e médias companhias, teve receita recorde de R$ 1,436 bilhão no período. Houve alta de 6% no trimestre e de 20% em um ano.

O portfólio de crédito somou R$ 181,6 bilhões, avanço de 26,7% em um ano. Do total, R$ 22,1 bilhões são referentes a pequenas e médias empresas.

A área de gestão de recursos (asset management) teve receita recorde de R$ 574 milhões, crescimento trimestral de 13% e anual de 30%. Já na gestão de patrimônio e no banco de varejo (wealth management & consumer banking), as receitas atingiram também o valor máximo de R$ 879 milhões, avanço de 2% e 27%, respectivamente.

A área de banco de investimentos teve receita de R$ 654 milhões no primeiro trimestre, alta trimestral de 41% e anual de 151%. Segundo o BTG, o resultado foi impulsionado positivamente pelo recorde de receitas em fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) e maiores volumes no mercado de dívida (DCM).

Em sales & trading (área que inclui corretagem e operações de mercado), a receita foi de R$ 1,371 bilhão, queda trimestral de 10% e anual de 11%.

O Nubank registrou lucro ajustado de US$ 442,7 milhões no primeiro trimestre de 2024, uma alta de 11,8% na comparação com o quarto trimestre do ano passado e de 142,7% em 12 meses. A receita chegou a US$ 2,73 bilhões, com expansão de 13,8% e 69%, na mesma base de comparação. A inadimplência subiu no trimestre, mas o banco afirma que o indicador está dentro do esperado.

O banco conseguiu entregar resultados acima do esperado mesmo em um trimestre sazonalmente fraco para a instituição, dada a relevância do cartão de crédito para o negócio.

O Nubank encerrou o primeiro trimestre com 99,3 milhões de clientes, vindo de 79,1 milhões em março de 2023. Recentemente, o banco anunciou que, após o fechamento dos resultados do primeiro trimestre, ultrapassou a marca de 100 milhões de clientes na América Latina, com mais de 92 milhões no Brasil, 7 milhões no México e cerca de 1 milhão na Colômbia.

Ao fim de março, o Nubank tinha uma carteira de crédito que rende juros de US$ 9,7 bilhões, uma expansão de 18,3% no trimestre e de 86,5% em um ano. O portfólio total era de US$ 19,6 bilhões, de US$ 12,8 bilhões um ano antes. A inadimplência ficou em 6,3% em março, de 6,1% no quarto trimestre e 5,5% no primeiro trimestre de 2023. A inadimplência de 15 a 90 dias, por sua vez, ficou em 5%, de 4,1% e 4,4% na mesma base de comparação.

Lago destacou o crescimento da carteira e acrescentou que a alta foi maior no crédito pessoal do que no cartão de crédito. “Tínhamos como objetivo fazer essa evolução do perfil da carteira”.

Sobre o avanço da inadimplência no trimestre, que foi para 6,3%, ele reforçou a mensagem que vem sendo transmitida nos últimos trimestres de que a estratégia do banco não é reduzir a inadimplência e sim elevar a margem ajustada ao risco. Em nota, o Nubank afirma o comportamento da inadimplência estar em linha com o esperado.

Em relação ao Rio Grande do Sul, a exposição do banco ao Estado é de menos de 5% da carteira de crédito.

O Nubank anunciou ter ultrapassado o número de 100 milhões de clientes no Brasil, México e Colômbia. Com isso, o banco se consolida como um dos maiores do mundo, tornando-se a primeira plataforma digital a alcançar este marco fora da Ásia.

Atualmente, o Nubank atende a mais de 92 milhões de clientes no Brasil, 7 milhões no México e quase 1 milhão na Colômbia, com níveis recordes de satisfação. “Em 2013, estabelecemos a meta ambiciosa de alcançar 1 milhão de clientes em cinco anos, o que parecia quase impossível na época. Em uma década, ultrapassamos 100 milhões”, diz em nota David Vélez, fundador e CEO do Nubank.

No Brasil, segundo dados do Banco Central, a instituição financeira com mais clientes é a Caixa, com 151,947 milhões. Depois aparecem Bradesco, com 106,523 milhões; Itaú, com 100,630 milhões. Nesse ranking, que considera dados do primeiro trimestre, o Nubank aparece com 89,797 milhões. Os dados consideram clientes na base conjugada do Cadastro de Clientes do Sistema Financeiro Nacional (CCS) e do Sistema de Informações de Crédito do Banco Central (SCR).

O Nubank, que nasceu oferecendo cartão de crédito, lançou sua conta digital. Dois anos depois, começou a expandir internacionalmente, no México e na Colômbia. Hoje o México é um dos principais focos e o banco diz que o ritmo de expansão por lá está mais rápido do que a do Brasil na mesma.

O banco realizou sua oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) na Nasdaq no fim de 2021. A ação amargou anos duros, afetada pelo aumento de juros globais após a abundância de liquidez no início da pandemia. No ano passado, no entanto, começou a engatar uma recuperação e atualmente o Nubank é avaliado em US$ 57,14 bilhões. Com esse número, está muito perto de superar o Itaú (US$ 59,66 bilhões) em valor de mercado.

Em 2023, o Nubank teve o primeiro lucro anual da sua história, de US$ 1 bilhão. Para este ano, as estimativas dos analistas giram em torno de US$ 2 bilhões.

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