Teorias dos Ciclos de Civilização

BrasiliaeA insinuação implícita na Teoria dos Ciclos de Civilização é que todas as civilizações, não importa quão magníficas sejam, estão condenadas a decair e ruir. Durante séculos, historiadores, teóricos políticos, antropólogos e o público em geral tenderam a pensar na ascensão e na queda das civilizações em tais termos cíclicos e gradativos.

No Livro VI das Histórias de Políbio, que relataram a ascensão de Roma, o processo de anaciclose política é o seguinte:

  1. Monarquia
  2. Reinado
  3. Tirania
  4. Aristocracia
  5. Oligarquia
  6. Democracia
  7. Oclocracia (governo da multidão)

Em seu livro Ciência Nova (1725), o filósofo italiano Giambattista Vico descreve que todas as civilizações passam por um ricorso com três fases:

  1. a divina;
  2. a heroica;
  3. a humana ou racional, que retorna à divina por meio do que Vico chamou “barbarismo da reflexão”.

A ideia-básica, em muitos autores, é que até os governos mais sólidos, assim como os corpos mais saudáveis, carregam as sementes de sua destruição. Cada hora que vivem é uma hora menos que têm para viver.

Adam Smith, em A Riqueza das Nações, afirmou que o crescimento econômico – “opulência” – finalmente abriria caminho para o estado estacionário. Os idealistas e os materialistas concordaram em uma coisa. Tanto para Hegel quanto para Marx, foi a dialética que deu à história seu golpe inequívoco.

A história era sazonal para Oswald Spengler, historiador alemão. Ele escreveu em O Declínio do Ocidente (1918-22) que o século XIX havia sido “o inverno do Ocidente, a vitória do materialismo e do ceticismo, do socialismo, do parlamentarismo e do dinheiro”.

O Estudo da História (1936-54), em 12 volumes, do historiador britânico Arnold Toynbee apresentou um ciclo de oposição, reação por parte de “minorias criativas”, e então declínio – o suicídio da civilização –, quando os líderes param de responder com suficiente criatividade aos desafios que enfrentam.

Outra grande teoria foi a do sociólogo russo emigrante Pitrim Sorokin, que afirmou que todas as principais civilizações passaram por três fases:

  1. ideacional”, em que a realidade é espiritual;
  2. sensata”, em que a realidade é material;
  3. idealista”, um síntese das duas anteriores.

O historiador norte-americano Carroll Quigley ensinou a seus alunos que a civilização tinha, como os homens, sete idades:

  1. Mistura;
  2. Gestação;
  3. Expansão;
  4. Conflito;
  5. Império universal;
  6. Decadência;
  7. Invasão.

Cada um desses modelos é diferente, mas todos tem em comum o pressuposto de que a história tem ritmo.

Linhas de pensamento similares são encontradas em obras de autores mais modernos. Ascensão e Queda das Grandes Potências (1987), de Paul Kennedy, é mais uma obra de história cíclica, em que as grandes potencias surgem e desaparecem de acordo com os índices de crescimento de suas bases industriais e o custo de seus compromissos imperiais com relação a suas finanças públicas. Assim como em O Curso do Império, de Cole, a expansão imperial carrega as sementes da decadência futura. Esse fenômeno de “expansão imperial excessiva” é comum a todas as grandes potencias.

Mais recentemente, foi o antropólogo Jared Diamond quem capturou a imaginação social com uma grande Teoria de Ascensão e Queda. Seu livro, Colapso – como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso (2005), é a história cíclica para a Era Verde: narrativas de sociedades, da Ilha da Páscoa do século XVII à China do século XXI, que correram ou correm o risco de se autodestruir por abusar de seu ambiente natural. Todos as civilizações chegam a sua “época de ouro” – e perecem.

De acordo com Diamond, os maias caíram em uma clássica armadilha malthusiana, uma vez que sua população cresceu a um ritmo que seu sistema agrícola frágil e ineficiente não foi capaz de suportar. Mas pessoas significava mais cultivo, mas mais cultivo significava desmatamento, erosão, seca e exaustão do solo. A consequência foi a guerra civil por recursos minguantes e, finalmente, a ruina.

A inferência de Diamond é, obviamente, que o mundo de hoje poderia seguir o caminho dos maias. O ponto crucial é que o suicídio ambiental é um processo lento e demorado. Infelizmente, os líderes políticos em quase todas as sociedades – primitivas ou sofisticadas – têm pouco incentivo para lidar com problemas que não têm probabilidade de se manifestar nos próximos cem anos ou mais. As reivindicações retóricas de “salvar o planeta” para as gerações futuras são insuficientes para superar os conflitos pela distribuição econômica entre países ricos e pobres que existem aqui e agora. Segundo Ferguson, “amamos nossos netos, mas é mais difícil enxergar uma relação com nossos tataranetos”.

Porém, é possível que todo esse sistema conceitual seja, na verdade, falho. Talvez a representação de um superciclo civilizacional de nascimento, crescimento e morte seja uma representação equivocada do processo histórico.

Ferguson lança as questões existenciais de todos os historiadores das civilizações:

  1. E se a história não for cíclica e lenta, mas sim arrítmica – às vezes quase estacionária, mas também capaz de aceleração violenta?
  2. E se o tempo histórico for menos como a mudança lenta e previsível das estações e mais como o tempo elástico de nossos sonhos?
  3. Acima de tudo, e se o colapso não demorar séculos para acontecer, mas acometer uma civilização de súbito, como “um ladrão na calada da noite”?

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