Cinco Câmeras Quebradas

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“Imagine que não houvesse nenhum país

Não é difícil imaginar

Nenhum motivo para matar ou morrer

E nem religião, também

Imagine todas as pessoas

Vivendo a vida em paz” (John Lennon)

Impressionou-me muito assistir “5 Broken Cameras“, o primeiro documentário palestiniano nomeado para um Oscar. É documento histórico, pois coloca o expectador dentro da cena, criando uma verdadeira empatia com o documentarista e seus conterrâneos.

Ele mostra a violência do exército israelense contra os residentes de uma aldeia chamada Bilin na Cisjordânia. Para ocupar o território conquistado à força, colonos israelitas se mudam para os novos apartamentos nos cumes vizinhos a Bilin. Não só os habitantes de Bilin são atacados, como até mesmo as oliveiras que lhes restam são queimadas por colonos ou arrancadas pelo exército usando máquinas de construção blindadas.

Com início em 2005, Emad Burnat, um camponês tornado cineasta amador, foi  filmando ao longo de um período de cinco anos com cinco máquinas de filmar danificadas uma após outra por soldados ou colonos israelitas. Ele documentou os protestos contra as confiscações de terras pelo governo israelita e a construção do muro que ocupa as suas terras cultivadas e os irá separar delas.

Apesar do grande risco pessoal, ele continuou a filmar com um sentimento de obrigação moral para com o seu povo e o desejo de alertar o mundo sobre a luta para salvar a sua terra. Em 2009, Burnat conseguiu o auxílio do ativista e realizador israelita Guy Davidi para o ajudar a montar o filme.

O filme ganhou muitos prêmios mundiais, na Europa, nos EUA, inclusive no Festival de Cinema de Sundance. Este documentário não ganhou o Oscar no ano em que o filme de apelo nacionalista norte-americano, Argo, recebeu o prêmio de melhor filme do ano. Apesar de ter um convite oficial para assistir à cerimônia dos Prêmios da Academia, quando Emad Burnat, a esposa e o filho mais novo Gibreel chegaram a Los Angeles, foram detidos e quase deportados pelos agentes norte-americanos de imigração, antes de o documentarista Michael Moore ter intervido e chamado os advogados da Academia.

O filme é contado em cinco episódios, cada um correspondendo à vida de uma das cinco câmeras de filmar. O crescimento ao longo de cinco anos do seu recém-nascido filho Gibreel é justaposto à luta da aldeia liderada pelos dois melhores amigos de Emad.

Gradualmente, começamos a compreender o complexo pensamento de muitos dos residentes da aldeia à medida que eles evoluem através desta experiência. Conseguimos conhecer vários deles bastante bem. Este filme não é apenas uma coleção de filmagens, pois tem um poderoso ritmo dramático e uma evolução dos personagens.

Um dos aldeãos, Phil, um homem alto afetuosamente chamado de “Elefante” pelas crianças, usa o humor para manter a moral e a unidade dos aldeãos que resistem face a humilhações, gás lacrimogêneo, balas de borracha e balas reais. Ele salienta, frequentemente, que estes protestos específicos são não violentos e apelam aos soldados israelitas na base da humanidade deles. “Somos todos primos”, diz-lhes ele.

Apesar disso, os soldados executam sem vacilação as ordens de cumprimento da estratégia israelita projetada para esmorecer a vontade de resistir dos aldeãos através do desgaste: quebrar seus rostos, destruição de suas casas e a tomada de algumas vidas. O exército não tenta matar toda a gente, mas sim mostrar que o preço pela recusa a se submeterem é mais alto do que qualquer um possa estar disposto a pagar. A não-violência de Phil e as tentativas de encontrar pontos de convergência com os soldados não alteram isto.

A luta afeta enormemente o filho de Emad, Gibreel. Quando era criança, algumas das primeiras palavras dele foram exército, cerco e bala. Emad diz que a melhor forma de proteger o filho, apesar da profunda preocupação com a segurança de Gibreel, é ele compreender como é realmente o mundo e a vulnerabilidade das vidas humanas.

Quando um dos adultos favoritos de Gibreel é morto pelos soldados, ele fica profundamente transtornado e pergunta ao pai porque é que os soldados agem da forma como o fazem, e sobretudo o que se pode fazer em relação a isso. A audiência não pode deixar de fazer a mesma pergunta.

Em 5 Câmaras Quebradas, testemunhamos os soldados chegarem à noite à aldeia e prender crianças de 12 e 13 anos, arrastando-as para a prisão entre os protestos das famílias e dos ativistas internacionais que apoiam a luta deles, entre os quais alguns israelitas. Durante os protestos, cada um dos irmãos de Emad é preso um a um.

Certa noite, os soldados dirigem-se a Emad. Dizem-lhe que pare de filmar, que está em uma zona militar fechada. Essa zona militar fechada, responde ele, é a própria casa dele. Ele vai para a prisão durante três semanas. Depois, é colocado em “prisão domiciliar”, em outro local, durante dois meses!

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