As esferas econômico e política da sociedade estão intimamente ligadas, logo, o governo é parte do sistema e não “exógeno”, como é convencionalmente apresentado em modelos de Economia de Mercado. Ele não pode aplicar qualquer política sem levar em consideração os outros tomadores de decisões – nem mesmo a política de maximização do bem-estar social –, pois mesmo neste caso ele pode entrar em conflito com poderosos grupos de interesse.
Como é possível implantar políticas econômicas em sistema deste tipo? Há alguma possibilidade de o conselheiro de política econômica, isto é, o economista, apresentar propostas que sejam seguidas?
Para responder a estas questões, Bruno Frey, em seu livro “Política Econômica Democrática: Uma Introdução Teórica”, afirma que é necessário conhecer a composição do sistema econômico-político e o seu grau de abertura.
- Em sistema totalmente fechado, não há relacionamento entre os elementos do sistema e o mundo exterior; o desenvolvimento tem um caráter completamente endógeno.
- Em sistema parcialmente aberto, há algumas relações exógenas, sendo possível influenciar o sistema de fora. Os sistemas político-econômicos se identificam com esses sistemas parcialmente abertos, pois os agentes neles envolvidos não dispõem de todas as informações. Na realidade, os tomadores de decisões econômicas são frequentemente mal informados.
- Os eleitores não podem saber, exatamente, nem querem ser obrigados a isso, até que ponto o governo é responsável pelo estado vigente da economia ou se outro partido na oposição teria feito um trabalho melhor. Eles são apenas parcialmente informados a respeito de:
- as possibilidades de fazer sentir suas preferências no processo eleitoral, e
- o grau em que estas preferências estão bem representadas por grupos de interesses específicos.
- O governo não sabe com certeza o quanto deve agir para sobreviver.
- Ele apenas sabe, grosseiramente, quais são os desejos dos eleitores e não sabe, exatamente, quantos eleitores podem ser mobilizados por qualquer grupo de interesse determinado.
- O governo e a burocracia estatal também não estão totalmente informados a respeito dos possíveis usos e consequências dos seus instrumentos de política econômica.
- Os grupos de interesse estão, praticamente, muito bem informados a respeito de sua própria esfera, mas não sabem, necessariamente, muita coisa a respeito de:
- o modo como as diferentes medidas de política econômica influenciarão seu setor,
- quais são os instrumentos que melhor atendem ao atingimento dos seus objetivos.
Portanto, os sistemas político-econômicos são parcialmente abertos às informações externas. O economista, na qualidade de conselheiro de política econômica, tem a oportunidade de influenciar o curso do sistema através do fornecimento de informações aos tomadores de decisões.
As decisões de política econômica dos vários agentes serão afetadas por informações recém obtidas. Os custos e os benefícios de suas ações serão avaliados a partir dessas novas informações, novas possibilidades de ações serão abertas e será mais fácil prever as reações e atividades futuras dos demais atores. A informação frequentemente afeta o comportamento dos tomadores de decisões de uma tal maneira que o sistema político-econômico como um todo se desenvolverá em uma direção diferente.
Em Economia Comportamental, o viés da disponibilidade (availability biases) é a heurística cognitiva na qual o tomador de decisões confia no conhecimento que está prontamente disponível em vez de examinar outras alternativas ou procedimentos. Estima a probabilidade de ocorrência de determinado evento baseando-se nas lembranças que dispõe a respeito das circunstâncias sob as quais aquele evento ocorreu no passado, sem julgamento de freqüência com que ocorre na realidade.
Quando as pessoas são solicitadas para avaliar a freqüência ou a probabilidade de um evento, fazem-no considerando a facilidade com que os exemplos ou as ocorrências podem ser trazidos à mente. Mas “a memória é curta”, isto é, não trata os acontecimentos antigos como os eventos mais recentes.
Quando se julga a probabilidade de determinado evento se repetir, as pessoas buscam em suas memórias a disponibilidade da informação relevante. Esse procedimento pode produzir estimativas enviesadas, porque nem todas as lembranças estão igualmente disponíveis. Os investidores utilizam a ocorrência recente de evento mais saliente para extrapolar sua continuidade ou mesmo seguem a tendência delineada no passado e não o novo cenário esboçado sobre o futuro.