O capitalismo global assumiu a sua forma mais avançada como economia monetária, cujos agentes detentores dos poderes de criação da riqueza social são tangidos pelo império da acumulação de riqueza abstrata. Isso não depende da maldade ou bondade desses agentes, senão de forças sistêmicas que lhes impõem a necessidade de desejar sempre mais para sobreviver em sua natureza capitalista”, escreve Luiz Gonzaga Belluzzo no prefácio do livro de Lucas Crivelenti e Castro, Novíssima dependência: a subordinação brasileira ao imperialismo no contexto do capitalismo financeirizado (São Paulo, Editora ialética, 2021, 234 págs.), publicado por A Terra é Redonda, 20-09-2023.
Luiz Gonzaga Belluzzo é economista, Professor Emérito da Unicamp e autor, entre outros livros, de O tempo de Keynes nos tempos do capitalismo (Contracorrente).
Eis o texto.
Vou perpetrar a ousadia de rabiscar algumas ideias a respeito do livro de Lucas Crivelenti e Castro Novíssima dependência: a subordinação brasileira ao imperialismo no contexto do capitalismo financeirizado.
Peço vênia, diria um jurista de escol, para começar com a globalização, um conceito demasiado impreciso, enganoso e carregado de contrabandos ideológicos. Entre os contrabandos mais notórios, inscreve-se a tentativa de excluir as relações de poder entre os Estados nacionais, ou seja, abolir as relações entre os Impérios e seus súditos.
Ainda assim, se pretendemos avançar na análise e compreensão dos processos de transformação que sacodem a economia e a sociedade contemporâneas, estamos condenados a empreender a crítica ao conceito de globalização.
São muitos os que defendem, desde uma posição supostamente “científica”, o caráter benigno do chamado processo de globalização. Dois pressupostos estão implícitos nesta formulação:
(i) a globalização conduzirá à homogeneização das economias nacionais e à convergência para o modelo liberal de mercado;
(ii) esse processo ocorre acima da capacidade de reação das políticas decididas no âmbito dos Estados nacionais.
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