O que vem a seguir na Globalização? Desglobalização, Dani Rodrik!

O que vem a seguir na globalização_ _ Opinião _ Valor Econômico (13/03/23).

Dani Rodrik é professor de Economia Política Internacional na Escola de Governo John F. Kennedy da Universidade de Harvard.

A narrativa que sustenta o atual sistema econômico global está no meio de uma transformadora reviravolta. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a chamada ordem internacional liberal tem como premissa o livre fluxo de mercadorias, capital e finanças, mas esse arranjo agora parece cada vez mais anacrônico.

Toda ordem de mercado é sustentada por narrativashistórias que contamos a nós mesmos sobre como o sistema funciona. Isso é especialmente verdadeiro para a economia global, porque, ao contrário dos países individuais, o mundo não tem um governo central agindo como legislador e executor.

Juntas, essas narrativas ajudam a criar e sustentar as normas que mantêm o sistema funcionando de maneira ordenada, dizendo aos governos o que deveriam ou não fazer. E, quando internalizadas, essas normas sustentam os mercados globais de uma forma que as leis internacionais, os tratados comerciais e as instituições multilaterais não conseguem.

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Fed rumo à Estabilidade de Preços por Frederic Mishkin

Fed rumo à estabilidade de preços _ Opinião _ Valor Econômico (09/03/23)

Frederic Mishkin é professor da cátedra Alfred Lerner de Instituições Financeiras e Bancárias na Comumbia Business School e foi membro do Conselho de Governadores do Federal Reserve.

Em 2021-2022, em decorrência de falhas na estrutura de sua política monetária, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) demorou demais para apertar sua política monetária. O resultado foi um aumento na inflação a patamares que não se viam há 40 anos.

A partir de março de 2022, o Fed deu uma guinada dramática e elevou sua taxa referencial de juros em um total de 4,5 pontos percentuais.

A atual tentativa do Fed de administrar uma “desinflação” levanta muitas questões importantes.

Será que o banco central conseguirá fazer a inflação voltar a sua meta de um patamar de 2% ao ano no futuro próximo?

Será que ainda precisará apertar sua política monetária muito além do que já fez, e por quanto tempo deveria manter os juros em um patamar elevado?

Qual será o custo para que o Fed alcance sua meta para a inflação?

Como o Fed deveria equilibrar o risco de uma recessão enquanto busca atingir a meta inflacionária?

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Fuga do Dólar: Busca de Moedas Alternativas

Países e empresas buscam alternativas a… do dólar _ Finanças _ Valor Econômico, 27/12/22

O “rei dólar” está enfrentando uma revolta. Cansados de uma moeda que está forte demais e que foi transformada em “arma” geopolítica, alguns dos maiores países do mundo vêm explorando formas de contornar o uso da divisa.

Alguns dos menores também vêm experimentando “desdolarizar-se”, incluindo pelo menos 12 países na Ásia. Além disso, as empresas pelo mundo estão emitindo uma proporção maior do que nunca de seus títulos de dívida em moedas locais, receosas de novas valorizações do dólar.

Ninguém está dizendo que o dólar será destronado tão cedo de seu reinado como principal meio de troca do mundo. Previsões quanto ao “pico do dólar” já se mostraram prematuras muitas vezes antes. Até pouco tempo, contudo, era quase inimaginável que houvesse países explorando mecanismos de pagamento que contornassem a moeda americana ou a rede Swift, que sustenta o sistema financeiro internacional.

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Debate sobre a “Fada da Confiança” devido à Austeridade


ROBERT SKIDELSKY 24 de abril de 2015

Em 2011, o economista ganhador do Prêmio Nobel, Paul Krugman, caracterizou o discurso conservador sobre déficits orçamentários em termos de “vigilantes de títulos” e a “fada da confiança”. A menos que os governos cortem seus déficits, os vigilantes dos títulos irão colocar os parafusos neles forçando a alta das taxas de juros. Mas se cortarem, a fada da confiança os recompensará estimulando os gastos privados mais do que os cortes os deprimem.

Krugman pensou que a alegação de “vigilante de vínculo” poderia ser válida para alguns países, como a Grécia, mas argumentou que a “fada da confiança” não era menos imaginária do que aquela que coleta os dentes das crianças. Cortar um déficit em uma crise nunca poderia causar uma recuperação. A retórica política pode impedir que uma boa política seja adotada, mas não pode impedir que ela tenha sucesso. Acima de tudo, não pode fazer uma política ruim funcionar.

Recentemente, debati esse ponto com Krugman em um evento da New York Review of Books. Meu argumento era: expectativas adversas poderiam afetar os resultados de uma política, não apenas as chances de sua adoção. Por exemplo, se as pessoas pensassem que os empréstimos do governo eram simplesmente impostos diferidos, elas poderiam economizar mais para pagar seus impostos futuros esperados.

Pensando bem, eu estava errado. O fator confiança afeta a tomada de decisão do governo, mas não afeta os resultados das decisões. Exceto em casos extremos, a confiança não pode fazer com que uma política ruim tenha bons resultados, e a falta dela não pode fazer com que uma boa política tenha resultados ruins, assim como pular de uma janela na crença errônea de que os humanos podem voar pode compensar o efeito da gravidade.

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Estado Atual da Economia Argentina

A realidade econômica da Argentina é preocupante, com a inflação chegando a 100%, rígidos controles de capital, quase 40% de pobreza e temores de mais inadimplências no horizonte.

O país, que é um grande produtor de grãos e já foi um dos mais ricos do mundo, registrou inflação anual de 92,4% em novembro. A taxa básica de juros é de 75%.

Questões de impressão de dinheiro, o peso artificialmente supervalorizado e baixas reservas estrangeiras estão se agravando. Os investidores temem que o ministro da Economia, Sergio Massa, nomeado para consertar as coisas em agosto, não esteja fazendo reformas políticas suficientes, de olho nas eleições gerais no final do próximo ano, que o governo teme perder.

“Massa está apenas tentando jogar fácil, está desesperado para não fazer nenhum ajuste significativo antes das eleições de 2023”, disse Ted Mann, analista sênior de ações de mercados emergentes na AllianceBernstein. “Com Massa, os argentinos são extraordinários postergadores.”

Alguns argentinos estão mais otimistas. “A Copa do Mundo nos dá esperança e vontade de acreditar. Pode ser o chute de que precisamos para formar um consenso e levar a economia adiante.”

A vitória “histórica” pode impulsionar a Argentina atraindo mais turismo, criando empregos e elevando o perfil global do país.

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A Silenciosa Maioria Progressista por Joseph Stiglitz

Joseph E. Stiglitz, prêmio Nobel de economia, é professor universitário na Universidade Columbia e membro da Comissão Independente pela Reforma da Tributação Empresarial Internacional (ICRICT, na sigla em inglês). Publicou excelente artigo (Valor, /12/22) compartilhado abaixo.

O mundo deu um suspiro de alívio neste mês quando a temida “onda vermelha” de vitórias republicanas nas eleições de meio de mandato nos Estados Unidos não se materializou. Embora os republicanos tenham assumido o controle da Câmara dos Deputados por uma pequena margem, os democratas mantiveram o do Senado.

Os eleitores americanos parecem ter rejeitado a hipocrisia e o extremismo republicanos, negando vitórias a muitos candidatos apoiados por Donald Trump que haviam falado mentiras sobre o resultado das eleições de 2020 e colocado em dúvida princípios democráticos essenciais.

Sem dúvida, sempre existe o risco de interpretar de forma errada o resultado de uma eleição, dada a complexidade dos fatores que motivam os votos individuais. Ainda assim, no meu ponto de vista, o eleitor médio racional deve ter reconhecido os sucessos históricos dos últimos dois anos. Graças ao projeto de lei de recuperação econômica (o Plano Americano de Socorro) do presidente dos EUA, Joe Biden, o país teve a recuperação mais forte entre as economias avançadas do mundo, reduzindo a pobreza infantil quase pela metade no período de um ano.

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BIS: Dívida da China atinge nível recorde de 295% do PIB e a do Brasil 179% do PIB

A dívida da China enquanto porcentagem de sua economia atingiu um novo recorde no fim de junho de 2022, com as autoridades locais contraindo empréstimos pesados para sustentar uma economia sobrecarregada pela política de tolerância zero com a covid-19, adotada pelo governo central.

O crédito ao setor não financeiro chegou a US$ 51,87 trilhões, ou 295% do Produto Interno Bruto (PIB), marcando a maior relação dívida/PIB desde 1995, segundo dados divulgados na pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS).

Em termos de comparação, a relação dívida/PIB do Brasil é de 178,7%, enquanto que a da Índia, é de 170,3%. A China também tem, de longe, a maior dívida total entre os países de renda média acompanhados pelo BIS.

Segundo o Banco Central do Brasil, em outubro de 2022, o saldo do crédito ampliado ao setor não financeiro alcançou R$ 14,6 trilhões (153,3% do PIB). Na comparação interanual, o crédito ampliado cresceu 10,8%, com relevância para os crescimentos na carteira de empréstimos do SFN (15,9%) e na carteira de títulos públicos de dívida (9,8%). 

O crédito ampliado a empresas atingiu R$ 5,1 trilhões (53,8% do PIB). No período de 12 meses encerrado em outubro, a elevação de 10,9% do crédito ampliado a empresas decorreu principalmente dos crescimentos de 29,5% em títulos de dívida e de 11,5% na carteira de empréstimos e financiamentos do SFN. 

O crédito ampliado às famílias atingiu R$3,4 trilhões, equivalentes a 35,4% do PIB, em outubro, com aumento de 18,7% em doze meses, em linha com o comportamento dos empréstimos do SFN. 

A relação dívida/PIB da China superou o pico anterior alcançado no fim de 2020, mesmo com a economia fraca desencorajando a tomada de empréstimos por empresas privadas e famílias.

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Mundo Religioso e Conservador, portanto, Inculto

Anna Virginia Balloussier (FSP, 08/11/22) informa: já somos 8 bilhões no planeta, diz a ONU. E Deus não só continua em alta como estará mais pop do que nunca quando nos aproximarmos dos 10 bilhões de humanos, algo previsto para pouco mais de 30 anos.

A questão é: qual Deus será esse? Contrariando prognósticos passados, que falavam numa secularização em massa, o mundo tende a ficar ainda mais religioso, segundo projeções do Pew Research Center, organização americana que aborda questões de fé em suas pesquisas. Ficará, também, mais muçulmano.

A crença com mais afiliados ainda será a cristã, mas o islamismo crescerá mais rapidamente do que qualquer outra das grandes religiões. Até 2050, o bloco muçulmano será apenas residualmente menor do que o cristão —se arredondada a estatística, ambos reunirão 3 em cada 10 pessoas vivendo na Terra.

Outra consequência desse movimento será o encolhimento do grupo que, até pouco tempo, simbolizava o enfraquecimento desse arcabouço de fé, aquele dos que não declaram nenhuma crença em particular.

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Finanças e Multicrises: recessão global da habitação

Finance and the polycrisis: The global housing downturn. Chartbook #171

Adam Tooze

Neste momento precário – no quarto trimestre de 2022, dois anos após a recuperação do COVID – entre todas as forças condutoras de uma desaceleração global abrupta e disruptiva, de longe a maior é a ameaça de um choque habitacional global.

Havia alguma ansiedade mesmo antes de 2020 com a escalada dos preços das casas em metrópoles de todo o mundo, mas a pandemia causou um choque sem precedentes nos mercados imobiliários. Em 2020 e 2021, os preços das casas subiram, fazendo o FMI soar o alarme em seu Relatório de Estabilidade Financeira de outubro de 2021.

No segundo semestre de 2021, a inflação acelerou, devido a choques de oferta e, em 2022, esse aumento se ampliou. Com as taxas de juros subindo com velocidade sem precedentes, a questão agora é se, após as paralisações de 2020 e a rápida recuperação de 2021, o inverno de 2022-3 verá o início de um colapso imobiliário global. Se isso ocorresse, o impacto seria enorme.

Na economia global, existem três classes de ativos realmente grandes:

  1. as ações emitidas por empresas (US$ 109 trilhões);
  2. os títulos de dívida emitidos por empresas e governos (US$ 123 trilhões);
  3. os ativos imobiliários, dominado por imóveis residenciais, avaliados mundialmente em US$ 258 trilhões.

Imóveis comerciais (US$ 32,6 trilhões) e terras agrícolas somam outros US$ 68 trilhões.

Se as notícias econômicas fossem divulgadas de forma mais sensata, os índices do mercado imobiliário global figurariam todos os dias ao lado do S&P500 e do Nasdaq.

O aumento nos preços globais das casas em 2019-2021 adicionou dezenas de trilhões à riqueza global medida. Se isso se desenrolar, causará um enorme choque recessivo.

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Riscos Geopolíticos e Petróleo

Embora os riscos geopolíticos perenes e às vezes inesperados sempre afetarem o petróleo permaneçam, segundo Daniel Yergin eles serão moderados por vários fatores. Mesmo o número de veículos até agora sendo pequeno, o surgimento da eletricidade como concorrente no transporte e a possibilidade da Auto-Tech fornecem uma alternativa ao transporte baseado em petróleo e ao domínio incontestável do petróleo.

O impacto será aprimorado enquanto as montadoras buscam cumprir suas promessas de eletrificar suas novas frotas de carros, reforçadas por governos promotores da recuperação verde. A abundância desbloqueada pela revolução do xisto na América do Norte, apoiada pelas areias betuminosas canadenses e pela nova produção em outros lugares, fornece um “colchão de segurança” significativo contra interrupções no fornecimento.

Na maioria das vezes, a energia eólica e solar competem com o gás natural e o carvão para gerar eletricidade, não com o petróleo para o transporte. No entanto, a queda dramática nos custos da energia eólica e solar – juntamente com sua escala em rápido crescimento – altera o equilíbrio no mix geral de energia enquanto, ao mesmo tempo, o mundo se torna mais elétrico.

A crise do coronavírus demonstrou o grau no qual a digitalização se tornou concorrente do transporte, usando elétrons para conectar pessoas em vez de moléculas para movê-las.

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Futuro Destruído

A conclusão do livro The New Map de autoria de Daniel Yergin, publicado em 2020, tem este título aterrorizante.

Para onde leva esse novo mapa de energia e geopolítica? O colapso do comunismo soviético, a transformação da China e o movimento da Índia para abrir sua economia –juntos trouxeram mais de dois bilhões e meio de pessoas para a economia mundial, criando conexões e oportunidades jamais imaginadas anteriormente.

O resultado foi o impulso em direção a uma ordem mundial mais colaborativa, baseada em uma economia global cada vez mais conectada, facilitada pela internet e comunicações cada vez mais baratas, avanços no transporte e fluxos de capital, habilidades e conhecimento – e pessoas. Tudo isso foi capturado no termo “globalização”. E tudo foi alimentado por energia, como foi apresentado no livro de Daniel Yergin e Joseph Stanislaw, The Commanding Heights: The Battle for the World Economy (New York: Simon & Schuster, 2002).

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Transição Energética

O debate sobre a rapidez com a qual o mundo pode e deve se ajustar a um clima em mudança e quanto isso custará provavelmente não será resolvido nesta década. Mas o empreendimento terá maior urgência logo quando a opinião pública se tornar mais desperta e novas políticas buscarem implementar o “carbono líquido zero”.

Tudo isso leva Daniel Yergin à “transição energética”: a mudança do mundo de hoje, dependente de petróleo, gás natural e carvão para mais de 80% de sua energia – exatamente como há trinta anos – para um mundo a operar cada vez mais com energias renováveis. O Acordo de Paris de 2015 galvanizou a marcha em direção a um futuro com menos carbono.

De fato, em termos de energia e clima, existem duas épocas distintas: “Antes de Paris” e “Depois de Paris”. No entanto, embora a transição energética tenha se tornado um tema difundido em todo o mundo, há divergências, tanto dentro dos países quanto entre eles, sobre a natureza da transição: como ela se desenrola, quanto tempo leva e quem paga.

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