População nativa do Japão diminui a quase 100 pessoas por hora

FINANCIAL TIMES

A população nativa do Japão está diminuindo a uma taxa de quase 100 pessoas por hora, apesar dos esforços intensificados pelo governo para aumentar a baixa taxa de fecundidade do país.

De acordo com dados oficiais, o número de japoneses diminuiu pelo maior volume no período de um ano desde que registros comparáveis começaram a ser feitos em 1950: uma queda de 837 mil pessoas nos 12 meses anteriores a 1º de outubro de 2023.

Essa queda representa uma redução diária média de 2.293 pessoas, ou pouco menos de 96 por hora.

O mesmo relatório, publicado pelo Ministério dos Assuntos Internos e Comunicações, mostrou que a população total do Japão era de 124,3 milhões em outubro de 2023 —a redução é de 595 mil em relação ao ano anterior e após ajuste com níveis constantemente crescentes de trabalhadores imigrantes, estudantes estrangeiros e residentes permanentes estrangeiros.

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Fascismo Eterno: mudou, mas não está morto

Martin Wolf é editor e principal comentarista econômico do Financial Times. Publicou o importante artigo abaixo no Valor e FSP.

Estamos assistindo à volta do fascismo? Será que Donald Trump, para usar o exemplo contemporâneo mais importante, é um fascista? E a francesa Marine Le Pen? Ou Viktor Orbán, da Hungria? A resposta depende de o que se entende por “fascismo”. Porque o que presenciamos hoje não é apenas autoritarismo. É um autoritarismo com características fascistas.

Precisamos começar com duas distinções.

A primeira é entre o nazismo e o fascismo. Como o falecido Umberto Eco, humanista e escritor, observou em um ensaio sobre “O Fascismo Eterno”, publicado na “New York Review of Books” em 1995, o “Mein Kampf de Hitler é um manifesto de um programa político completo”. No poder, o nazismo foi, tal como o stalinismo, “totalitário”: ele controlava tudo. O fascismo de Mussolini era diferente. Nas palavras de Eco, “Mussolini não tinha uma filosofia: tinha apenas retórica… O fascismo era um totalitarismo confuso, uma colagem de ideias filosóficas e políticas diferentes, um emaranhado de contradições”. Trump é igualmente “confuso”.

A segunda distinção é entre o passado e hoje. Os fascismos dos anos 1920 e 1930 surgiram da Primeira Guerra Mundial. Eram naturalmente militaristas tanto nos meios como nos objetivos. Além disso, naquela época a organização centralizada era necessária para que as ordens fossem difundidas. Hoje em dia, as redes sociais farão grande parte desse trabalho.

Portanto, o fascismo de hoje é diferente daquele do passado. Mas isso não significa que a noção seja desprovida de sentido. No seu ensaio, Eco descreve uma série de características do “Ur-Fascismo – ou Fascismo Eterno”.

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Imparcialidade no Direito é Ilusória

Álvaro Machado Dias: Neurocientista, professor livre-docente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e sócio do Instituto Locomotiva e da WeMind
Hélio Schwartsman: Colunista da Folha, foi editor de Opinião. Autor de “Pensando Bem…”

[RESUMO] Estudo publicado na FSP, 25/02/24 (e compartilhado abaixo) aponta que a atribuição de intenção e responsabilidade é diretamente influenciada pelo resultado das ações. Quando os desfechos são negativos, nossa tendência a imputar culpa é muito maior, indicam testes realizados com 4.000 pessoas. Estes resultados contradizem a ideia de objetividade dos juízes, que norteia o Direito Penal, demonstrando a necessidade de rediscutir vários pontos do sistema de Justiça à luz do funcionamento da mente.

E se as bases em que o direito penal se sustenta estiverem erradas? Bem, elas estão. Só é preciso definir o quanto e o como.

No pior cenário, o livre-arbítrio, que frequentemente invocamos para justificar sanções jurídicas e decisões morais, não existe, o que exigiria reformular uma boa parte de nossas práticas centenárias.

Todavia, mesmo que a situação não seja tão dramática e possamos conservar a espinha dorsal de nosso sistema de Justiça, encontramos uma inconsistência interessante no modo como as pessoas veem a intencionalidade, um dos principais divisores de águas do Direito Penal, o que cobra algum tipo de resposta.

Este ensaio combina reflexões teóricas sobre a existência do livre-arbítrio e suas consequências para o Direito e a Filosofia com uma investigação empírica, uma pesquisa de opinião estratificada, a respeito de como as pessoas encaram intenções e atribuem responsabilidades. Já antecipando nossos achados, não são o que teóricos do Direito ou mesmo lógicos esperariam.

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Ranking Mundial de Maiores Economias: PIB PPC em lugar de PIB Nominal

O PIB nominal do Japão em 2023 indica o país ter perdido o posto de terceira maior economia do mundo para a Alemanha. O Japão, na década de 1990, chegou a superar brevemente os Estados Unidos como maior PIB global. Foi superado pela China no segundo lugar a partir de 2010.

Em outubro, quando divulgou suas projeções globais, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já tinha indicado: o Japão seria superado pela Alemanha, considerando o PIB nominal. A economia japonesa deve ficar em US$ 4,231 trilhões este ano, enquanto a alemã deve crescer para US$ 4,429 trilhões.

Ainda de acordo com as projeções do FMI, o Japão deve perder o quarto lugar entre as maiores economias do mundo para a Índia em 2026. Em 2027, os indianos devem ultrapassar também os alemães, tornando a Índia a terceira maior economia do mundo.

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Defesa da Democracia em Oposição a Governos Autoritários (por Adam Przeworski)

Tá na cara! Você votaria em uma cara destas?! Não é sinal de decadência da potência antes hegemônica este cara ter sido presidente dos EUA?

Adam Przeworski é Professor de Ciência Política da Universidade de Nova York. Autor, entre outros livros, de “Capitalismo e Social-democracia” e “Crises da Democracia“. Ele argumenta (FSP, 03/02/24) o considerado democrático depende dos valores atribuídos à democracia, Ressalta as concepções minimalistas e maximalistas terem determinado os termos do debate recente sobre as ameaças enfrentadas por regimes democráticos de todo o mundo.

Tudo o que os eleitores decidem em uma eleição livre é “democrático”? O que é democrático depende dos valores que são atribuídos à democracia. A distinção que determina a resposta está entre as concepções minimalistas e maximalistas da democracia. Por concepção, quero dizer uma definição que tem sentidos normativos, como todas as definições de democracia têm.

MINIMALISMO E MAXIMALISMOS

A democracia é um sistema no qual os cidadãos decidem coletivamente por quem e, até certo ponto, como serão governados. Essa característica é determinante: um regime é democrático se —e somente se— as pessoas são livres para escolher e, inclusive remover, governos.

Na concepção minimalista, isso é tudo o que há na democracia. Desde que todos os pré-requisitos necessários para que os cidadãos escolham livremente os governos sejam cumpridos e as decisões sejam tomadas de acordo com os procedimentos estabelecidos, qualquer coisa que os eleitores decidam é democrática.

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Ray Dalio: sobre como as pessoas estão vendo as coisas de maneira diferente

Esta postagem de Ray Dalio é sobre:
1. Duas formas diferentes de pensar e os problemas que essas diferentes formas de pensar estão causando;
2. Como a única maneira de obter entendimento para obter bons resultados é ver as coisas através dos olhos de outras partes relevantes;
3. Como a perspectiva que se obtém de estar quase exclusivamente em um país (por exemplo, os Estados Unidos) é distorcida; e
4. Como a maioria dos países encara a escolha entre a paz ou a guerra.

Faz isso em duas pequenas partes.

Parte Um: Diferentes Maneiras de Pensar e Ver as Coisas através dos Olhos dos Outros

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Democracia salve a Argentina da Extrema-Direita!

Nesse período mais agudo de uma crise que se arrasta há décadas na Argentina, a expectativa da dolarização da economia, a principal bandeira eleitoral do favorito na disputa, o ultradireitista Javier Milei, levou a uma corrida aos dólares.

Em duas semanas, o dólar no câmbio paralelo subiu de menos de 700 para mais de 1.000 pesos. Como consequência – em um país cuja inflação anual atingiu 138,3% em setembro de 2023 – praticamente todos os setores da atividade econômica ficaram sem ter como formar preços, em compasso de espera possível de se estender até o anúncio do resultado do primeiro turno.

Pesquisas argentinas apontam para a possibilidade de um triunfo de Milei, do La Libertad Avanza (LLA). Ele catalisou a revolta e o cansaço da população com os políticos tradicionais (já vimos esse filme no Brasil e vimos não terminar bem), já no primeiro turno.

Para isso, ele precisa ter 45% dos votos ou 40% e uma diferença de 10 pontos percentuais do segundo colocado. Caso isso não ocorra, haverá um segundo turno em 19 de novembro.

O verdadeiro desafio seria o contrário de sua demagogia populista de direita: convencer aos argentinos terem confiança na moeda nacional como reserva de valor e no sistema bancário argentino. Só assim não haveria a hiperinflação.

Esta surge quando a cotação do dólar como reserva de valor, sob pressão da demanda social, fica disparatada. Os argentinos passam a usá-lo também como unidade-de-conta (fixação de preços em dólar) e quando se converte para os preços com meios de pagamentos em moeda nacional, esses ficam também disparatados!

Prefácio de Luiz Gonzaga Belluzzo

Belluzzo

O capitalismo global assumiu a sua forma mais avançada como economia monetária, cujos agentes detentores dos poderes de criação da riqueza social são tangidos pelo império da acumulação de riqueza abstrata. Isso não depende da maldade ou bondade desses agentes, senão de forças sistêmicas que lhes impõem a necessidade de desejar sempre mais para sobreviver em sua natureza capitalista”, escreve Luiz Gonzaga Belluzzo no prefácio do livro de Lucas Crivelenti e Castro, Novíssima dependência: a subordinação brasileira ao imperialismo no contexto do capitalismo financeirizado (São Paulo, Editora ialética, 2021, 234 págs.), publicado por A Terra é Redonda, 20-09-2023.

Luiz Gonzaga Belluzzo é economista, Professor Emérito da Unicamp e autor, entre outros livros, de O tempo de Keynes nos tempos do capitalismo (Contracorrente).

Eis o texto.

Vou perpetrar a ousadia de rabiscar algumas ideias a respeito do livro de Lucas Crivelenti e Castro Novíssima dependência: a subordinação brasileira ao imperialismo no contexto do capitalismo financeirizado.

Peço vênia, diria um jurista de escol, para começar com a globalização, um conceito demasiado impreciso, enganoso e carregado de contrabandos ideológicos. Entre os contrabandos mais notórios, inscreve-se a tentativa de excluir as relações de poder entre os Estados nacionais, ou seja, abolir as relações entre os Impérios e seus súditos.

Ainda assim, se pretendemos avançar na análise e compreensão dos processos de transformação que sacodem a economia e a sociedade contemporâneas, estamos condenados a empreender a crítica ao conceito de globalização.

São muitos os que defendem, desde uma posição supostamente “científica”, o caráter benigno do chamado processo de globalização. Dois pressupostos estão implícitos nesta formulação:

(i) a globalização conduzirá à homogeneização das economias nacionais e à convergência para o modelo liberal de mercado;

(ii) esse processo ocorre acima da capacidade de reação das políticas decididas no âmbito dos Estados nacionais.

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Dolarização: Estudos de Casos

Razões diferentes, com resultados também distintos, levaram três países latino-americanos a adotar o dólar como moeda – o mesmo caminho que o candidato líder namaioria das pesquisas para a eleição presidencial argentina, o ultradireitista Javier Milei,promete adotar, se eleito. Panamá, Equador e El Salvador – que têm economias muitomenores do que a argentina -, porém, sofrem cada um a seu modo as consequências deatrelar sua política monetária à do banco central dos EUA.

Em nenhum dos três casos, a dolarização resolveu totalmente problemas macroeconômicos crônicos do continente, como o desequilíbrio fiscal, o persistente baixo crescimento e a desigualdade. Um dos poucos ganhos foi o controle da inflação que, apesar de serem menores que a média da região, ainda assim são elevadas para uma economia dolarizada. E esses países também arcam com o custo de ficarem mais expostos a choques externos a eles por não mais ditarem sua política monetária.

Especialistas ressaltam que, além do tamanho e da complexidade da economia da Argentina, o processo de dolarização defendido por Milei seria mais complicado porque o país é muito mais dessincronizado com os ciclos econômicos dos EUA do que as três nações dolarizadas da região.

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Opinião de Ray Dalio sobre Atual Conjuntura Política nos EUA

Ray Dalio acredita existirem cinco grandes forças inter-relacionadas para impulsionarem quase tudo de maneiras que nunca aconteceram antes em nossas vidas, mas que aconteceram muitas vezes na história. Elas são:

1) níveis muito elevados de dívida e de criação de dívida nos EUA e noutros países com moeda de reserva;
2) níveis intensos de conflito dentro dos países (principalmente os EUA) devido a grandes disparidades de riqueza e valores e a extremistas populistas da direita e da esquerda que lutam para vencer a todo custo;
3) níveis intensos de conflito entre países (principalmente entre os EUA e a China e aqueles que se alinham com eles) num conflito clássico entre grandes potências;
4) atos prejudiciais significativos à natureza (secas, inundações e pandemias) e;
5) a aprendizagem e a implantação de novas tecnologias pela humanidade (mais recentemente e nomeadamente, a IA).

Quase tudo o que acontece se enquadra em uma dessas categorias e neste modelo. Tendo visto esta dinâmica acontecer muitas vezes antes, Dalio vê todos os desenvolvimentos neste contexto e pergunta: estamos a progredir em direcção à clássica tempestade perfeita?

Vê os desenvolvimentos recentes relacionados com a remoção de Kevin McCarthy [republicano presidente da Câmara de Deputados] como relacionados com o segundo deles, a força de conflito interno. Então, no seu post recente, abaixo compartilhado, ele vai se aprofundar nisso.

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China: evitar a Armadilha da Estagnação do Japão

China pode evitar a armadilha do Japão _ Opinião _ Valor Econômico (27/09/23) – Martin Wolf, editor e principal analista de economia do Financial Times

Terá chegado ao fim o período de expansão econômica relativamente rápida da China? Esse foi o foco da coluna da semana passada. A resposta, argumentei, é que a China ainda tem o potencial para alcançar o padrão de vida dos países mais ricos do mundo, porque ainda é relativamente pobre. Isso, porém, não significa que o fará.

O país enfrenta grandes obstáculos para dar continuidade a seu sucesso. Nesta coluna, abordarei um dos mais importantes: o “subconsumo”.

Os últimos 20 anos deveriam ter servido para acabar com a ideia de que as economias tendem naturalmente ao pleno emprego. Ao contrário, propensões excessivas a poupar podem gerar uma demanda deficiente crônica, que precisa ser contrabalançada por políticas monetárias e fiscais expansionistas.

Por sua vez, essas “soluções” podem gerar outros problemas. A análise da crise financeira mundial de 2007 a 2009 em meu livro “The Shifts and the Shocks” (as mudanças e os choques, em inglês) se baseou em grande medida nesse argumento.

Também observei que o excesso de poupança desempenhou um papel central na história sobre como a economia do Japão perdeu o rumo. O excesso de poupança na Alemanha desempenhou um papel central na crise da região do euro.

A China é hipercapitalista. Uma proporção enorme da renda nacional vai para aqueles que controlam o capital, e eles a estão poupando. Durante a fase de hipercrescimento, isso funcionou bem. Agora, a poupança é muito maior do que aquilo que pode ser usado para fins produtivos

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Futuro da China

Não é o fim da ascensão da China, ainda _ Opinião _ Valor Econômico (20/09/23) – Martin Wolf, editor e principal analista de economia do Financial Times

Qual será o futuro da China? Ela se tornará uma economia de alta renda e, portanto, inevitavelmente, a maior do mundo por um período prolongado, ou ficará presa na armadilha da “renda média”, com crescimento comparável ao dos Estados Unidos?

Esta é uma questão vital para o futuro da economia mundial. Também não é menos vital para o futuro da política global.

As implicações podem ser vistas de uma maneira bem simples. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) o PIB per capita da China (medido pela paridade do poder de compra) foi 28% do nível dos EUA em 2022. Isso é quase exatamente a metade do PIB per capita relativo da Polônia.

Também classifica o PIB per capita da China em 76o lugar no mundo, entre o de Antigua e Barbuda, acima, e o da Tailândia, abaixo. No entanto, apesar de sua relativa pobreza, o PIB da China (medido desta maneira) é o maior do mundo. Agora, suponha que seu PIB relativo per capita dobrou, igualando o da Polônia. Então, seu PIB seria mais que o dobro do dos EUA e maior que o dos EUA e o da União Europeia juntos.

Tamanho importa. A China certamente continuará sendo um país muito populoso por um longo período. Em 2050, por exemplo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), ela ainda terá 1,3 bilhão de habitantes.

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