Corrupção Futebol Clube

Receitas com a Negociação de Atletas Série A Ampliada – Fonte: Relatório 2023 da consultoria Convocados a partir de demonstrações financeiras de 2022 dos clubes.

O escândalo de corrupção na FIFA (Federação Internacional de Futebol), em 2015, abalou sua reputação e levou à prisão de vários dirigentes da entidade. O Departamento de Justiça dos Estados Unidos investigou a corrupção generalizada dentro da FIFA, incluindo subornos, lavagem de dinheiro e fraude em conexão com a comercialização de direitos de transmissão e marketing de competições como a Copa do Mundo. O então presidente da FIFA, Joseph Blatter, renunciou ao cargo em meio ao escândalo.

A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) esteve envolvida nessa corrupção. Autoridades suíças prenderam sete dirigentes de futebol, incluindo o então presidente da CBF, José Maria Marin, em conexão com a investigação de corrupção na FIFA. O escândalo resultou em mudanças na liderança da entidade.

Esses casos evidenciaram a necessidade de reformas profundas nas estruturas e práticas de governança do futebol. Visariam aumentar a transparência e a prestação de contas.

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Lavagem de Dinheiro Futebol Clube

Ranking de Dívida Líquida por Clube – Fonte: Relatório 2023 da consultoria Convocados a partir das demonstrações financeiras de 2022.

A maior “bolha de ativo”, em prazo médio, talvez seja o passe contratual de jogadores de futebol. Basta ser bem-sucedido, em início da carreira profissional, para ser supervalorizado, porque muitos empresários o usam para ganhar e/ou lavar dinheiro.

O atacante Vitor Roque, formado nas categorias de base do Cruzeiro, teve ligeira passagem pelo Athletico-PR e já deve ser vendido para o Barcelona. O Diario As noticiou: o time catalão pagará cerca de 40 milhões de euros (R$ 209,6 milhões na cotação atual) pelo jovem de apenas 18 anos, artilheiro da Seleção Brasileira sub-20 na Sul-americana.

Com apenas 17 anos, Vitor Roque marcou seis gols e deu uma assistência em 11 partidas pelo time principal do Cruzeiro em 2022. No Athletico-PR, o centroavante disputou 61 jogos, tendo feito 17 gols e distribuído sete assistências.

O Cruzeiro cobra do Athletico-PR, na Justiça, R$ 56 milhões pela negociação de Vitor Roque. A ação, tramitando na CNRD (Câmara Nacional de Resoluções e Disputas), é referente a uma regra em relação à renovação de contrato de Vitor Roque.

A alegação é ter feito uma proposta de extensão de vínculo com ele antes de o Athletico-PR depositar o valor referente à multa rescisória do jogador em abril de 2022. O time mineiro possuía preferência para renovar com o atleta, mas seu ex-diretor de futebol foi para o clube paranaense e usou a inside information para contratar o jovem talento.

O clube celeste chegou a protocolar a renovação na Federação Mineira de Futebol (FMF), mas, ainda assim, o Athletico-PR depositou o valor referente ao contrato antigo. Para o Cruzeiro, ele precisava ter acionado o clube sobre a proposta para Vitor Roque e o time celeste teria, então, a possibilidade de igualar as cifras oferecidas ao atleta.

No Brasil, para o mercado nacional, a multa rescisória é definida de acordo com o salário do jogador. Portanto, uma extensão automática do contrato de Vitor Roque, com valorização salarial, aumentaria o valor necessário para tirar o atacante do Cruzeiro.

Há ainda uma segunda ação preventiva na qual o Cruzeiro pede correção do valor pago pelo Athletico-PR. De acordo com o clube mineiro, o paranaense depositou R$ 24 milhões, mas algumas valorizações salariais recebidas por Vitor Roque antes de deixar o time celeste elevariam o valor para R$ 27 milhões.

Apesar da pequena recuperação em 2022 com relação a 2021 (+10% em euros), as receitas com negociação de atletas brasileiros em moeda forte ainda estão 31% abaixo de 2019, segundo o Relatório 2023 das consultorias Convocados, Galapagos e OutField. A justificativa é a demanda por atletas mais jovens e, consequentemente, com valor de multa menores.

Além disso, os atletas estão levando seus contratos até o fim, deixando os clubes sem direito a ressarcimento financeiro. Esta prática tem sido vista também na Europa.

São Paulo (R$ 229 milhões) foi o maior destaque em termos de negociações. No caso, suas receitas foram impactadas em cerca de R$ 100 milhões pela revenda de atletas formados já na Europa: Antony para o Barcelona e Casemiro para o Manchester United.

Os clubes não podem depender só das receitas com negociações de atleta, pois são incertas, embora elas façam parte do negócio do futebol. O principal aspecto a ser avaliado é o nível de dependência dos clubes brasileiros em relação a esse tipo de receitas. As simulações das citadas consultorias apontam o intervalo ideal ficar entre 10% e 25% das receitas totais, caso tenham alguma recorrência.

A pandemia reduziu o volume de negociações na Europa, impactando nas negociações de atletas do Brasil para o continente. A Inglaterra segue sendo o país de destino da maioria das negociações. Na principal janela de transferência, a do verão europeu (agosto), dos 10 maiores valores de transferência, 7 envolviam chegadas de atletas na Inglaterra. Na janela de inverno (janeiro), lá se comprou 8 entre as 10 maiores vendas.

A Inglaterra movimenta mais dinheiro, mas menos atletas. O valor médio de contratação por atleta é mais alto diante do registrado nas demais ligas. Itália e Portugal movimentam muitos atletas, mas de menor valor.

Maior movimento e menor valor tem relação direta com o perfil da liga. Na Itália, há muita movimentação interna, enquanto Portugal, Países Baixos e França recebem atletas jovens para finalizar formação e revender.

Em 2022, houve aumento da presença de negociações abaixo de € 2 milhões como reflexo da redução na ideia média das contratações. Mas foram também retomadas as negociações acima de € 50 milhões, indicando o mercado estar se recuperando.

Comparando 2019 com 2022, a Inglaterra passou a optar por contratações de atletas mais maduros. Ter mais dinheiro permite acessar atletas com maior experiência e chance de acertar logo. Exceto na da Espanha, no meio termo, as demais ligas optam por atletas mais jovens, adotando a prática de formação, especialmente, na Alemanha, França, Países Baixos e Portugal.

Negociar atletas é parte (ou arte) do negócio. Há o exemplo italiano de instabilidade, onde historicamente o lucro na negociação de atletas representava mais de 20% das receitas, e houve queda brusca para 12%, em 2020-2021, por conta da pandemia. É preciso fazer as escolhas certas, formar bem e se apropriar do ganho pela formação.

Outra parte do negócio do futebol é escuso, ou seja, incita desconfiança, tende a ser misterioso, porque não está em conformidade com a lei e, portanto, é ilícito. A lavagem de dinheiro no futebol pode ocorrer de várias maneiras como os seguintes exemplos.

Uma forma comum de lavagem de dinheiro no futebol é a compra de clubes de futebol. Indivíduos com fundos ilícitos adquirem clubes para usar o futebol como uma fachada legítima para justificar a origem de seu dinheiro.

Outra forma de lavagem de dinheiro é através de investimentos em jogadores. Muitos bilionários compram jogadores, investem em seus direitos econômicos em conluio com os administradores de carreiras de atletas, capazes de intermediar suas transferências, e usam essas transações como meio de introduzir dinheiro ilegal no sistema financeiro.

A lavagem de dinheiro também pode ocorrer por meio de pagamentos não declarados a jogadores e agentes. Parte do dinheiro ilegal é mascarada como salários ou comissões “por fora” concedidas a jogadores e agentes envolvidos em transações de jogadores.

Lavadores de dinheiro realizam transferências financeiras complexas e obscuras entre diferentes países e contas bancárias, dificultando o rastreamento e a identificação da origem do dinheiro. Paraísos fiscais são utilizados para ocultar a verdadeira identidade dos envolvidos e facilitar a transferência de dinheiro de forma a dificultar a rastreabilidade dos recursos.

Também empresas fictícias ou controladas por lavadores de dinheiro são usadas para firmar contratos de patrocínio ou adquirir direitos de transmissão de partidas de futebol. Permite o dinheiro sujo ser injetado nele sob a aparência de investimento legítimo.

Há um sistema ilegal dedicado a maximizar lucros de indivíduos em detrimento dos clubes. É um sistema de divisão de comissões bastante experimentado. Um clube compra um jogador de outro por um valor de transferência acordado entre eles. Os agentes recebem uma comissão na forma de um percentual do valor dessa transação.

Eles repassam então parte de sua comissão aos demais indivíduos facilitadores da transação. Muitos técnicos participam das “jogadas de troca-de-favor”: contratam, indicam ou escalam jogadores para receber comissão (“prêmio”) com a valorização deles e sua venda posterior.

Essa propina é discretamente paga em dinheiro vivo ou por meio de “presentes” como relógios de luxo ou até carros premium. É evasão fiscal, corrupção e lavagem de dinheiro!

Esses abusos se devem à concentração de grandes somas de dinheiro em uma mesma transação na qual diferentes partes estão interessadas, ao poder discricionário de uma única pessoa como o diretor de futebol, ao valor subjetivo da “mercadoria”, sem baliza para avaliação do preço de um jogador de futebol, e à flexibilidade da legislação em matéria de conflitos de interesse: atuar em causa própria ao ocupar cargo de decisões.

Tudo isso ocorre em contexto de fragilidade financeira do futebol profissional. A maioria dos clubes encontra-se em situação precária e necessita das transferências de jogadores para tentar equilibrar as contas.

Para investigar, o follow the Money é facilitado porque os valores anunciados nas transferências nunca são pagos à vista de uma única vez, mas em parcelas, semestrais ou anuais, de acordo com a duração dos acordos. O agente de jogadores paga as várias partes interessadas ou corruptas no mesmo ritmo e para isso precisa manter registros. Basta a polícia fazer busca e apreensão em residências e escritórios para os encontrar.

Publicado originalmente em: https://forum21br.com.br/economia/lavagem-de-dinheiro-futebol-clube/

Bilionários Futebol Clube

Várias razões levam os bilionários estrangeiros a comprarem times de futebol.

Muitos bilionários são aficionados por futebol e têm uma paixão pessoal pelo esporte. Comprar um time de futebol lhes permite participar ativamente na sua gestão e direção.

Ter a propriedade de um time de futebol de renome traz prestígio e status social. É particularmente atraente para indivíduos com desejo de aumentar sua visibilidade e obter reconhecimento público.

Ser dono de um clube de futebol proporciona oportunidades de networking. Conexões com outras pessoas influentes e empresários são benéficas para os negócios e abrem portas para novas parcerias e empreendimentos.

Proprietários de times de futebol obtêm uma influência considerável na sociedade. Utilizam essa posição para promover causas sociais, envolver-se em questões políticas e contribuir para o desenvolvimento e a promoção do esporte em seu país ou região.

Alguns bilionários veem a compra de um time de futebol como um investimento potencialmente lucrativo. Clubes de futebol populares se forem bem administrados geram receitas significativas por meio de vendas de ingressos, patrocínios, direitos de transmissão, merchandising e transferências de jogadores.

O mundo do futebol é complexo por envolver diferentes dinâmicas financeiras, sociais e culturais. Atraem até investidores estrangeiros.

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Finanças Futebol Clube

O relatório de 2023 produzido pelas consultorias Convocados, Galapagos e OutField permite o acompanhamento da evolução das finanças dos clubes futebolísticos e a comparação com os associados com SAF – Sociedade Anônima do Futebol. As dificuldades financeiras levaram à experimentação desse novo modelo de gestão.

Alguns números agregados dão uma impressão inicial do conjunto. Em 2022, foram R$ 6,9 bilhões de receitas totais da Série A, mais de seis vezes nessa divisão diante de R$ 1,1 bilhões da Série B. Os custos com salários foram metade das receitas: R$ 3,4 bilhões.

Investimentos em contratações de atletas na Série A, em 2022, foram de R$ 1,3 bilhões. A dívida de seus clubes ampliou-se e atingiu R$ 10 bilhões.

Os investimentos visam explorar o mercado propiciado pelo elevado percentual (82%) de brasileiros apreciadores do futebol como um dos esportes favoritos, entre eles, 89% torcem para algum time de futebol no Brasil. Mais de um quarto (26%) já comprou algum ativo digital, ligado ou não a clubes. Surpreende a informação a respeito do consumo declarado de apostas no país com valor bem acima dos demais: R$ 31 bilhões!

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Análise dos dados financeiros de 30 clubes brasileiros de futebol das séries A e B

Os principais clubes brasileiros de futebol viram suas receitas subirem de forma praticamente constante nos últimos 10 anos, acompanhadas de um endividamento também crescente. A boa notícia é que a análise dos dados financeiros de 30 agremiações nacionais das séries A e B aponta que o futebol nacional passa por um momento de transformação em direção a uma maior governança e disciplina financeira.

É o que mostra estudo da EY obtido com exclusividade pelo Valor, que aponta ainda que a receita nominal dos 30 clubes estudados subiu 156% entre 2013 e 2022, passando de R$ 3,17 bilhões para R$ 8,13 bilhões no período. Em termos reais, com o desconto da inflação, o avanço foi menor, de 50%.

No mesmo período, o endividamento líquido teve um salto de 94,6%, pulando de R$ 5,830 bilhões, em 2013, para R$ 11,347 bilhões, no ano passado. O estudo considera 19 clubes que disputaram a Série A no ano passado e 11 que jogaram a Série B.

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Comportamento: 64% da Gen-Z quer futebol ligado às questões sociais

SBF_pesquisa

Pesquisa do Grupo SBF, realizada pelo Grupo Consumoteca, investiga hábitos e perspectivas dessa geração que tornam conexão com a modalidade menos passional, contudo mais interativa e com busca por novas experiências

A Gen-Z tem um novo jeito de gritar gol no futebol. É o que revela pesquisa encomendada pelo Grupo SBF, realizada pelo Grupo Consumoteca. O estudo Futebol e Geração Z: qual o match? investiga hábitos e a forma desses jovens se relacionarem com a modalidade, sobretudo comparado às gerações anteriores.

Nascidos entre 1995 e 2010, 76% dos ‘Zs’ ouvidos pela pesquisa torcem para um time e 42% acreditam que o sucesso da seleção brasileira na Copa do Mundo é o motivo do Brasil ser considerado o país do futebol. Contudo, esses jovens pouco vivenciaram a fase mais célebre da Seleção Brasileira e, assim, construíram sua própria forma de expressão e conexão com o futebol, por meio de novas lentes.

Entre os apontamentos, a pesquisa mostra que esses jovens têm mais interesse pelo futebol quando a modalidade endereça questões da sociedade contemporânea, deixando claro que para eles o futebol deve ser para todos. Nesse mesmo sentido, outra informação que chama a atenção é de que a geração Z busca meios para assistir as partidas de forma gratuita, demonstrando que o futebol não é uma necessidade, mas sim uma escolha e, por isso, precisa ser acessível. Dados como esses revelam uma geração menos passional (definitiva) e mais pragmática (contextual) em relação ao futebol.

Ao mesmo tempo, o estudo deixa claro que a modalidade ganhou mais espaço na vida desses jovens: 56% da geração Z acredita que uma partida de futebol vai além de ser “apenas um jogo”. O futebol é visto e consumido como conteúdo e entretenimento, muito além do esporte em si, o que amplifica as possibilidades de interação nos diversos pontos de contato do mundo digital. Isso se traduz na seguinte conclusão: os Gen-Z estão em busca de uma nova jornada de experiência com o futebol.

Confira abaixo os principais resultados da pesquisa Futebol e Geração Z: qual o match? 

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SAF – Sociedade Anônima de Futebol e seus Donos / Mecenas

Mônica Scaramuzzo e Patrick Cruz (Valor, 01/04/22) fizeram reportagem sobre a “privatização da gestão do futebol”.

Foi um duro revés na adolescência que tirou Octávio de Lazari Jr. dos gramados. Palmeirense, o presidente do Bradesco atuava como centroavante no time dente de leite do clube do Estádio Palestra Itália (hoje Allianz Parque) quando seu pai ficou doente e ele teve de deixar de lado o sonho de ser jogador profissional para ajudar a família.

Talento não faltava a Lazari, que começou a jogar bola no Serva, uma equipe amadora da Vila Anastácio, na zona oeste de São Paulo. Quando tinha entre 11 e 12 anos, ele foi selecionado em uma peneira para jogar no Palmeiras, a paixão futebolística que herdara de seu pai e alguns tios. “Eu tinha convicção de que iria ser jogador de futebol. Coisas da vida”, relembra ele.

Lazari pai conhecia um subgerente do banco na Lapa, na zona oeste de São Paulo, e conseguiu que seu filho fizesse um teste para uma vaga de contínuo na agência. “Na mesma semana da entrevista me chamaram para jogar bola no time da agência. Não sei se fui contratado porque passei no teste ou se foi porque joguei bem”, brinca. O Palmeiras, que vivia então os primeiros anos de um jejum de títulos que se estenderia por quase duas décadas, perdeu um centroavante. Mas o infortúnio deu ao Bradesco um CEO.

O sonho de ser jogador de futebol é a história de milhões de brasileiros. Lazari é dos raríssimos casos de jovens que conseguem, depois que a realidade se impõe, construir uma carreira de sucesso no universo corporativo. Ser gestor de um dos maiores bancos do país permite a executivos como ele entender as nuances de indústrias diversas, futebol entre elas. Mas, no momento, Lazari ainda não tem opinião formada sobre o interesse crescente de investidores estrangeiros pelo controle de clubes brasileiros, um movimento que ganhou corpo após a criação de um novo instrumento legal, a Sociedade Anônima de Futebol (SAF).

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De Futebol Clube à Sociedade Anônima do Futebol: Capitalização do Amadorismo

Capitalismo no amadorismo? Uma das minhas paixões — o amor infantil pelo Cruzeiro — foi roubada. Junto com a corrupção privada de um dos clubes de futebol com maior torcida e número de campeonatos importantes no Brasil, levaram um dos meus lazeres. Não era criativo, pois ficava passivo em frente a TV, mas a emoção dos jogos ajudava como passatempo…

Fábio Murakawa (Valor, 10/08/21) anuncia a esperança de a capitalização dos clubes por sócios-torcedores levar à redenção das finanças destruídas. Hoje, no Cruzeiro, graças ao dono de uma rede de super-mercados se consegue pagar salários para jogadores da série B. Antes, mais de ½ dúzia de jogadores recebiam salários mensais acima de R$ 800 mil. Com isso a diretoria corrupta se pagava mais de R$ 100 mil / mês!

Em 9 de agosto de 2021 foi sancionada a lei com regras para times de futebol se transformem em empresas. A nova lei, aprovada em junho pelo Senado e em julho pela Câmara, cria a figura da Sociedade Anônima de Futebol (SAF).

O texto foi sancionado em um momento delicado para as finanças do futebol brasileiro. Especialistas avaliam o endividamento total dos 15 principais clubes do país em cerca de R$ 10 bilhões, mais do que o dobro de suas receitas.

A nova lei prevê estímulos para os clubes deixarem de ser entidades sem fins lucrativos e adotem o novo modelo previsto para as SAF. Não há, porém, obrigatoriedade para que haja essa conversão.

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“Cruzeirar”: Vasco e Botafogo, entre os dez clubes de futebol com maior endividamento líquido, também disputarão a Série B em 2021

André Rocha é mestre em economia pela FGV/EPGE, advogado pela Gama Filho e analista certicado pela Apimec. Escreveu artigo (Valor, 18/03/21) intitulado “É injusto comparar o Flamengo aos demais clubes“.

Reportagens creditam o sucesso esportivo recente de Flamengo e Palmeiras à boa gestão dos dois clubes. Contudo, não mencionam os recursos extras obtidos apenas por essas duas agremiações (a outra é o Corinthians com direitos de TV) no início de suas reestruturações. Sem esse aporte financeiro, provavelmente, os dois clubes teriam dificuldades de honrar suas dívidas e concomitantemente investir em elencos vitoriosos tal como acontece com os demais clubes grandes.

Não é novidade: a maior parte dos clubes de maior torcida do futebol brasileiro possui elevado endividamento. Isto vem comprometendo a capacidade de serem competitivos esportivamente.

Os clubes são associações civis. Esse tipo societário impede que sejam adotadas medidas ao alcance das sociedades anônimas para redução do alto grau de alavancagem. Por exemplo, companhias podem emitir novas ações (oferta primária), vendê-las ao público e, com os recursos arrecadados, pagar seus credores. Outra alternativa é a recuperação judicial, cujo vencimento das dívidas é suspenso e o montante devido, renegociado com os credores com a obtenção de substanciais descontos.

Sem esses mecanismos, o serviço da dívida, bem como o pagamento do principal, vem corroendo a capacidade operacional dos clubes. Mesmo reduzindo suas despesas, o total da dívida teima em crescer. Entra-se em uma espiral descendente, pois times modestos não conseguem engajar sua torcida, o que compromete receitas derivadas de premiações, venda de camisas, bilheteria e patrocínios.

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Desalavancagem Financeira dos Clubes de Futebol Endividados

Bruno Villas Bôas (Valor, 29/07/2020) informa: o futebol brasileiro passará a ser dividido por dois blocos: o dos clubes com gestão eficiente e desempenho esportivo; e o dos que repetem velhas práticas mal sucedidas, avalia Cesar Grafietti, consultor de finanças e gestão do esporte do Itaú BBA, em relatório divulgado nesta terça-feira sobre o balanço dos clubes.

O documento mostra: 2019 marcou essa divisão com as conquistas esportivas do Flamengo. Ele venceu o campeonato brasileiro e a Copa Libertadores após um ciclo de reestruturação iniciado em 2013. Foi o último da trinca de clubes tradicionais que mirou o equilíbrio financeiro, ao lado do Grêmio e Palmeiras.

Outros clubes devem surgir como força capazes de rivalizar com esses times que foram vencedores no passado. Um deles é o Athletico-PR, campeão da Copa do Brasil de 2019. Outros são Bahia, Fortaleza, Ceará e Goiás, com “possibilidades reais de tornarem a série A seu habitat natural”.

Um dos fatores que esses clubes têm em comum é a relação entre a dívida bruta de curto prazo e as receitas totais em nível inferior a 45%. Para ele, esse indicador de alavancagem é o que melhor sintetiza o fôlego financeiro de um time de futebol. É assim no Flamengo (27%) e Grêmio (25%), por exemplo. Palmeiras está com 46%.

O grupo das “velhas práticas mal sucedidas” inclui Vasco, Botafogo, Fluminense e Cruzeiro entre os clubes que “já não suportam o peso dos erros do passado”. E também clubes com “má gestão do presente”, incluindo gigantes do futebol nacional como Corinthians, São Paulo, Internacional, Atlético Mineiro e Santos. Continuar a ler

Modelo de Gestão do Futebol Brasileiro: da Comunidade para a Autorregulação do Mercado e/ou a Fiscalização Governamental

Graziella Valenti e Luiz Henrique Mendes (Valor, 27/11/2019) avaliam: os títulos conquistados pelo Flamengo, campeão brasileiro e da Libertadores, consagra o entendimento de a força e a capacidade financeira, com boa gestão, alteram o placar. Não garantem título, mas aumentam a chance. Contudo, com raríssimas exceções, o Brasil está para lá de atrasado no debate sobre profissionalização e organização das finanças no futebol. Há assuntos financeiros até proibidos de se discutir em clubes de futebol, como se a razão não pudesse conviver com a paixão quando o tema é a camisa.

Mas, queiram os apaixonados ou não, as finanças dos clubes entrarão de forma definitiva no roteiro esportivo em 2020. Junto com o equilíbrio das contas, o debate sobre clubes se transformarem em empresas ou criarem companhias exclusivas para o futebol, atraindo investidores, está na ordem do dia.

O vitorioso clube da Gávea passou por uma troca importante de gestão há seis anos e reduziu a dívida de R$ 750 milhões a R$ 460 milhões. Dessa forma, conseguiu investir R$ 190 milhões no ano passado, vindo de um piso de R$ 22 milhões em 2014, quando a nova administração fez secar a torneira para dar conta dos compromissos. Dos números, ninguém foge. Continuar a ler

Marcas de Clubes de Futebol: Patrocínios ou Mecenatos

O Flamengo é a marca mais valiosa do futebol brasileiro pelo quarto ano consecutivo. O controle de mercado pelo clube rubro-negro pode ser ameaçado nos próximos anos, porém, pela ascensão do Palmeiras, hoje terceiro no ranking de valor de marcas dos clubes. Esta, se mantida a atual tendência de crescimento, pode superar o Corinthians (segundo mais valioso do país) no curto prazo. Quem diria, os “Palestras Itálias”, em SP e MG, superam os “times-do-povo”! Fenômeno social: o proletariado é superado pelo operariado ascendente para a classe média!

Conforme o levantamento realizado pela empresa de consultoria e auditoria BDO, a marca rubro-negra passou a valer R$ 1,95 bilhão em 2018, 15% a mais em relação ao ano passado. Esse valor de marca praticamente dobrou em um período de cinco anos – era de R$ 1 bilhão em 2014. Efeito casta dos sábios-tecnocratas? Um ex-benedense (ex-BNDES) assumiu a gestão das finanças do Flamengo e “virou o jogo”? Isto para o bem. E para o mal? Está envolvido com quem?

Para chegar aos valores e criar o ranking, a consultoria considera 40 indicadores em três pilares:

  1. torcida (gama de consumidores),
  2. mercado (onde o clube está inserido, o que já coloca os times de Minas Gerais e Rio Grande do Sul em desigualdade de competição), e
  3. receita (patrocínio, bilheteria etc).

Os patrimônios dos clubes não são considerados nos cálculos, assim como a receita de vendas de jogadores. Mas, atualmente, muitos clubes (brasileiros e latino-americanos em geral) vivem disso: mecenato e venda de talentos precoces para o exterior! Continuar a ler