Iluminismo Britânico versus Iluminismo Francês

David Brooks, em seu livro “O Animal Social: A História De Como O Sucesso Acontece” (Rio de Janeiro: Objetiva, 2014), resume um debate filosófico interessante para todos os leitores em busca de cultura intelectual. Ele explicou a diferença entre o Iluminismo francês e o britânico.

O Iluminismo britânico contempla o grupo composto por David Hume, Adam Smith, Edmund Burke e alguns dos pensadores, políticos, economistas e debatedores públicos capazes de demarcarem o pensamento britânico do século XVIII.

O Iluminismo francês foi liderado por pensadores como Descartes, Rousseau e Voltaire. Esses filósofos confrontaram um mundo de superstição e vassalagem – e procuraram expô-lo à luz clarificadora da razão.

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Individualismo versus Holismo Metodológico

David Brooks, em seu livro “O Animal Social: A História De Como O Sucesso Acontece” de autoria de (Rio de Janeiro: Objetiva, 2014), afirma: o cientificismo se expressou de maneira mais poderosa nos últimos cinquenta anos no campo da Economia.

A Economia Política não começou como um empreendimento puramente racionalista. Adam Smith acreditava os seres humanos são motivados por sentimentos morais e por seu desejo de buscar e merecer a admiração dos outros. Muitos outros se expressaram por meio de palavras – e não por fórmulas matemáticas.

A atividade econômica seria conduzida diante de uma incerteza quanto ao futuro. Ele será sempre resultante de uma pluralidade de decisões descentralizadas, descoordenadas e desinformadas umas das outras, inclusive porque nem todas as decisões cruciais, capazes de mudar o contexto de maneira irreversível, ainda não teriam sido tomadas…

As ações humanas, no entanto, seriam guiadas pela imaginação bem como pela razão. As pessoas poderiam passar por mudanças disruptivas de paradigma e ver, de repente, a mesma situação de maneiras radicalmente diferentes.

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Ciência sem Inconsciência

David Brooks, em seu livro “O Animal Social: A História de Como o Sucesso Acontece (Rio de Janeiro: Objetiva, 2014), informa: depois de milênios de dominação masculina, os homens são grandes amplificadores de status. Uma pesquisa global descobriu os homens em todo o mundo superestimarem sua própria inteligência.

Outro estudo revelou: 95% dos homens norte-americanos acreditam estarem nos primeiros 50% em relação a habilidades sociais. As mulheres são mais propensas a ser minimizadoras de status. Elas subestimam suas pontuações de QI em uma média de cinco pontos.

A mente humana é uma máquina de fabricar excesso de confiança. O nível consciente atribui crédito a si mesmo por coisas não feitas, na verdade, e confabula narrativas para criar a ilusão de controlar coisas sem ter poder de as determinar.

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Arquitetura das Escolhas

David Brooks, em seu livro “O Animal Social: A História De Como O Sucesso Acontece” de autoria de (Rio de Janeiro: Objetiva, 2014), tem um capítulo sobre a chamada Arquitetura das Escolhas. Este é um tópico da Economia Comportamental, cujos autores de destaque são os pioneiros psicólogos, Daniel Kahneman (Nobel de Economia em 2002) e Amos Tversky (falecido antes). Depois, suas percepções foram ampliadas por economistas, entre os quais, Richard Thaler (Nobel de Economia em 2017), Robert Shiller (Nobel de Economia em 2013), George Akerlof, Colin Camerer e Dan Ariely.

Esses economistas, embora sejam comportamentais, ainda continuam sendo economistas. Porém, reconhecem os erros dos economistas neoclássicos com sua figura idealizada de Homo economicus, distante de gente real, diante das complexidades.

Mas ainda argumentam os erros humanos serem previsíveis, sistêmicos e alguns chegam a afirmar até mesmo serem representáveis por meio de fórmulas matemáticas. Para a sobrevivência, eles se adequam às circunstâncias profissionais.

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Inteligência do Animal Social

Há dois livros com o título “O Animal Social”. Um do psicólogo americano Elliot Aronson, sucesso editorial de meio século, foi relançado no Brasil (trad. Marcello Borges, ed. Aleph, selo Goya, 504 págs., R$ 99,90). Outro é “O Animal Social: A História De Como O Sucesso Acontece” de autoria de David Brooks (Rio de Janeiro: Objetiva, 2014). Ambos se utilizam o mesmo estilo coloquial de contar estórias, este último todas embasadas em descobertas da Ciência da Mente. Vou aqui resumir algumas delas.

Herdamos uma imagem de nós mesmos como Homo sapiens, como indivíduos pensantes separados dos outros animais devido ao poder superior da razão. Esse é o ser humano tal qual o pensador de Rodin — queixo no punho, refletindo sozinho e de maneira profunda.

Na verdade, somos diferenciados dos outros animais porque temos habilidades sociais incríveis. Elas nos possibilitam ensinar, aprender, simpatizar, dramatizar e construir culturas, instituições e os complexos andaimes mentais de civilizações.

Quem somos nós? Somos como estações centrais espirituais. Somos junções nas quais milhares de sensações, emoções e sinais se interpenetram a cada segundo.

Somos centros de comunicação e, por meio de algum processo do qual não estamos nem perto de compreender, temos a habilidade de governar parcialmente esse “trânsito”. Só nos tornamos completamente nós por meio das interações alimentadoras de nossas redes de relações. Procuramos, sobretudo, estabelecer ligações mais profundas.

Os gregos antigos diziam “o caminho para a sabedoria é de sofrimento”. A essência dessa sabedoria é, abaixo da nossa consciência, haver pontos de vista e emoções capazes de nos guiar conforme divagamos pelas nossas vidas.

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Animal Social entre Prazer ou Dor

O livro “O Animal Social”, do psicólogo americano Elliot Aronson, sucesso editorial de meio século, foi relançado no Brasil (trad. Marcello Borges, ed. Aleph, selo Goya, 504 págs., R$ 99,90). Aos 91 anos, Elliot Aronson assina a nova edição com o filho Joshua (cuja entrevista concedida ao Valor em 26/01/24 resumo abaixo), como ele, um nome de destaque no campo da Psicologia Social. Juntos, revisaram a obra muito influente entre os universitários americanos da Geração 68 nos movimentos de contestação.

Apesar do aparato técnico-científico disponível, os animais humanos ainda são descendentes dos caçadores-coletores. Por isso, preservamos características básicas, como a vontade natural de nos conectar.

O Animal Social” ajudou a estabelecer um campo de estudo. Usou a abordagem de contar histórias para ilustrar seu trabalho. A escrita utilizada no livro era coloquial, espirituosa, com um otimismo sobre a condição humana.

Foi aceito como verdadeiro entre os leitores. Ainda hoje tem interesse porque continua a tratar do assunto favorito das pessoas: as próprias pessoas! Viva o egocentrismo!

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Lançamento no Brasil do livro “O Grande Experimento” de autoria de Yascha Mounk

Retrato de Yascha Mounk, um homem branco com cabelos castanhos e curtos; ele veste blazer azul-escuro e camisa azul-clara, e está sentado enquanto discursa
O escritor Yascha Mounk fala durante o fórum de democracia da Fundação Obama na cidade de Nova York – Brendan McDermid – 17.nov.2022/Reuters

Yascha Mounk é um otimista. Ao contrário de tantos de seus pares e a despeito do avanço da ultradireita etnonacionalista em muitos países, o autor de “O Povo contra a Democracia” defende que as democracias diversificadas —em termos de cultura, religião, etnia, sexualidade e gênero— vêm prosperando ao redor do mundo.

Esse é o argumento que guia o seu livro mais recente, “O Grande Experimento“, que a Companhia das Letras lança no início de fevereiro. Nele, o cientista político e professor associado da Universidade Johns Hopkins apresenta os fatores que, na sua visão, levaram ao fracasso de sociedades diversificadas no passado.

E lista os elementos que supostamente permitem a elas crescer, uma equação que para ele implica a existência de um sistema democrático liberal, baseado nos valores da liberdade individual e da autodeterminação coletiva.

Um dos momentos da obra que deve gerar mais debate é quando Mounk afirma que parte da esquerda, ao defender a ideia de que a raça sempre foi e sempre será o atributo mais importante de cada ser humano, acaba por adotar a mesma concepção “essencialista” de identidade presente na ultradireita racista e xenofóbica.

É nesse sentido que, ao ser questionado pela Folha sobre como vê a situação da diversidade no Brasil, ele diz lamentar que o país esteja se aproximando da concepção de identidade que vigora nos Estados Unidos, onde há “quatro ou cinco grupos distintos que se definem primariamente por suas raças”.

“O Brasil se enxergou por muito tempo como uma espécie de ‘democracia racial’, em que as pessoas não são definidas por sua cor de pele”, diz ele, referindo-se à teoria de que a miscigenação entre brancos, negros e índios ocorrida durante a colonização teria diluído antagonismos raciais —uma concepção que para muitos ativistas ofuscou por um longo período a realidade de discriminação contra negros no país.

“É claro que isso obscureceu algumas das injustiças da história brasileira, e como elas continuam a moldar o país hoje”, diz Mounk. “Mas acho que seria um grande erro desistir completamente desse ideal.”

Leia abaixo os principais pontos da entrevista.

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Ignorância: Um História Global

Por Luiz Marques, na Terapia Política

Ignorance: A Global History, de Peter Burke, saiu do forno recentemente (em 2022, pela Yale University Press; em 2023, pela Editora Vestígio, com tradução de Rodrigo Seabra). Para o The New York Times Book Review, a obra “explora os modos como obstáculos, esquecimento, sigilo, negação, incerteza, preconceito, mal-entendidos e credulidade têm impactado o curso da história, desde o redesenho das fronteiras até a negação da mudança climática e muito mais”. O ensaio é dedicado “Aos professores deste mundo, heróis e heroínas na tentativa diária de remediar a ignorância”. Nossa categoria tenta.

Renato Janine Ribeiro, na apresentação, elogia o oportuno esforço intelectual numa época que torna a ignorância “arrogante”. Para fascistas, a cultura é alvo do ódio e a incultura motivo de orgulho. A reflexão divide-se em duas partes alentadas.

Na primeira, “A ignorância na sociedade”, discorre especialmente sobre a área da religião, da ciência e da geografia. Na segunda, “Consequências da ignorância”, percorre a guerra, os negócios, a política, as catástrofes, os segredos, as dúvidas e o esquecimento do passado. A conclusão, “O novo conhecimento e a nova ignorância”, projeta a concepção cíclica (maquiaveliana) do ícone em História Cultural, da Universidade de Cambridge.

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Somos o Resultado de nosso Sono

Você fica louco por um cochilo durante …de nosso sono _ Eu & _ Valor Econômico (22/09/23)

O sono (ou a falta dele) tornou-se obsessão nos anos recentes. Quem não conhece fórmula infalível para dormir melhor, de contar carneirinhos a mandingas de família, medicação leve ou pesada? Ainda assim, um grande percentual da população mundial sofre de cansaço, falta de foco e tantos outros males que se descobrem causados por noites mal dormidas.

Mitos, meias verdades e mentiras permeiam este universo ainda pouco conhecido até mesmo entre especialistas. Foi isso o que atraiu o professor Russell Foster, diretor do Instituto do Sono e da Neurociência Circadiana (SCNi, a sigla em inglês) e chefe do Laboratório Nuffield do Departamento de Oftalmologia da Universidade de Oxford, a debruçar-se sobre o tema nas últimas décadas.

Autor do livro “O ciclo da vida”, que acaba de ser lançado no Brasil pela editora Companhia das Letras, o britânico diz que é preciso entender que o sono é como número de sapato: cada um tem o seu.

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Livro Impresso: Crônica da Morte Anunciada nas Próximas Gerações por Livro Digital Editado por IA

André Conti (19/07/23), editor e jornalista, informa a respeito do custo do livro impresso.

Difícil discordar que, num país pobre, o preço é um dos principais impeditivos para que mais pessoas possam comprar livros. Difícil concordar que somos gananciosos —pessoas gananciosas tendem a trabalhar em ramos mais lucrativos.

Dentro de uma editora, o preço é um assunto que paira em todas as conversas. Ao longo de quase 20 anos de carreira, participei de centenas de reuniões de preço, onde os departamentos comercial, de produção e editorial decidem quanto vai custar um livro para o leitor. Nunca testemunhei editores lutando por um preço mais caro. Você passa meses, às vezes anos, trabalhando em um livro, e dói ver que lá na ponta ele irá custar R$ 75.

Qual caminho esse livro fez desde sua chegada na editora?

Vamos pensar em um romance estrangeiro recebido um ano antes do lançamento. O editor leu, gostou e decidiu publicá-lo. O livro tem 300 páginas e foi escrito em inglês. O primeiro passo é oferecer um adiantamento, um valor que será recebido pelo autor, mas depois descontado das vendas futuras.

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Revisitando a Economia Comportamental

Revisitando a revolução comportamental _ Opinião _ Valor Econômico (06/06/23)

Antara Haldar é professora associada de estudos legais empíricos na Universidade de Cambridge, é membro visitante do corpo docente da Universidade de Harvard e pesquisadora principal de uma bolsa do European Research Council sobre direito e cognição.

Acho eu ter ido mais longe no meu questionamento da possibilidade de uma Macroeconomia Comportamental a partir de microfundamentos em vieses heurísticos heterogêneos dos agentes econômicos “quase-racionais”. Jamais poderá chegar a um equilíbrio fundamentado em análise empresarial, setorial e macroeconômica!

Confira seu artigo compartilhado abaixo.

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Gaslighting: Angústia Generalizada

Palavras definidoras de 2022 _ Empresas _ Valor Econômico (27/12/22)

Você já foi vítima de “gaslighting”? Entrou em “modo duende”? Sabe como sair da “permacrise”? As palavras mais representativas de 2022, escolhidas pelos principais dicionários da língua inglesa, têm significados diferentes entre si, mas revelam um traço comum: o mal-estar generalizado em meio a uma pandemia prolongada, conflitos armados e dificuldades econômicas, entre outros problemas.

“O mundo está mudando muito mais depressa que a capacidade do indivíduo de criar uma rede simbólica para interpretar o que está acontecendo e se situar em meio às mudanças”, afirma o psiquiatra e psicanalista Mario Eduardo Costa Pereira, professor de psicopatologia clínica da Universidade Aix-Marseille, na França, e professor livre-docente em psicopatologia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

As escolhas dos dicionários mostram tentativas de se conferir alguma “ancoragem” para lidar com a situação, com implicações individuais e coletivas.

Gasligthing”, a escolha do dicionário americano Merriam-Webster, é definida como “ato ou prática de grosseiramente enganar alguém, especialmente para tirar vantagem própria”.

As buscas pelo termo aumentaram 1.740% neste ano. Sua origem remete a uma peça de 1938, que ficou em cartaz na Broadway, e a dois filmes que se seguiram com a mesmo argumento. “À Meia-Luz” (1944), o mais famoso, rendeu o Oscar de melhor atriz a Ingrid Bergman. Na trama, um homem faz a mulher acreditar que está enlouquecendo para ficar com sua fortuna.

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