Debate sobre o Retrocesso da Indústria Brasileira

Pedro Cafardo (Valor, 24/04/24) publicou em sua coluna um debate público relevante sobre a razão de a indústria brasileira ter perdida sua extraordinária pujança do período 1930 a 1980. Essa questão continua provocando divergências e inspirando trabalhos acadêmicos.

Em 26 de março, destacou um “paper” dos professores Antonio Marquetti (PUC- RS) e Pedro Cezar Dutra Fonseca (UFRGS). Analisa o processo histórico e sugere estratégias para a reindustrialização.

Volta ao tema para registrar algumas contestações ao trabalho e réplicas. Em resumo, Marquetti e Fonseca citam vários fatores determinantes da desindustrialização:

1. abandono do projeto nacional e desestruturação do Estado;

2. fortalecimento do poder econômico-político da burguesia financeira, fomentado pela elevação dos juros reais e dos lucros financeiros, enquanto a burguesia industrial perdia espaço;

3. reformas com liberalização do comércio;

4. privatizações de estatais, inclusive de bancos estaduais que financiavam a indústria;

5. aumento da dívida interna por causa dos juros elevados;

6. taxa de câmbio valorizada, com efeito negativo na competitividade da indústria.

Paulo Areas, administrador pela California C. University e empresário, em respeitosa discordância, enumerou seis fatores determinantes para a perda de pujança da indústria:

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Desigualdade é Insuperável, Pobreza não é…

O ano de 2023 foi marcado por altas de dois dígitos no rendimento médio per capita e na massa de rendimentos no país, para níveis recordes, e com ritmo mais intenso entre os mais pobres, mas ainda assim as marcas de desigualdade de renda no país permanecem expressivas, mostram novos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O rendimento médio mensal real domiciliar per capita avançou 11,5%, para R$ 1.848, – o maior ritmo pelo menos desde 2012, enquanto a massa de rendimentos cresceu 12,2%, para quase R$ 400 bilhões (R$ 398,3 bilhões).

No grupo dos 5% mais pobres, o aumento do rendimento foi de quase 40%, beneficiado pelo Bolsa Família, com valor maior e uma parcela maior da população atendida no ano passado. Mesmo com a alta, a renda média per capita desse grupo era de R$ 126 por mês.

Pelo segundo ano seguido o rendimento ligado a programas sociais cresceu no país e atingiu novo recorde em 2023. E a fatia dos domicílios do país em que alguém recebe o Bolsa Família subiu para 19%, o maior nível da série da pesquisa, ante 16,9% em 2022.

Foi o Bolsa Família, inclusive, que permitiu a desigualdade de renda se mantivesse estável no menor patamar da série histórica. Isso porque o mercado de trabalho ficou mais desigual, já que o crescimento da renda foi mais intenso entre os trabalhadores com maiores rendimentos que entre aqueles no piso do mercado.

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Despesas Financeiras acima dos Investimentos: Expectativa de Inversão

As companhias brasileiras gastaram mais com despesas financeiras, compostas principalmente pelo pagamento de juros, em vez de ser com as suas atividades de investimento em 2023, mostra levantamento realizado a pedido do Valor (22/04/24) com todas as empresas de capital aberto do país.

Nas despesas estão juros, impostos e gastos na contratação de linhas. Os investimentos incluem pagamento de aquisições, aplicações financeiras, recursos de venda de negócios, entre outros.

Foram R$ 306,8 bilhões com essas despesas financeiras, no ano passado, alta de 8,2% frente a 2022, e ao mesmo tempo, o caixa das atividades de investimento alcançou R$ 298,7 bilhões, praticamente estável no mesmo intervalo analisado.

Apesar da piora do ambiente econômico e da escalada da taxa básica de juros (Selic) após 2021, não se viu esse mesmo cenário em 2022. Naquele ano, os investimentos somaram R$ 299,2 bilhões, valor acima dos gastos com juros e encargos, em R$ 283,6 bilhões.

Os dados de balanços de 386 empresas abertas não financeiras foram coletados pelo professor e consultor André Freitas de Moura, da FGV/EAESP, com PhD em contabilidade e finanças na Universidade de Birmingham, na Inglaterra.

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Desindustrialização do Emprego

Dani Rodrik, professor de Economia Política Internacional na Escola de Governo John F. Kennedy da Universidade de Harvard, é presidente da AssociaçãoEconômica Internacional e autor de “Straight Talk on Trade: Ideas for a Sane World Economy”. Compartilho abaixo seu artigo (Valor, 19/04/24).

Os Estados Unidos estão numa onda de produção de semicondutores. No início de abril, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) anunciou planos para estabelecer uma terceira unidade no Arizona para fabricar os chips mais avançados do mundo, aumentando seu investimento no Estado para US$ 65 bilhões. O investimento da TSMC é fortemente subsidiado pelo governo dos EUA pelo CHIPS and Science Act. A empresa receberá US $ 6,6 bilhões em subsídios e está elegível para US$ 5 bilhões em empréstimos. Também pode reivindicar crédito fiscal de investimento de até 25% de suas despesas de capital.

Esta notícia segue o recente anúncio da Intel de que receberá uma doação ainda maior de US$ 8,5 bilhões do governo dos EUA (juntamente com US$ 11 bilhões em empréstimos em “generosas condições”). A Lei CHIPS destinou US $39 bilhões para essas subvenções e acordos adicionais estão em preparação. De acordo com a Casa Branca, apenas nos últimos dois anos, quase US$ 300 bilhões em investimentos industriais foram comprometidos nos EUA.

O presidente Joe Biden vê esses acordos como prova de um renascimento da indústria nos EUA. “Onde é que está escrito que não seremos a capital industrial do mundo novamente?”, pergunta ele. Seu governo pode não ter muito em comum com a anterior Casa Branca de Trump, mas certamente partilha uma preocupação com a revitalização da indústria.

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Queda de ‘spreads’ de Crédito Privado: Bancos lançadores com “Garantia Firme” encarteiram as Debêntures

Depois da forte redução no prêmio pago pelos emissores de debêntures aos investidores em fevereiro, o movimento começou a perder fôlego em março e abril, segundo gestores de recursos. O prêmio, ou “spread”, é a diferença entre as taxas pagas pelos papéis corporativos e os rendimentos equivalentes das NTN-Bs ou do CDI. Os gestores afirmam que há uma espécie de “queda de braço” com os bancos coordenadores das operações para não referendar as captações que saem com custo equivalente ao da NTN-B.

“Esse posicionamento é importante e aponta para um mercado mais maduro e que indica preservar, no momento atual, uma relação equilibrada de risco e retorno”.

“Não estamos vendo demanda dos fundos para novas emissões que não estão pagando prêmio acima da NTN-B.” O estoque estava em 40 pontos-base acima da NTN-B e agora a asset vem comprando a algo em torno de 30 pontos.

O movimento evita um problema oposto ao do ano passado, quando, no pós-Americanas e Light, os fundos tiveram cota negativa na marcação a mercado, levando a uma onda de saques. Os resgates obrigaram os gestores a se desfazerem dos papéis que tinham em carteira a qualquer preço, derrubando ainda mais os valores de compra e venda, e elevando os spreads, num círculo vicioso.

Sem essa demanda, os bancos coordenadores têm assimilado uma parcela maior das operações. Em janeiro e fevereiro, por exemplo, 65% e 74% dos papéis foram distribuídos a mercado, respectivamente, enquanto em março a fatia caiu a 57%, segundo relatório da área de pesquisa do banco ABC Brasil. No mês, as emissões atingiram R$ 60,5 bilhões, segunda melhor marca da série histórica da instituição. Em abril, as previsões são de que essa fatia continue encolhendo.

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IBGE-PNADC 2023 – Rendimentos

  • Destaques:
  • Em 2023, a massa de rendimento mensal domiciliar per capita atingiu o maior valor da série histórica do módulo Rendimento de todas as fontes, da PNAD Contínua, iniciada em 2012: R$ 398,3 bilhões. O aumento foi de 12,2% ante 2022. Em relação a 2019, a expansão foi de 9,1%.
  • O rendimento médio mensal real domiciliar per capita também chegou ao maior valor da série histórica da pesquisa: R$ 1.848, com alta de 11,5% ante 2022. Em relação a 2019 (R$ 1.744), ano que anteriormente havia registrado o valor máximo da série histórica, a elevação foi de 6,0%.
  • O rendimento de todas as fontes, considerando a população residente com rendimento, aumentou 7,5% em relação a 2022, atingindo R$ 2.846 e, com isso, se aproximando do valor máximo da série histórica (R$ 2.850), registrado em 2014. Já o rendimento médio de outras fontes, diferentes do trabalho, cresceu 6,1%, chegando a R$1.837, um recorde da série histórica.
  • Outro recorde da série foi a proporção da população com rendimento habitualmente recebido do trabalho, que passou de 44,5% (ou 95,2 milhões de pessoas) em 2022 para 46,0% (ou 99,2 milhões) em 2023. O percentual mais baixo desse indicador ocorreu em 2020 (40,1% ou 84,7 milhões), ainda sob influência da pandemia.
  • A proporção de domicílios do país com algum beneficiário do programa Bolsa-Família saltou de 16,9% em 2022 para 19,0% em 2023, ao passo que em 2019 eram 14,3%. Entre 2019 e 2023, enquanto o rendimento per capita do grupo de domicílios que recebiam o Bolsa Família cresceu 42,4% (de R$ 446 para R$ 635), entre aqueles que não recebiam o benefício a variação foi de 8,6% (de R$ 2.051 para R$ 2.227).
  • O 1% da população do país com maior rendimento domiciliar tinha um rendimento médio equivalente a 39,2 vezes o rendimento dos 40% da população de menor renda. Em 2023, apesar do aumento do rendimento médio domiciliar per capita em todos os estratos, a desigualdade permaneceu acentuada no país.
  • O índice de Gini do rendimento mensal real domiciliar per capita manteve-se em 0,518, o menor da série histórica e o mesmo valor de 2022. O Gini mais alto da série (0,545) ocorreu em 2018. Esse indicador mede a concentração de renda e varia de 0 (máxima igualdade) a 1 (máxima desigualdade).
Expansão de programas sociais e aumento da população ocupada influenciaram recordes do rendimento – Fonte: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

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X X Starlink: Execráveis como Musk!

A Starlink, rede de internet via satélite de Elon Musk, ainda não tem uma operação lucrativa, ao contrário do dito pelo empresário.

Isto foi publicado pela Bloomberg, citando pessoas que estão familiarizadas com os dados financeiros da SpaceX. A startup mais valiosa do mundo, avaliada em US$ 180 bilhões (R$ 913 bilhões), usa seus satélites para fornecer o serviço de internet.

Entenda: a Starlink é considerada como o braço da SpaceX que tornará possível os outros projetos da empresa – entre eles, o de missões espaciais e o de colonizar Marte.

Muito do seu sucesso está ligado à oferta de internet de alta velocidade em regiões remotas, que têm pouco acesso a fibra óptica ou cabo. No Brasil, a empresa quase triplicou em um ano e meio.

  • O serviço é abastecido por uma rede de mais de 5 mil satélites que formam uma espécie de constelação a uma altitude de 500 a 1.500 km da Terra.

↳ O problema, segundo a Bloomberg, é que a Starlink muitas vezes exclui o alto custo de enviar seus satélites ao espaço para tornar seus números, que não são públicos, mais atraentes para os investidores.

Um dos obstáculos para a geração de lucro está no tipo de cliente.

  • A Starlink tentou expandir sua atuação no mercado corporativo a partir das companhias aéreas, que hoje são clientes da Viasat.
  • Mas quando foi fazer um teste em um voo da Delta Airlines, o serviço não funcionou enquanto o avião estava a mais de 30.000 pés sobre Chicago, segundo a Bloomberg.
  • A SpaceX até chegou a desligar a internet para alguns clientes pagantes na cidade e fez a internet chegar à cabine do avião, mas isso não foi suficiente para conseguir um contrato com a Delta.

Em números:

  • 2,6 milhões de clientes a Starlink tem no mundo;
  • US$ 15 bilhões (R$ 76 bilhões) é a projeção de receita da SpaceX para este ano, mais que o triplo de 2023 (US$ 4,7 bilhões), segundo a Bloomberg.

Apenas uma das quatro ações dos grandes bancos brasileiros ganha do CDI em mais de cinco anos

Michael Viriato (FSP, 12/04/24) analisa sobre um tema a ser explorado na minha próxima aula: relação renda fixa / renda variável no Brasil.

Quando se fala em viver de renda com dividendos e em ações pagadoras de dividendos, logo vem a mente o nome dos grandes bancos brasileiros. Os quatro maiores bancos nacionais ganharam fama pela frequência e montante de dividendos pagos. Entretanto, nos últimos cinco anos, eles viveram só da fama, pois retorno que é bom, os acionistas não estão vendo.

Empresas pagadoras de dividendos são usualmente aquelas de setores maduros e sem grandes oportunidades de crescimento. A maturidade da empresa proporciona a geração de caixa. Já a ausência de oportunidades de investimentos permite que a destinação deste caixa seja direcionada aos acionistas ao invés de crescimento futuro. Logo, os dividendos destas empresas são maiores.

Setores que se enquadram nestas características são setores de concessões públicas, como energia elétrica, saneamento e rodovias, mas também o setor de bancos.

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Grandes Fundos de Investimento Internacionais: Alocação de Capital na Economia Global

Artigo de Marcos de Vasconcelos (FSP, 14/04/24) é útil para meu relatório de pesquisa sobre Alocação da Riqueza na Economia Global. Compartilho-o abaixo apesar de seu viés ideológico revelado de início, denominando de “governo petista” um governo de Frente Ampla.

“O governo petista acaba de ganhar mais munição para brigar por mudanças na direção da Vale. Dois gigantes internacionais decidiram, na última semana, rebaixar suas recomendações em relação às ações da empresa: Bank of America (BofA) e UBS.

Ambos os bancos recomendavam a compra dos papéis VALE3, mas, nos últimos dias, ajustaram os ponteiros para “neutro”, o que significa que não veem mais boas chances de crescimento.

Esses relatórios são o tipo de coisa que chega nas mãos de quem realmente muda o preço de ações de gigantes como a mineradora —e a pontuação do Ibovespa—: grandes fundos de investimento internacionais.

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O que é polywork: Fenômeno da Geração Z

O polywork é uma tendência em alta entre a geração z: trabalhar em dois empregos simultaneamente. De acordo com dados mais recentes da PNAD Contínua do terceiro trimestre de 2023, obtidos pelo Valor (12/04/24), 544.691 brasileiros de 14 a 29 anos declararam ter 2 empregos e 27.907 possuíam 3 ou mais ocupações. Os dados são relacionados a ocupações formais e informais.

Os motivos principais para que os jovens estejam aderindo ao fenômeno estão ligados à própria necessidade de obter mais renda. “O mercado de trabalho está mais limitado em questões salariais, principalmente, no início da carreira, que é a fase em que o polywork está mais tendencioso a acontecer. Por uma necessidade de melhorar salário e rendimentos para começar a vida profissional, eles [geração z] acabam aderindo a esse formato de trabalho”, explica Martins.

O conceito do polywork é aproveitar as habilidades que o profissional tem para poder desenvolver trabalhos múltiplos em projetos diferentes e em diferentes empresas.

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População nativa do Japão diminui a quase 100 pessoas por hora

FINANCIAL TIMES

A população nativa do Japão está diminuindo a uma taxa de quase 100 pessoas por hora, apesar dos esforços intensificados pelo governo para aumentar a baixa taxa de fecundidade do país.

De acordo com dados oficiais, o número de japoneses diminuiu pelo maior volume no período de um ano desde que registros comparáveis começaram a ser feitos em 1950: uma queda de 837 mil pessoas nos 12 meses anteriores a 1º de outubro de 2023.

Essa queda representa uma redução diária média de 2.293 pessoas, ou pouco menos de 96 por hora.

O mesmo relatório, publicado pelo Ministério dos Assuntos Internos e Comunicações, mostrou que a população total do Japão era de 124,3 milhões em outubro de 2023 —a redução é de 595 mil em relação ao ano anterior e após ajuste com níveis constantemente crescentes de trabalhadores imigrantes, estudantes estrangeiros e residentes permanentes estrangeiros.

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