Cooperativas de Produção + Cooperativas de Crédito Rural: Conquistas de Mercado dos Bancos

As carteiras das três maiores cooperativas de crédito que atuam no agronegócio devem aumentar significativamente na safra 2023/24, a despeito das intempéries e desafios enfrentados pelos agricultores. Crescem abocanhando fatias de mercado que pertenciam às instituições financeiras tradicionais até poucas safras.

As cooperativas de crédito estão provocando uma “revolução silenciosa”. Nas feiras agrícolas, porém, essas organizações disputam atenção lado a lado com gigantes, como o Banco do Brasil.

“A gente cresce na crise”, afirma Gustavo Freitas, diretor-executivo de crédito do Sicredi, a maior cooperativa de crédito rural do país, em entrevista à reportagem, durante a Show Rural Coopavel, realizada em Cascavel (PR).

Na safra 2023/24, o Sicredi esperava emprestar quase R$ 60 bilhões ao setor, um aumento de 17% em relação à temporada passada. O crescimento até agora está mais próximo dos 10% — ainda um bom volume, dadas as circunstâncias atuais.

A combinação de preços das commodities agrícolas em queda, taxas de juros elevadas e a quebra da safra de soja faz o produtor rural pensar duas vezes antes de investir. Segundo ele, os agricultores esperavam que os efeitos do El Niño fossem mais pontuais, mas o fenômeno se mostrou mais disseminado e aleatório.

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Cooperativas fazem repasse do BNDES para MPME e MEI

As cooperativas de crédito ampliaram a participação como agentes repassadores de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A fatia das cooperativas nos repasses totais do banco de fomento alcançou uma marca inédita no ano passado. Elas representaram 13,6% dos R$ 174,5 bilhões aprovados para todas as operações de crédito do banco – diretas e indiretas – em 2023. Em 2013, essas instituições representaram apenas 1% dos R$ 239,6 bilhões em aprovação.

O montante das aprovações por meio de cooperativas de crédito ou bancos cooperativos disparou 811,5% em dez anos: passou de R$ 2,6 bilhões em 2013 para R$ 23,7 bilhões em 2023.

O BNDES realiza dois tipos de operações financeiras. As diretas, como diz o nome, são contratadas diretamente com o BNDES, geralmente por empresas de grande porte. Já as indiretas são realizadas por meio de instituições financeiras credenciadas, como bancos comerciais públicos e privados e cooperativas de crédito.

No Brasil, as cooperativas de crédito são supervisionadas pelo Banco Central (BC) e oferecem os mesmos tipos de produtos e serviços de um banco comercial, tendo depósitos garantidos pelo Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), criado em 2014.

O país conta atualmente com 823 cooperativas de crédito e dois bancos cooperativos, segundo dados do BC. São, ao todo, cerca de 16 milhões de brasileiros cooperados e 9.122 mil agências físicas em território nacional.

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BNDES destina os desembolsos a projetos para o aumento da capacidade produtiva do país, enquanto a maioria dos recursos do mercado de capitais são para capital de giro e refinanciamento de passivos

O mercado de capitais vem ganhando importância como fonte de financiamento das empresas brasileiras e, no ano passado, alcançou participação recorde na dívida corporativa. Apesar das mudanças de governos e ciclos econômicos, esse tipo de operação tem visto sua fatia crescer no volume captado pelas companhias nas duas últimas décadas, à medida que caem a fatia do BNDES e dos bancos.

Avanços regulatórios e o chamado “financial deepening”, quando os mercados ganham mais abrangência e volume, significam esse ser um caminho sem volta. No entanto, o Brasil ainda está longe da situação de países desenvolvidos, onde essas fontes de financiamento são bem maiores que o crédito bancário.

A participação de recursos provenientes do mercado de capitais na dívida consolidada das companhias, que era de 21,5% em 2012, praticamente dobrou para 42,4% em 2023, maior patamar histórico. Os dados fazem parte de novo estudo do Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec-Fipe). Enquanto isso, a participação do crédito bancário livre caiu de 42,8% para 37%, no mesmo período, e a dos recursos tomados no BNDES baixou de 28,2% para 10,2%, o menor nível desde o início da série, em 2005.

Olhando de uma forma mais abrangente, o mercado de capitais respondeu por 55,5% da captação doméstica líquida das empresas em 2023. Nesse caso, incluídas na conta não apenas emissões de títulos de dívida, como debêntures, mas também ofertas de ações.

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Crédito Ampliado (SFN + TD + Dívida Externa) X SFN

Carta IEDI 1256 – 28/04/24

O crédito, quando ofertado em condições adequadas e utilizado com responsabilidade, é uma poderosa alavanca do crescimento econômico, pois permite aos agentes econômicos a realização no presente de seus projetos, seja de investimento, seja de consumo, gerando demanda às atividades produtivas.

De acordo com os dados coletados pelo BCB, as condições creditícias do Brasil permaneceram pouco favoráveis a esta dinamização da atividade econômica ao longo da maior parte de 2023. Muito disso devido à diretriz de política monetária, que para combater a inflação, aumentou juros, buscando estreitar o crédito e, consequentemente, a demanda da economia.

No final do ano, contudo, houve sinais incipientes de melhora, que podem ganhar robustez com a tendência de queda das taxas de juros e com medidas de política pública, além dos desdobramentos positivos advindos do mercado de trabalho.

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Mercado de Capitais: re-evolução ruidosa pela louvação dos neoliberais

Maílson da Nobrega, ex-ministro da Fazenda (1988-89) e sócio da Tendências Consultoria, inaugurou a Era Neoliberal no Brasil. Louva o que chamou de “Revolução Silenciosa do Mercado de Capitais” (Valor, 01/04/24).

“Duas potências econômicas mundiais sugiram na Europa nos séculos XVIII e XIX: Holanda e Inglaterra, respectivamente. A primeira beneficiou-se de uma revolução na indústria naval, que lhe permitiu dominar o comércio mundial; a segunda ascendeu graças à Revolução Industrial. O êxito desses países tem, entre outras, uma causa comum, qual seja uma revolução em seus mercados de crédito e de capitais, em boa parte devido à proteção dos direitos de propriedade e ao respeito a contratos, garantidos por um Judiciário independente.

O economista americano Ross Levine, no artigo “Financial Development and Economic Growth” (1996), afirmou que “a evolução dos mercados financeiros e de suas instituições constitui uma parte indissociável do processo de crescimento”. “A Revolução Industrial teve que esperar a revolução financeira”, afirmou.

Em outro artigo (“Finance, Growth, and Inequality”), de 2021, Levine assinalou que “o desenvolvimento financeiro acelera o crescimento, pois aumenta a eficiência na alocação de recursos, apoia a mudança tecnológica e reduz disparidades de renda”.

O professor Carlos Antônio Rocca analisou esse trabalho no artigo “Funcionalidade do Sistema Financeiro e Crescimento Econômico” (Cemec, 2022). Destacou trecho no qual Levine assevera que “a evidência preponderante é a de que o desenvolvimento financeiro acelera o crescimento econômico, não por aumentar a taxa de poupança, mas por elevar a eficiência econômica da alocação de recursos e por apoiar a mudança tecnológica”.

No Brasil, a revolução financeira demorou a chegar, inibida pela presença dominante do Banco do Brasil e pela desconfiança da classe política sobre os bancos privados. Mauá fundou o segundo Banco do Brasil (o atual é o terceiro), mas inúmeras pressões o levaram a transferir o controle para o governo.

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Desalavancagem Financeira Continua

Mesmo com o início do ciclo de afrouxamento monetário, ainda não se vê melhora significativa na situação das empresas. Amargam queda nas vendas e nas margens de lucro bruto.

Estudo do Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec-Fipe) mostra: a quantidade de companhias de capital aberto sem conseguir cobrir as despesas financeiras com sua geração de caixa é grande, e os indicadores devem piorar nos próximos meses.

Esse é o efeito de um período de juros ainda elevados. No entanto, diz o levantamento, os gastos com encargos financeiros têm “clara tendência decrescente”, ao mesmo tempo em que a queda nos lucros está menos intensa. Segundo Carlos Antonio Rocca, coordenador do Cemec-Fipe, o cenário deve começar a clarear ainda neste ano.

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Financiamento de Famílias e Exterior para Governo e Empresas

O pico na série temporal do Crédito Ampliado, considerando empréstimos (39%), títulos de dívida (44%) e dívida externa (17%), aconteceu no ano inicial do distanciamento social com política de crédito fácil, devido à pandemia: 157% do PIB. No ano passado, caiu para 143% do PIB, demonstrando uma desalavancagem financeira (corte no endividamento).

De 2017 a 2023, empréstimos do sistema financeiro nacional mantiveram-se em torno da média de 37% do total, títulos de dívida aumentaram de 41% para 44% e houve queda da participação relativa de endividamento externo de 20% para 17%. O mercado de capitais contribuiu relativamente mais: títulos de dívida pública foram 33% do total, títulos de dívida privada 6% (contra 4% em 2017) e securitizados 5% (diante de 2% em 2017) do total.

Estes números demonstram uma autonomia relativa do sistema financeiro nacional diante do internacional. O problema brasileiro é a falta de autonomia tecnológica.

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Mariana Mazzucato contra o Sistema Financeiro

Mariana Mazzucato é uma economista ítalo-americana-britânica desenvolvimentista. Infelizmente, em seu livro O Valor de Tudo: Produção e Apropriação na Economia Global (2018), ela se rebaixa ao nível dos autores denunciantes da “financeirização” do capitalismo contemporâneo, em uma visão reacionária, isto é, reagindo contra o avanço da história. O tempo não é reversível

Coloca-se em suposta defesa da conservação da Teoria do Valor-Trabalho marxista. Está em via de extinção, devido ao adeus ao proletariado com a robotização e/ou a automação das linhas de montagens na indústria.

Demonstrando desconhecimento de causa, ela insiste em falar em “setor financeiro”. Deveria sim tratar de “sistema financeiro”, porque todos os agentes econômicos fazem parte dele, seja como clientes, seja como entidades participantes, porque é útil!

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Fim de Ciclo de Desalavancagem das Empresas no Brasil

O Brasil viveu em 2023, com a forte crise de crédito, a fase final do segundo maior ciclo de desalavancagem corporativa nos últimos 15 anos. A conclusão é de relatório da JGP, que vê o início do processo em 2021, com o acentuado ciclo de aperto monetário que elevou a Selic de 2% a 13,75% em agosto de 2022. Dados do Banco Central mostram que a relação entre o saldo de crédito bancário para empresas caiu de 23,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em dezembro de 2020 para 20,6% em outubro deste ano. É o menor patamar desde março de 2020.

Parte da necessidade de financiamento foi suprida pelas emissões no mercado de capitais, e especialistas dizem que o pior do aperto já passou, mas 2024 não será livre de surpresas: terá ajustes em empresas que não adequaram seus balanços e podem representar mais riscos de prejuízos a seus credores.

A expectativa é de um cenário de maior previsibilidade em 2024 e um vento mais favorável vindo da queda de juros no mundo todo. Os sustos, portanto, deixarão de ter influência conjuntural e ficarão restritos a aspectos estruturais, como modelo de negócio, nível de endividamento e qualidade da governança.

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Mercado de Capitais supera Poupança como Fonte do financiamento imobiliário

O volume de recursos originado no mercado de capitais superou, pela primeira vez na história, a participação da poupança na estrutura de “funding”, ou seja, das fontes de recursos para o crédito imobiliário. Dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) mostram que os instrumentos de financiamento privado, como certificados de recebíveis imobiliários (CRI), fundos imobiliários (FII) e os títulos de captação bancária, como as letras de crédito imobiliário (LCI) e as letras imobiliárias garantidas (LIG), aumentaram a participação na estrutura de funding de 24% no fim de 2021 para 38% no término do primeiro semestre de 2023, com saldo total de R$ 787 bilhões. Nesse mesmo período, a fatia da poupança encolheu de 49% para 36%, com estoque de R$ 738 bilhões.

Mesmo com as saídas líquidas da caderneta, o total de recursos disponíveis às linhas de financiamento aumentou em 27% de 2021 para cá. O montante subiu de R$ 1,62 trilhão há dois anos e meio para R$ 2,06 trilhões no início da segunda metade de 2023.

As estatísticas são um sinal inequívoco de que o crédito imobiliário brasileiro vem passando por uma transformação estrutural nos últimos anos. Da mesma forma que especialistas têm tentado encontrar explicações para a surpreendente força da economia mesmo em ambiente de taxas de juros tão restritivas, o financiamento habitacional segue caminho semelhante: o setor tem mostrado resiliência que não encontra paralelo nos ciclos anteriores de aperto monetário.

Segundo projeções da Abecip, a concessão de novos empréstimos para aquisição da casa própria deve fechar 2023 com o terceiro melhor volume da história, atrás apenas de 2021 e 2022. “Nesses últimos três anos, o mercado imobiliário mudou de patamar no Brasil, seja no crédito imobiliário ou em comercialização”, afirma o diretor de negócios imobiliários do Santander, Sandro Gamba, recém-eleito presidente da entidade para o biênio de 2024 a 2025.

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Acesso a Pronaf é limitado e desigual

Apenas 15% dos agricultores familiares brasileiros têm acesso ao crédito rural oficial, de acordo com uma pesquisa do Climate Policy Initiative/Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (CPI/PUC-Rio). O índice é similar à média de beneficiários da agricultura empresarial. Segundo o órgão, a liberação de financiamentos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) ocorre de forma “limitada e desigual” no país e tem fomentado a produção de grãos.

A pesquisa identificou o acesso ao crédito rural ser concentrado em regiões, o que amplifica as desigualdades sociais no campo, e beneficia produtores de maior porte em detrimento de outros. O estudo mostrou: 29% dos agricultores familiares da região Sul obtêm financiamentos, enquanto no Norte o percentual é de apenas 9%.

A pesquisa analisou dados de 2013 a 2022 de desembolsos do Pronaf e os relacionou com as informações do Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) de 2017. Os contratos do Pronaf no Sul tiveram valor médio por hectare de R$ 1,4 mil, 18 vezes maior que o ticket da do Norte, de R$ 83, no ano de 2016. Em todo o período, o foco do Sul é no custeio. O Nordeste, no entanto, liderou o acesso aos investimentos nos últimos dez anos.

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Contas de água, luz e gás lideram inadimplência em 6 estados: Raio-x de Dívidas

O atraso no pagamento de água, luz e gás lidera a lista da inadimplência em seis estados brasileiros. Neles, as contas básicas superam a pendência no cartão de crédito, considerado o vilão das dívidas no país.

No Amapá e no Acre, metade dos negativados tem em aberto faturas de serviços essenciais. Juntam-se ao grupo Rondônia, Ceará, São Paulo e Mato Grosso.

No geral, o percentual de adultos com alguma inadimplência, do atraso de pagamentos no varejo à conta de celular, chega a 46,5% em setembro.

A análise da Folha (12/10/23) foi feita com base em dados da Serasa, birô de crédito que recebe de credores informações sobre dívidas de clientes, e da projeção populacional do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A instituição já aponta o aumento da renegociação de dívidas a partir do programa Desenrola, do governo federal. No entanto, as contas básicas estão em patamares elevados e representam 25% das pendências financeiras no país.

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