Economia no Cinema: Guias para Autodidatismo

Objetivo: delinear uma alternativa ao ensino tradicional de Economia via livro-texto: usar filmes para aplicar conhecimento econômico em suas interpretações. O filme é um meio visual e de áudio poderoso e atraente para a transmissão de informações. Complexos e, por vezes, intrigantes conceitos econômicos podem ser mais facilmente digerido por alunos cinéfilos.

Eles se beneficiam de exemplos retirados de filme para ilustração de temas cuja análise pode ser reforçada através de discussão em classe. Conceitos podem ser introduzidos com de leitura de livros, reforçados através do cinema e, em seguida, fixados através de discussão.

A intuição e a imaginação dos sedentos de cultura estarão envolvidos nesse processo por meio da ação de relacionar os conceitos aprendidos, lendo ou assistindo aulas/palestras, com a “vida no mundo real”, retratada de maneira artística nos filmes. Assim estimulados, os aprendizes se moverão em direção à apropriação intelectual do tema apresentado, o que implicará em retenção mental, em longo prazo, de conceitos econômicos.

Épicos são o gênero de filme que mostra determinada interpretação cinematográfica do passado. Assistindo-os, o estudante também pode aprender História e Economia. Eles ilustram com imagens o que os autores de livros pesquisaram e sugeriram à imaginação ou à fantasia do criador artístico. É instrumento complementar de estudo.

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10 Filmes sobre Mercado Financeiro

A crise de 2008 inspirou vários filmes de ficção e documentários, mas bem antes desse abalo econômico que afetou o mundo inteiro, diversas produções já viam no

mercado financeiro um cenário ideal para tramas que abordam a ética, a ganância e os limites do empreendedorismo.

Não por acaso, muitas dessas produções são baseadas em fatos reais e muitas ganharam prêmios como o Oscar. Confira, a seguir, uma seleção feita pelo Valor (16/04/22) de dez filmes que podem ser vistos no streaming.

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10 filmes sobre empreendedorismo

Personagens da Marvel à parte, quais são os super-heróis dos dias de hoje? Muitos não irão concordar, mas a julgar pela quantidade de filmes séries que abordam a vida de emprendedores, é de imaginar que as histórias de pessoas que, por meio de trabalho duro e ideias e práticas inovadoras (além de golpes de sorte), deram início a negócios rentáveis a ponto de enriquecerem.

Os empreendedores têm um longo namoro com as telas de cinema, paixão reacendida em tempos de redes sociais pelos novos magnatas que são verdadeiros astros pop. Alguns são figuras de inspiração e modelos positivos de vida; outros servem como lembretes de que o capital não deveria avançar sobre valores humanos básicos. O capitalismo, lembram os filmes citados nesta lista do Valor, constitui não apenas um sistema econômico, mas um modo de vida.

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Hollywood há 100 anos conta as mesmas seis histórias

 

“Críticos culturais, estudiosos da narrativa, professores de oficinas de escrita criativa e demais especialistas no tema não chegam a um acordo sobre quantas são (três?, cinco?, sete?). Mas todos assumem que, ao menos em nosso âmbito, o da cultura ocidental, há uma série de tramas básicas, esquemas narrativos ou meta-argumentos. Neles se encaixam quase todas as ficções contemporâneas, dos romances ao cinema, passando pelo teatro, as séries e até mesmo a ópera.

Hollywood, em especial, costuma ser acusada, não sem fundamento, de usar e reciclar deliberadamente esses padrões básicos, essas histórias contadas milhões de vezes. Combina-os, amadurece-os, enriquece-os e os serve de novo como se fossem pratos recém-cozidos, e não um guisado rançoso feito de sobras roídas até a náusea.

Já os formalistas russos, encabeçados por um dos pais do moderno estudo da narrativa, Vladimir Propp, insistiam em que a frase do Eclesiastes, “nada novo sob o sol”, é tão desanimadora quanto exata. A originalidade é uma pretensão ingênua e vazia. Tudo já foi inventado. Após milênios de tradição narrativa, seja oral, escrita ou audiovisual, todas as histórias essenciais já foram contadas, e a única coisa que resta é combiná-las e refiná-las, se possível de um jeito criativo.

Propp distinguia 31 funções narrativas básicas, ou seja, 31 elementos concretos. Combinados entre si, servem de base ou de estrutura profunda a qualquer narração. Da combinação entre estes elementos sairiam todas as meta-histórias concebíveis.

Depois de repassar de maneira superficial o que se escreveu a respeito, chegamos à conclusão (provisória, claro, pois o tema é complexo e não se esgota em um par de parágrafos) as seis abaixo são as que o cinema em geral, e Hollywood em particular, vem nos contando toda vez, lá se vai mais de século. Continuar a ler

30 livros nacionais inspiradores de roteiros de filmes

O site Design do Escritor postou em 30 de maio de 2019 uma lista de 30 livros transformados em roteiros de filmes. Como penso retomar a experiência de ensinar Economia com Cinema, no próximo ano, registro aqui essa lista inspiradora para eu organizar um Programa e Bibliografia. Aliás, no último curso sobre Brasil no Cinema, usei o Policarpo Quaresma e a Hora da Estrela.

É comum classificar filmes por roteiros originais ou roteiros inspirados em obras literárias. Essas adaptações muitas vezes causam certo incômodo aos apaixonados pelos livros. De qualquer forma, o ponto positivo sempre fica para a cultura do cinema e do livro. Eles se conectam e podem trazer mais leitores e cinéfilos para ambos. Quem é culto sempre aprecia o trio livro, cinema e música!

Confira abaixo 30 livros nacionais com roteiros adaptados para cinema. Continuar a ler

22 de Julho: todos os eleitores deveriam o assistir para ver o que é a extrema-direita

Se você conhece alguém com a pretensão de votar no Bolsonaro, sugira ele/ela assistir o filme “22 de Julho” antes para uma reflexão mais profunda a respeito de uma possível consequência desse ato: dar poder à extrema-direita. Com estreia recente na Netflix, “22 de Julho” revive o pior ataque terrorista da história da Noruega, ocorrido em 2011.

Organizadas pelo norueguês de extrema-direita Anders Behring Breivik, duas ações deixaram 77 mortos — a maioria deles jovens do Arbeiderpartiet (Partido Trabalhista). Eles estavam em um acampamento de verão na ilha de Utoya. O propósito de Breivik, um fanático ultranacionalista de postura fundamentalista cristã e anti-islâmica, era contra-atacar o que ele chama de “invasão” de imigrantes muçulmanos. Tinha um discurso de ódio contra o multiculturalismo.

Ao saber que o candidato à Presidência pelo PSL representa o avanço da extrema-direita no Brasil, o diretor britânico Paul Greengrass conta ter filmado “22 de Julho” justamente para refletir sobre a “atual insurgência do radicalismo conservador”“Se deixarmos esse fogo queimando, esperando que apague sozinho, ele vai se alastrar”, diz o cineasta de 63 anos.

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O Clã: Uma Família Direitista

O clã (Foto: Divulgação)O clã Puccio reza antes da refeição. Enquanto isso, no porão, um refém passa fome.

Ariane Freitas e Ruan de Sousa Gabriel (Exame, 10/12/2015) entrevistaram o diretor do filme argentino O Clã, maior bilheteria de seu país, que mostra a privatização da atividade de sequestro/tortura na transição do Estado ditatorial para o neoliberal.

O ano de 2015 foi bom para cinema latino-americano.

Em Que horas ela volta?, Anna Muylaert, filmou o Brasil a partir da porta da cozinha e retratou as regras veladas que regem a relação entre patrões e empregados e a mudança com a mobilidade social ocorrida no País. A crítica internacional elogiou o filme, que tem boas chances de comparecer à festa do Oscar.

O clube, do diretor chileno Pablo Larraín, aborda os escândalos sexuais e políticos da Igreja Católica, ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim e concorre a um Globo de Ouro.

O júri do Festival de Veneza, presidido pelo cineasta mexicano Alfonso Cuarón, premiou Desde Allá, do cineasta venezuelano Lorenzo Vigas, uma reflexão sobre a homossexualidade e o estereótipo do pai latino, sempre ausente.

A terra e a sombra, do colombiano César Augusto Acevedo foi premiado com a Camera d’Or, concedida a diretores estreantes peloFestival de Cannes, e estreia por aqui na semana que vem.

O filme argentino O clã, de Pablo Trapero, chega finalmente aos cinemas brasileiros e encerra com chave de ouro um ano que foi bem melhor na ficção.

O clã conta a sinistra e real história dos Puccio, uma família de um sequestrador e torturador de presos políticos que “privatiza” essa sua atuação quando o país transita para o neoliberalismo.  No começo dos anos 1980, sequestrou e assassinou vizinhos em San Isidro, bairro nobre nos arredores de Buenos Aires.

Os Puccio formavam uma família “respeitável”, daquelas que reza unida antes das refeições. Aquele tipo de gente ignorante-útil que “bate-a-panela” a favor de golpes da direita como vemos também no Brasil. Lembre-se das Marchas da TFP (Tradição, Família e Propriedade) antes do Golpe de Estado em 1964. De novo?!

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O Nascimento de uma Nação Racista e a Conquista dos Direitos Civis pelos Afroamericanos

Rodrigo Suzuki Cintra é filósofo e doutor em direito pela USP, leciona na Universidade Mackenzie. Publicou belo artigo-resenha cinematográfica, propiciando conhecimento sobre a História do Cinema e ilustrando as práticas da direita racista. É interessante contrapor o filme “O Nascimento de Uma Nação” ao filme recente “Selma” (2014), que registra os 50 anos de uma conquista real da cidadania: o direito ao voto dos afrodescendentes nos EUA.

Em outros termos, esse direito político só foi conquistado, nos EUA, 100 anos após o fim da Guerra Civil, quando houve lá a extinção da escravidão!

O filme Selma mostra os bastidores da marcha das cidades de Selma até Montgomery, no Alabama, em 1965. O episódio é um momento crucial na luta pelo direito de voto dos negros nos EUA, que não era plenamente garantido até então. “Selma” mostra bem a dificuldade de conciliação das muitas posições antagônicas de cada grupo no evento: governo federal (o texano presidente Lyndon Johnson sucessor de John Kennedy), estadual (o racista George Wallace do Alabama), polícia conservadora local, população racista do Alabama, brancos progressistas que aderiram à luta, movimentos negros que defendiam a violência (Malcom X e os Panteras Negras) e especialmente os ativistas liderados por Martin Luther King Jr.. Foram muitas pequenas vitórias e derrotas até a marcha triunfante.

“O discurso começa mal e termina pior. No entanto, é filme genial e uma das maiores referências da história do cinema. “O Nascimento de uma Nação“, do diretor americano D. W. Griffith (1875-1948), completa cem anos e ainda dá o que falar. A questão gira em torno de uma dupla constatação. Formalmente, do ponto de vista estritamente técnico, o filme é absolutamente inquestionável como referência para a linguagem cinematográfica. Porém, o conteúdo da história narrada é altamente problemático: trata-se de um filme racista.

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