Gêneros Musicais e Ideologias

Lucas Breda (FSP, 30/10/22) informa: estilo musical dominante no Brasil, o sertanejo é hegemônico também entre os jovens do país. Além disso, contrariando o que se imagina, o gênero não está diretamente ligado a quem se identifica à direita no espectro político. Ao menos, não entre quem tem de 15 a 29 anos.

É o que mostra uma nova pesquisa do Datafolha, realizada em julho, em 12 capitais de todas as regiões brasileiras, que ouviu mil jovens.

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Brasil: isolado até musicalmente no mundo

Daniel Mariani, Simon Ducroquet e Fábio Takahashi (FSP, 14/10/19) informam: fãs chineses e japoneses voam para Seul atrás de cirurgias plásticas, de modo a deixá-los com queixos afinados, parecidos com ídolos do K-Pop, estilo musical coreano. Difícil imaginar o Brasil recebendo latinos que queiram se parecer com artistas sertanejos ou do funk.

Análise feita pela Folha na lista de sucessos musicais no mundo todo, na plataforma Spotify, mostra que canções que chegam ao topo no Brasil tendem a não aparecer como hits em outros países.

Por essa métrica, os ouvintes brasileiros são os mais isolados, considerando os 51 países estudados. No restante do mundo, há uma tendência de as listas de hits serem compartilhadas entre diferentes nações.

O estudo da Folha considerou 43,4 mil músicas que entraram nas listas diárias de 200 canções dos países avaliados. A análise abrange o período entre janeiro de 2017 e junho de 2019. Conclusões semelhantes foram encontradas em levantamento com dados do Youtube.

Brasil é o país com menos tem sucessos em comum com outros. Em média, a lista brasileira de hits diários é 19% semelhante a dos demais 50 países analisados no Spotify. A média na amostra é de 31%.

No infográfico acima, quanto mais próximo o país está do Brasil, mais ele tem listas de hits parecida com a brasileira.

Questão-chave não tratada nesta reportagem: sucesso popular é sinal de qualidade musical?! A boa MPB, na tradição do samba à bossa-nova, foi sucesso popular? Jamais…

Músicas ao Redor do Mundo: Playing for Change

Comemoro meu aniversário de 68 anos compartilhando o prazer de escutar e ver os vídeos-musicais de “Playing for Change“. Nessa idade, finalmente, descobri esse projeto multimídia criado com o objetivo de unir músicos do mundo inteiro em defesa de mudanças globais. A música universal (hits populares) é a linguagem capaz de unir pessoas de todo o mundo!

Integra o projeto a Playing for Change Foundation, uma organização não-governamental. Ela tem construído escolas de música em comunidades carentes.

O projeto produz discos e vídeos com músicos como Grandpa Elliot e Keb’Mo junto a artistas desconhecidos de várias partes do mundo, tocando versões de canções conhecidas e composições próprias. Já foram lançados três discos: Playing for Change, PFC 2 e PFC 3.

Playing for Change é um movimento criado para inspirar e conectar o mundo através da música, nascido da ideia de a música ter o poder de romper fronteiras e superar distâncias entre as pessoas. Seu foco principal é gravar e filmar músicos atuantes em seus ambientes naturais e combinar seus talentos e poder cultural em vídeos inovadores chamados de Músicas ao Redor do Mundo ou Songs Around the World.

As montagens sincronizadas de músicas e sons com solos em diversos lugares em todo o mundo são geniais! Fora a surpresa de aparecer tanto desconhecidos super-músicos quanto conhecidos superstars como Keith Richard, Buddy Guy, David Crosby, Jack Johnson, Robbie Robertson, entre outros.

A criação dos vídeos motivou a formar a Banda Playing For Change – uma representação tangível e itinerante de sua missão, com músicos reunidos ao longo de nossa jornada e estabelecer a Fundação Playing For Change – uma organização sem fins lucrativos dedicada à criação de música e escolas de arte para crianças em todo o mundo. Através desses esforços, pretendem criar esperança e inspiração para o futuro do nosso planeta.

Leia mais:

https://playingforchange.com/home-pt/

Percursos Musicais entre Espaços e Tempos

Fiquei tão satisfeito com esse feito, que já estou com saudade de “quando eu era professor”, nesse novo ano pré-aposentadoria. Consegui Licença-Prêmio (“privilégio” depois de uma vida dedicada a ensinar e aprender, passando por todos os concursos públicos com títulos e publicações) e férias acumuladas para enfrentar novos desafios: dar um acabamento literário a três livros que montei com base em +/- 300 artigos pessoais que aqui postei (+/- 600 páginas), dois livros do meu Memorial para Titular (+/- 250 páginas), e minha Cartilha de Finanças Comportamentais (+/- 100 páginas). Também quero repetir a experiência de EaD, inédita para mim antes de gravar um curso sobre “Bancos Públicos no Brasil”, agora sobre o tema Finanças dos Trabalhadores. Além disso, quero ter mais tempo para atender convites para o debate público no próximo ano eleitoral. Só.

Foi com satisfação que obtive novas informações propiciadas por caderno especial (FSP, 15/12/17) com o mapeamento da popularidade dos diversos gêneros musicais no Brasil (veja figuras acima). Expressa também meu percurso no tempo e entre espaços.

Eu era adolescente quando morava em BH nos anos 60: adorava rock e blues. Apreciei bossa-nova e MPB no Rio de Janeiro. Passei a gostar mais de reggae e dub em férias na Lagoa da Conceição/Praia Mole de Florianópolis, embora já o escutasse quando visitei Belém do Pará e São Luís do Maranhão. Tenho grande satisfação tanto com o humor quanto com o forró nordestino. Gostava de escutar novos(as) cantores(as) de jazz em Brasília. O funk paulista conheci durante o curso citado. Depois de 32 anos de Campinas, finalmente, fiz uma “desconstrução” dos meus preconceitos em relação à música caipira, mas ainda não cheguei a tanto “populismo” 🙂 : conhecer o “sertanejo universitário” e o “feminejo”. Outro desafio é escutar a mistura latino-americana/brasileira do reggaeton.

Esse percurso é lógico no espaço e emocional no tempo! Eu gosto de todos os gêneros de raízes africanas que misturaram seus ritmos com músicas europeias! Eu gosto mesmo é da mistura das etnias humanas sem discriminação!

Gustavo Alonso é historiador e autor do livro “Cowboys do Asfalto: Música Sertaneja e Modernização Brasileira” (ed. Civilização Brasileira, 2015). Escreveu um artigo interessante para o Especial da Folha de SP (15.dez.2017) que mapeou a popularidade regional dos distintos gêneros musicais através da audiência do YouTube. Pós-caipira, “o Sertanejo é a face recente da antropofagia das massas” no Brasil. Reproduzo-o abaixo.

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Hit Latino Global: Maior Número de Acessos do “Streaming” de Música Digital.

Durante uma apresentação audio-oral no curso Economia no Cinema e na Música: Cidadania e Cultura Brasileira meus alunos me apresentaram o vídeo acima, chamando atenção para o sucesso da música latina. Embora eu aprecie muito reggae, ska, rock steady, dub, entre outros ritmos jamaicanos, caribenhos ou latinos, o reggaeton eu ainda não conhecia. Depois de ver o vídeo, fiz um comentário de macho, mas não machista, o contrário da misoginia (a repulsa, desprezo ou ódio contra as mulheres): — “Gostei mais da moça do vídeo do que da música…” 🙂

Anna Nicolaou (Valor, 21/07/17) reporta que, a cada primavera, executivos do setor fonográfico recrutam candidatos à música do verão. Abrem, com isso, ricos filões de marketing na esperança de obter um sucesso onipresente em restaurantes, rádios e sistemas de som de carros.

A principal canção participante deste ano tem uma origem impensável: uma música em espanhol inspirada no reggaeton, gravada por Luis Fonsi, um cantor porto-riquenho de 39 anos conhecido por baladas românticas lentas, com a participação de Daddy Yankke, um “rapper” porto-riquenho.

Em poucas semanas, “Despacito“, distribuída pela Universal Music, da Vivendi, se propagou de discotecas colombianas a shoppings de Londres, encabeçando as listas dos maiores sucessos em 35 países, do Reino Unido até a Rússia. No dia 19 de julho de 2017, a canção alcançou um novo marco: 4,6 bilhões de acesso em serviços de música pela internet como o Spotify — o maior número da história do “streaming” de música digital.

O fato de a canção de maior sucesso do mundo ser um lançamento em espanhol pela primeira vez em décadas não é uma coincidência, dizem executivos. Em vez disso, o sucesso de “Despacito” reflete a realidade da distribuição de gravações em 2017. Continuar a ler

Evolução da Indústria Musical: Revolução do Streaming

O Spotify, empresa provedora de serviço de transmissão de música, viu crescer de forma explosiva o número de usuários pagos no ano de 2016, mas também dobrou o tamanho da sua perda líquida. A companhia terá de pagar um mínimo de 2 bilhões de euros (US$ 2,23 bilhões) em royalties pela transmissão das músicas nos próximos dois anos, devido a um acordo fechado recentemente.

Como outras companhias de mídia, como a Netflix, o Spotify investiu em acordos com provedores de conteúdo e criadores para atrair ouvintes e assinantes. A empresa está se preparando para abrir o capital neste ano. Os potenciais investidores acompanharão de perto o crescimento de usuários totais e pagos, pois esse número revela um potencial de rentabilidade.

A receita em 2016 subiu 52%, para 2,93 bilhões de euros. O Spotify registrou no período um prejuízo líquido de 539,2 milhões de euros, ante um prejuízo de 231,4 milhões de euros em 2015. A maior parte do prejuízo foi atribuída ao aumento dos custos financeiros.

A companhia informou que o total de assinantes cresceu 38%, para 126 milhões, enquanto o grupo de pessoas que pagam pelo serviço premium cresceu 71%, para 48 milhões. O serviço de transmissão de música gera quase 90% de sua receita de assinaturas, ainda que os assinantes representem a minoria dos usuários. O serviço gratuito é suportado por anúncios.

A indústria de música viu sua receita global cair 60% desde 2000. Ela esperava que os serviços de transmissão paga cresceriam o suficiente para compensar o declínio nas vendas de CD e download de músicas. Nos últimos anos, o número crescente de serviços de transmissão competem pelos ouvintes pagantes, incluindo Pandora Media e Apple Music. Em 2016, o serviço de transmissão respondeu por 51% da receita do mercado de música, que cresceu mais de 11% no período, para US$ 7,7 bilhões, de acordo com a Associação das Gravadoras dos EUA.

Pois bem, diante desse intrigante assunto da Economia Criativa contemporânea, minha ex-aluna Júlia Gallant Ferreira escreveu uma excelente monografia sob orientação do meu colega Márcio Wohlers de Almeida (clique para download): Júlia Gallant – Evolução da Indústria Musical – Revolução do Streaming. Campinas, IE-UNICAMP, 2017.

Ela demonstrou notável iniciativa e capacidade de pesquisa ao tratar de tema inédito na literatura acadêmica. Na minha participação na banca de julgamento, expressei meus votos para ela continuar a pesquisa na pós-graduação, embora eu ache que seu talento provavelmente será disputado por quem a conhecer no mercado profissional.

Edito abaixo o resumo feito por ela em sua primeira versão. Continuar a ler

Música Africana

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Para acompanhar a leitura deste post, sugiro ligar a Music Player na coluna à esquerda deste blog ou buscar (por palavra-chave) no Spotify – https://www.spotify.com/br/ — a playlist que denominei “África: Raízes da Música” em nome do usuário 12142604272

A África é um continente com vários tipos de diversidade étnica, cultural e linguística. Uma descrição da música africana é quantidade de variedade de expressões. Existem semelhanças regionais entre grupos desiguais, assim como as tendências que são constantes ao longo do tempo do continente africano.

A música da África é tão ampla e variada como as muitas regiões da África.

Quem estudou nações de candomblé na Bahia,  sabe que ele é fruto de descendentes de distintas nações e grupos étnicos africanos, quanto ao seu patrimônio musical específico. Reunindo dados históricos, etnográficos, linguísticos e confrontando-os com respeito à pertinência relativa a sua origem e às interpenetrações de civilizações, revela-se a existência de permanências e divergências, bem como de um número considerável de empréstimos e influências recíprocas tanto no plano etnográfico como no estritamente musical.

Sinteticamente, encontra-se 20 toques no candomblé: 8 são originários da nação Ketu; 7 originários da nação Jêje; 4 da nação Angola e um total de 15 empréstimos recíprocos. Análise similar tem sido feita nos grandes grupos etno-linguísticos africanos, bem como na música popular da África, correlacionando esta com a denominada música negra ao redor do mundo. É uma questão cultural, logo, os gêneros musicais que mais aprecio têm uma raiz africana: jazz, blues, rhythm and blues, rock, soul, reggae,  dub, samba, bossa-nova, etc.

A África é um grande continente e as suas regiões e nações possuem distintas tradições musicais. A música do norte da África tem uma história diferente da musica da África Sub-saariana. Continuar a ler

Ciga-nos

Mawaca_RUPESTRES_FLORIDO

Na minha convalescença de uma cirurgia do menisco do joelho esquerdo, fiquei de molho nas últimas duas semanas, podendo só me locomover com muletas. Li muitos livros que se empilhavam na minha cabeceira. Suas resenhas aparecerão, gradualmente, sob forma de posts. Também vi dois ou três filmes por dia no Netflix. O terceiro prazer dos meus hobbies – livro, cinema, música – foi pesquisar e escutar músicas no Spotfy. Resultou em um playlist “Música do Oriente Médio” (usuário do Spotfy 12142604272).

Estimulado por essa viagem via literatura pela história e cultura de diversos países, tais como os da África, Oriente Médio e Índia, fui atraído pelo que os eurocêntricos chamam de World Music. Tanta diversidade disponível para sair da mesmice – leia-se “o pop ocidental” – e, mesmo assim, é baixa sua audiência no Brasil! Continuar a ler

Dicas do Trio Música-Literatura-Filme

Prezados seguidores,

acho fantástico estarmos vivendo a revolução tecnológica que permite acesso farto e barato aos três maiores prazeres individuais, que “salvam a vida”, além de carpem-die. Lembremos que “amor salva o dia, música salva a vida”!

O problema deixa de ser dificuldade de acesso e passa a ser o de conseguir dicas ou informações para desfrutar da riqueza cultural disponível. Por exemplo, achei no Spotify a fantástica cantora de músicas iidiche (língua germânica das comunidades judaicas da Europa central e oriental, baseada no alto-alemão do século XIV, com acréscimo de elementos hebraicos e eslavos; ídiche, judeo-alemão) — Chava Alberstein –, que canta na abertura do filme Free Zone (veja acima). Outra pérola que descobri é o grupo The Tiger Lillies que canta Circus Songs (leia ficha abaixo). Uma novidade, que vem da Bielorrússia, é Серебряная Свадьба. O mundo cultural é diverso!

Músicas no Spotify (US$ 6), filmes / documentários / séries de TV no Netflix (R$ 16,90) e livros e-pub (“de grátis”! Veja em Favoritos na aba acima).

Minha sugestão é trocar sua assinatura de jornal impresso (R$ 89,90), cujos colunistas antipetistas só “enchem-o-saco”, por digital (R$ 29,90) e utilizar essa economia de R$ 60 para pagar esses serviços de streaming (~R$ 30).

Consultoria de economista, novamente, “de grátis” 🙂 :

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Mulatu Astatke, o Gênio do Jazz Etíope

Mulatu Astatke

Em certa cena do filme A Grande Beleza, dirigido por Paolo Sorrentino, há uma “esnobada” cultural — tipo “bateu, levou” – de uma socialite sobre outra em festa da alta roda da sociedade romana. Uma comenta que estava na “fase pirandella”, outra responde que apenas estava apreciando o Jazz Etíope. Pensei: o que é isso?! Nunca ouvi!

Fui atrás e encontrei o seguinte post do ótimo blog musical Radiola Urbana, reportagem publicada originalmente no Caderno 2 + Música do jornal O Estado de São Paulo, em março de 2011, quando o gênio do jazz etíope, Mulatu Astatke, desembarcou no Brasil para duas apresentações (memoráveis!) no Sesc Vila Mariana, com ingressos esgotados em menos de duas horas.

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Dub 40 Anos: Lucas Santtana lista 9 Discos Influentes

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Escrito por , no site Na Mira do Groove, há ótimo post para quem, como eu, gosta do dubFortemente associado ao reggae e à cultura jamaicana, o dub faz uso da base baixo e bateria com sobreposições de efeitos criativos dentro das possibilidades de estúdio.

Mais que um gênero musical, o dub é o retrato fiel de uma época de descobertas sonoras, que de certa forma revolucionaram a gravação em estúdio na Jamaica para logo expandir sua influência por todo o mundo musical.

Agora, em 2013, comemora-se os 40 anos deste gênero musical, que se mostra mais influente do que nunca na música brasileira.

Para selar essa data, o músico e compositor Lucas Santtana organizou nos últimos dias 10 e 11 de setembro no Sesc Vila Mariana (São Paulo) o show Dub 40 Anos, que contou com participações de Anelis Assumpção, Thiago França, Bi Ribeiro (Paralamas do Sucesso), Bruno Buarque, Guizado, entre outros (mais detalhes sobre o show, confira esta entrevista para o site Azoofa).

Em meio às correrias com shows e agendas, Lucas Santtana fez uma pequena lista a pedido do Na Mira do Groove de 9 álbuns influentes do gênero, que de alguma forma estão condensados em sua produção musical.

Sem ordem de preferência, o músico foi de Colonel Elliott a Dub Colossus, passando por Adrian SherwoodRhythm & SoundAugustus Pablo e mais. Tem bastante raridade aqui: trabalhos que valem a pena conhecer para expandir o conhecimento sobre o gênero.

A lista completa está abaixo em ordem de ano de lançamento, acompanhadas de algumas informações técnicas.

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